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Ceramistas temem suspensão de retirada de argila com execução do Lagoas do Norte

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Os artesãos do Polo Cerâmico do Bairro Poty Velho, na zona Norte de Teresina, estão preocupados com a suspensão da retirada de argila da região, de onde extraem a principal matéria prima para trabalhar, produzindo peças artesanais, como potes de barro.

A atividade é realizada na região há mais de meio século e estima-se que hoje sustenta mais de 150 famílias. A produção do Polo Cerâmico fortalece a identidade cultural da cidade, dentro e fora do Piauí. Contudo, o projeto Lagoas do Norte visa urbanizar o local, o que pode prejudicar a produção, afetando assim o turismo e a economia. Pois na medida em que o programa é executado, as novas obras devem ser construídas nos locais onde é extraída a argila, acabando com possibilidade da retirada do material. 

José Carlos herdou a profissão de família e hoje emprega outros artesãos, mas agora ele teme a ameaça provocada por outro projeto de desenvolvimento. “A cada dia que passa, quando esse projeto avança, (a nossa atividade) fica limitada e essa é nossa preocupação, porque a cada dia, vai se aproximando. Está um pouco parado, mas acredito que na hora que parar a chuva ele vai continuar de novo esse projeto e a cada dia que se passa, fica mais preocupante”, adverte o artesão.

Uma das lagoas de onde o material vinha sendo extraído fica a menos de 1 km do Pólo. A argila é transportada por carroceiros totalizando cerca de cinco toneladas por semana. Toda a argila é estocada no fundo dos barracões de produção durante todo o período chuvoso, quando a extração fica inviável. 

Segundo os artesãos, além da proximidade, o material tem qualidade superior a qualquer outro encontrado na capital. A argila tem dois tipos de tonalidade, mas o estoque está acabando e a prefeitura não recomenda a retomada da extração.

O coordenador do Projeto Lagoas do Norte, Márcio Sampaio, diz que outro local para retirada do barro está sendo cogitado, mas fica na zona rural da cidade, depois da região do Bairro Santa Maria da Codipi, zona Norte. Segundo ele, a decisão sobre a questão será tomada em conjunto com os ceramistas.

“Tem se ser rediscutido com a associação e com a cooperativa, colocadas outras propostas nesse contexto, de forma que sejam efetivamente cumpridas e caso haja a necessidade, inclusive, com o suporte do município”, afirmou o coordenador.

Para os ceramistas, a tradição não pode parar e eles temem pelo fim da produção. “Quando a gente chegar a ficar incapaz de fazer a extração dessa argila, a gente vai viver do que? Hoje a gente não carrega só a família da gente, a gente carrega o Piauí mundo a fora, com nossas histórias, com nossa lição de vida, com nossa obras de arte. Então sem essa matéria prima não vai existir nem nós e nem as obras e o Piauí também vai estar morrendo um pouco”, atentou o ceramista Antônio José Brito.

 

Lyza Freitas
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