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Marielle: áudios mostram conversa de vereador com miliciano

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Foto: Reprodução

Quase dois meses depois, um homem que diz saber quem matou e quem mandou matar Marielle. O delator é policial militar do Rio de Janeiro e é também miliciano. Ele procurou a polícia alegando ter sido ameaçado pelos supostos assassinos.

A testemunha apresenta a seguinte versão: no carro cor prata que abordou o carro da vereadora, dirigido por Anderson, estavam quatro homens: um policial militar da ativa; um ex-PM, miliciano da zona oeste; e outros dois milicianos.

Segundo a testemunha, os homens cumpriam ordens. Seriam dois os mandantes do crime. Um deles, um vereador do Rio, Marcello Siciliano, do PHS (Partido Humanista da Solidariedade).

Siciliano foi eleito com 13.553 votos, a maioria na zona oeste da cidade, não responde a nenhum processo criminal e negou que tenha qualquer relação com a milícia.

Marcello Siciliano, vereador (PHS): - Eu sou totalmente contra qualquer tipo de poder paralelo, totalmente contra.

Mas em telefonemas, gravados pela polícia, Siciliano conversa com milicianos. 

Siciliano: - Fala, irmão.
[miliciano]: - Fala, irmão!!!

Em outra ligação, um homem pede ao vereador que acione o 31º Batalhão da PM.

[miliciano]: - Uns bandido (sic) lá mataram um amigo nosso. Você podia dar um toque no pessoal do 31 pra ficar de olho. Se botar uma blitz ali, vai pegar.
Siciliano: - Vou mandar botar agora. Na volta eu passo aí. Beijo.
[miliciano]: - Tá bom. Beijo, fica com Deus.
Siciliano: - Te amo, irmão.

Nesta conversa, segundo as investigações, o vereador pede ajuda para inaugurar um projeto social numa área de milícia. 

Siciliano: - O garoto ia começar a fazer o projeto lá hoje, aí o rapaz falou: "Não, não vai fazer nada não”.
[miliciano]: - Não, pode ir.
Siciliano: - Eu posso ir atrás lá da pessoa pra resolver no teu nome?
[miliciano]: - Pode, vou te mandar o telefone aqui.

Em nota, Marcelo Siciliano reafirmou que nunca teve envolvimento com milícias. Disse também que já foi investigado, mas não chegou a ser indiciado e se botou à disposição da polícia para quaisquer novos esclarecimentos.

O outro citado pela testemunha é Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, nome de um bairro da zona oeste. Ex-PM, ele é chefe de uma milícia e foi preso em outubro do ano passado, acusado de mandar matar um homem que montou um circo sem pedir autorização em uma área dominada por ele.

Em uma ação parecida com a do assassinato de Marielle e Anderson, dois bandidos dispararam 12 vezes na direção do homem. Uma mulher que acompanhava a vítima sobreviveu e hoje vive escondida. O grupo de Orlando, assim como outros milicianos, é investigado também por grilagem, que é a posse ilegal de terrenos.

A zona oeste é o berço dos milicianos cariocas, grupos que usam de violência para ameaçar a população e cobrar por serviços irregulares, como transporte, entrega de gás e TV paga. Também tomam moradias e terrenos à força.

Daniel Braz, coordenador da Gaeco: - Já tivemos casos comprovados em que eles invadiram, tiraram os moradores e expulsaram e depois usaram o imóvel para venda para terceiros.

Na quarta-feira, por carta, Orlando Curicica negou envolvimento nas mortes de Marielle e Anderson e acusou o delegado de Homicídios de tentar convencê-lo a confessar envolvimento no crime.

Renato Darlan, advogado de Orlando Curicica: - Ele foi visitado pelo delegado titular da DH, dr. Giniton, que o fez uma proposta que eu considero uma ameaça dizendo a ele o seguinte: ou você assume esse crime ou eu vou embuchar mais dois homicídios na sua conta e vou lhe transferir para Mossoró. Se você assumir eu consigo pra você um perdão judicial.

Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, o delegado Giniton Lages foi ao presídio tomar o depoimento de Orlando sobre o assassinato de Marielle, mas ele não quis falar. 

Pela versão da testemunha que acusa Orlando e o vereador Siciliano, os dois queriam a morte de Marielle porque ela era uma ameaça aos interesses deles na zona oeste

Marcelo Freixo, presidente da CPI das Milícias: - São áreas onde a gente sabe que existem disputas territoriais, disputas entre interesses de grilagem. A Marielle não tinha uma disputa eleitoral nas áreas de milícia, mas a Marielle tinha uma ação social de atendimento a essas vítimas também da milícia.

O Fantástico apurou que a testemunha forneceu para a polícia o número de um celular que teria sido usado pelos assassinos. O número bate com um dos que a polícia vem investigando.

O ministro da Segurança Pública declarou que todos os citados pela testemunha já são considerados investigados, mas lembra que é preciso comprovar o que o foi dito no depoimento.

Raul Jungman, ministro da Segurança Pública: - É preciso supor se esses dados batem com os dados de que dispõe a investigação. Se não, de fato perde a consistência com que foram dadas essas declarações.

Freixo: - É possível que seja a milícia? É, mas é importante que tenha produção de provas. A gente não quer vingança, a gente quer Justiça.

Fonte: G1

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