No dia em que o plebiscito pela libertação da Catalunha foi marcada por cenas de violência de policiais e que o Barcelona foi obrigado entrar em seu estádio e enfrentar Las Palmas sem a presença da torcida, apesar do apelo dos jogadores para que o duelo fosse remarcado, o zagueiro Piqué fez um forte desabafo. 

Com palavras duras contra tudo o que aconteceu no domingo, ele mostrou toda a sua decepção e falou até em abandonar a seleção espanhola, caso ele sinta que é "um problema ou um aborrecimento" para algumas pessoas - leia-se, as autoridades oficiais do país.

"Eu creio que posso seguir defendendo a seleção porque muitos na Espanha estão em desacordo com o que aconteceu neste domingo. Mas, se alguém pensa que sou um problema ou um aborrecimento, não tenho problema nenhum e posso deixar a seleção antes de 2018", disse o defensor ao jornal "El País".

"Defender a seleção nacional não é uma questão patriótica. Você tem de ir e dar o seu máximo. Houve muitos jogadores que foram nacionalizados. Não é uma competição de patriotismo, é sobre ir lá e tentar vencer ", acrescentou.

Piqué deu uma longa entrevista para a versão online da publicação e falou também sobre o jogo forçado do Barcelona.

"O Conselho tentou suspender a partida do Barcelona de todas as formas possíveis, mas não pôde. Eles foram ao vestiário e nós debatemos. No final, decicimos jogar. Foi muito difícil fazer isso sem nossos torcedores presentes. Depois de tudo que ocorreu na Catalunha neste domingo posso dizer que é a pior experiência que eu já tive. Eu queria que a partida terminasse o mais rápido possível. A festa pela vitória foi a coisa menos importante hoje", disse ao jornal "El País".

"A Liga Espanhola e o Las Palmas queriam que a partida acontecesse. Havia diversas opiniões e decidimos jogar", explicou, sem manifestar o que achou da decisão dos diretores do Barcelona em manter o jogo. "Eu compreendo perfeitamente o fato de muitos torcedores não entenderem por que jogamos". 

O presidente do Barcelona, Josep Maria Bartomeu, explicou como foi a negociação para tentar adiar a partida contra Las Palmas, no Camp Nou, pelo Campeonato Espanhol, em dia de referendo pela independência da Catalunha. À rádio RAC1, afirmou que o Barça perderia pontos caso não entrasse em campo.

Piqué ainda se manifestou de forma dura sobre os problemas ocorridos durante a votação pela libertação da Catalunha. Durante a votação neste domingo, policiais invadiram os colégios eleitorais, retiraram idosos à força e usaram balas de borracha contra pessoas que tentavam se manifestar contrariamente a ação dos oficiais. Falam-se em mais de 500 feridos na região da Catalunha.

"Hoje, crianças, idosos e famílias inteiras tentaram votar e não conseguira,. Já são seis ou sete anos que as pessoas se manifestam sem violência e todos viram o que aconteceu hoje. Creio que terá consequências", disse, em tom mais forte.

"Eu sou e me sinto catalão e hoje, mais do que nunca, estou orgulhoso de ser catalão. Não houve nenhum ato de agressão, mesmo assim a Polícia Nacional e a Guarda Civil atuaram da maneira como vocês viram", disse, com a voz embargada, segundo a publicação espanhola.

Por fim, Piqué também critiou Mariano Rajoy, presidente do Governo da Espanha. 

"Estamos em um país agora que está na frente de um presidente e uma festa que usa todos os seus meios para mentir. Eles disseram que estavam na frente de uma minoria que queria votar. E foi provado que não é assim. Somos milhões de pessoas. Muitas pessoas na Espanha foram levadas a acreditar que os catalães são os bandidos e não é assim. Os catalães só querem votar ", disparou o zagueiro.

"Por um momento não acreditei, pensei que tentariam parar a votação, mas eles o fariam de forma pacífica. Pelo menos todos viram. É uma das piores decisões deste país nos últimos 40 ou 50 anos. Só separou mais a Espanha. Este é um presidente que tem o nível que ele tem, que vai ao redor do mundo e não sabe falar inglês. Isso é muito difícil", voltou a disparar contra o chefe de Estado.

Piqué concluiu a entrevista com um apelo à população: "Que eles se manifestam pacificamente e que eles cantem, que eles cantem muito alto".

Fonte: ESPN