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Ex-soldado que matou filho de oficial de justiça é condenado há 16 anos de prisão pelo Júri

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Fotos: Graciane Sousa/Cidadeverde.com

Condenação

A maioria do conselho de sentença decidiu pela materialidade do homicídio e autoria do crime atribuída ao acusado. A juíza Maira Zilnar Coutinho fez a dosimetria da pena e condenou Igor Gabriel a 16 anos e 15 dias de reclusão a serem cumpridos em regime fechado.  

Veja sentença na íntegra

Atualizada às 10h23

Seis homens e uma mulher compõem o conselho de sentença que decidirá se o ex-soldado da Polícia Militar, Igor Gabriel de Oliveira Araújo, 24 anos, será absolvido ou condenado pela morte de Alan Lopes Rodrigues da Silva, 26 anos, assassinado em fevereiro de 2016. 

O crime ocorreu em um posto de combustíveis na avenida João XXIII, na zona Leste de Teresina há quase dois anos, onde era comum a aglomeração de jovens durante a madrugada. A vítima era filho de um oficial de Justiça no Piauí. 

Testemunhas que estavam no local do crime são interrogadas pela juíza Maria Zilnar Coutinho, substituta da 1ª Vara do Tribunal do Júri. 

O réu permanece de cabeça baixa e será o último a ser ouvido. No dia do crime ele estava de folga. Os dois se conheciam.

Bastante emocionada, a namorada da vítima foi ouvida como informante. Ela chorou bastante ao relembrar de Alan com quem manteve um relacionamento amoroso por mais de quatro anos. 

"Ele era amigo de todo mundo", disse a namorada da vítima. 


Pai da vítima, Francisco Lopes

A mãe e o pai da vítima, bem como outros familiares acompanham o julgamento. 

"Espero que ele pague pelo crime que cometeu. Ainda hoje me pergunto por que ele fez isso? Os dois jogavam bola juntos antes dele [Igor] ser policial. Estou vivendo porque tenho um trabalho e me ocupo. Não desejo essa dor para pai nenhum. Se o Alan fosse um menino que causasse confusão, de certa forma, já estaria esperando algo ruim. Mas meu filho era uma pessoa boa, o negócio dele era fazer amizade",  desabafou Francisco Lopes, pai da vítima. 

O auditório do Tribunal do Júri está lotado. Pessoas ligadas ao acusado também acompanham o julgamento e alguns vestem camisas com a frase: "Igor, estamos com você!".

Atualizada às 12h27 - Réu disse que foi legítima defesa

"Tive poucos segundos para decidir e agir [...] nunca pensei que sairia da condição de policial para foragido", as declarações foram dadas por Igor Gabriel de Oliveira Araújo, acusado de matar o filho de um oficial de Justiça em 2016. 

Em juízo, o réu disse que agiu em legítima defesa própria e de alguns amigos. Igor confessou ter efetuado seis disparos de arma de fogo para, segundo ele, cessar injusta agressão. 

"Chegamos na loja de conveniência do posto e o Alan já foi me empurrando e dizendo que eu não era militar  e eles que eram policiais federais. Ele e um amigo meu estavam brigando. Vi que a situação estava bastante descontrolada. O Alan estava bastante agressivo. Então, saí para pedir ajuda e vi o Alan correndo, entrando em um carro vermelho e colocando uma coisa na cintura [acredito que era uma arma] ...e depois retornou para a loja de conveniência. Eu, como policial militar, tinha que fazer algo. Tinha obrigação... não poderia deixar uma tragédia acontecer e não fazer nada. Então, acompanhei ele [Alan] e o vi agredindo meu amigo. Dei um tiro no chão de advertência para parar a briga. Meu amigo conseguiu se livrar do Alan que me deu um murro. Daí, atirei em direção as pernas. Não tive êxito. Ele botou a mão na cintura e fez a menção de sacar arma e atirei de novo. Agi com uso progressivo da força, moderamente. O único meio que tinha para me defender era arm,  não teve excesso. Os disparos foram para impelir injusta agressão" , disse o réu. 

Após o crime, Igor ficou preso por quatro meses no presídio militar e em seguida foi liberado. Depois, a Justiça expediu um mandado de prisão, mas o acusado não foi localizado e só capturado no fim de 2017. 

"Soube que queriam me matar...que estavam providenciando uma prisão para me matar dentro da Custódia. Fiquei com medo, aterrorizado. Após isso, dois dias depois chegou o mandado  eu com medo de morrer fugi. Cansado disso, pedi para minha defesa para ir para o Júri. Eu quis ir pro júri por minha vontade, pois sei que consigo comprovar minha defesa. Agi em legítima defesa. Nunca pensei que ia passar por essa situação. Não desejo isso para ninguém. Nunca me envolvi em nenhuma situação e nem tinha levado um murro na cara", justifica. 

 

Argumentos da acusação

O promotor da 1ª Vara Criminal, Régis Marinho, sustenta a tese de que o crime foi cometido por motivo fútil e a vítima não teve chances de defesa. 

"O Alan [vítima] não estava armado. Em hipótese alguma não foi apreendida nenhuma arma, sequer uma faca. A tese de legítima defesa não se sustenta... a motivação foi fútil, não há nenhuma excludente ilícitude. O Alan em momento algum agrediu o acusado e não há prova nos autos", sustenta o promotor.

O julgamento segue por esta tarde e a decisão deve ser anunciada ainda hoje.

Argumentos da defesa

O advogado do réu, Marcos Antônio Ramos, disse que a tese de legítima defesa é constatada e sempre foi defendida nos autos. 

“Todas as testemunhas fundamentaram que não tem como ser motivo fútil porque o réu teve que usar a força para conter uma agressão que era iminente. Teve legítima defesa real e a putativa já que a vítima alegava que também era policial e foi ao carro, voltou e colocou a mão na cintura. E o réu como policial, que era, tinha que se defender”, argumentou o advogado. 

Segundo a defesa, as imagens do posto de gasolina não mostram a confusão e que o réu já estava armado e só sacou a arma quando acreditou quer corria risco de vida. “A vítima foi ao carro e voltou e o réu já estava armado por ser policial militar e só fez o uso no exato momento que ele e a vida do colega estava em risco”, declarou Marcos Antônio Ramos.

Réu é expulso da PM

Igor Gabriel estava em estágio probatório na Polícia Militar e foi expulso em maio do mesmo ano. Além da morte do jovem, o ex-PM já era investigado, desde dezembro de 2015, por abuso de autoridade e crime de tortura praticado em Parnaguá-PI, quando era lotado no 7º Batalhão de Corrente.

Na época, a Delegacia de Homicídios apurou que vítima e acusado já se conheciam e até jogavam bola juntos, mas que teriam uma rixa por causa de uma suposta namorada. Os tiros foram nas costas de Alan. 

Igor se entregou na época do assassinato, mas foi posto em liberdade e depois foi novamente decretada a prisão preventiva. Ele passou mais de um ano foragido, sendo encontrado em dezembro de 2017, em um sítio. Desde então estava recolhido na Penitenciária Irmão Guido. Igor também responde a ação penal por contrabando, receptação e formação de quadrilha.

 

Graciane Sousa e Caroline Oliveira
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