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Depois da era Scolari, família nos tempos de Tite tem outra importância

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Fotos: Lucas Figueiredo/CBF

LONDRES, REINO UNIDO (UOL/FOLHAPRESS)

Final da Copa do Brasil de 2001. Jogadores do Grêmio descem do ônibus na chegada ao Morumbi e, antes de entrarem no vestiário, recebem das mãos de Tite, um a um, envelopes fechados. Dentro havia mensagens de incentivo escritas por parentes e amigos. Emocionados, todos colam as cartas nas paredes do vestiário e vão para o jogo com o Corinthians. A equipe vence por 3 a 1 (o primeiro jogo foi 2 a 2) e fica com o título.

"Cada um abriu seu envelope. Abri o meu, estava a mensagem do meu pai, do meu pastor, esposa, filhas, minhas irmãs, meus tios. Mensagens de incentivo, palavras lindas, assinatura de cada um. Os olhos cheios de lágrimas, fiquei com vergonha de chorar. Olhei para o lado, todo mundo chorando. Entramos babando, entramos a mil por hora, foi fundamental, sim", lembra o ex-jogador e hoje comentarista Zinho, um dos atletas do Grêmio na longínqua decisão e que fazia aniversário naquele 17 de junho.

No momento lembrado pelo ex-meia, Tite começava a moldar o estilo que implanta hoje na seleção brasileira. O cuidado com as famílias e a vontade de que elas estejam o mais perto possível dos jogadores durante a luta pelo hexa são marcas registradas do treinador no time nacional. Na Copa de 2018, essa proximidade será constante, diferentemente do que ocorreu em outras edições. Famosa nos tempos de Luiz Felipe Scolari, a noção de "família" é diferente na era Tite.

A escolha de Londres e Sochi para a preparação da equipe antes da Copa da Rússia passa por esse cuidado. São locais em que os familiares terão mais comodidade. A CBF não vai bancar, mas indicou o hotel para os parentes ficarem na cidade russa, praticamente vizinho ao local em que os jogadores estarão hospedados.

Em 2010, na África do Sul, por exemplo, a estrutura para as pessoas próximas aos convocados se limitava a uma sala na concentração para receber os convidados.

"A gente sente a diferença em relação a outras épocas na seleção pelo local que escolheram para a gente ficar em Sochi. Acho que eles fizeram isso também porque a logística na Rússia é difícil', disse Severino Vieira da Silva, pai do meia Willian.

A comissão técnica, por meio do coordenador Edu Gaspar, ainda ajudou na logística para as famílias se deslocarem na Rússia. Os atletas vão pagar por uma aeronave que vai transportar a comitiva, mas Edu foi ativo na organização. Em 2014, as famílias não tiveram apoio da confederação para acompanhar a seleção durante o Mundial.

Pelo menos nas outras três Copas anteriores, a CBF também não havia se envolvido na organização do transporte das famílias durante a competição. A entidade mantinha a postura de não cuidar dessa logística para evitar ser responsabilizada por eventuais problemas.

Porém, em 2002, a pedido de Luiz Felipe Scolari, o avião que buscaria os atletas no Mundial do Japão e da Coreia do Sul levou os parentes dos jogadores para acompanhar a final. Até então, a família Scolari baseava-se principalmente no apoio de um jogador ou membro da comissão técnica ao outro.

Tite também valoriza a sustentação que um atleta pode dar ao companheiro, mas avalia que nos momentos difíceis que eles enfrentarão na Rússia o melhor conselho e o suporte mais importante virão dos parentes. Por isso, o esforço para deixar os familiares por perto.

Essa é uma marca na carreira dele também durante suas passagens por clubes. Quando procurado por um jogador em dúvida se aceita transferência para um mercado menos badalado, como o chinês, por exemplo, o técnico gosta de dizer: "eu vou dar minha opinião, mas tenho interesse que você fique. O seu empresário vai dar a opinião dele, mas tem interesse que você vá. O melhor conselho virá da sua família, que está sempre com você. São os seus familiares que vão sentir o resultado da sua mudança."

GESTÃO DE GRUPO
Tratar de deixar as famílias ao alcance de seus comandados faz parte do que Tite entende ser uma importante missão: a gestão de grupo. Além do apoio que os parentes podem dar, o treinador crê que saber que eles estão por perto, bem instalados e com locomoção resolvida evita dores de cabeça num momento de concentração no trabalho.

O técnico não quer a proximidade da família só para os atletas. Ele também gosta de se sentir abraçado pelos parentes em instantes decisivos. Foi assim na véspera da final do Mundial de Clubes entre Corinthians e Chelsea, em 2012. À noite, Tite foi para o quarto de seus familiares e pediu para que fizessem um "sanduíche" com ele.

Antes da mesma decisão, Tite havia preparado vídeos com mensagens dos parentes dos atletas. Porém, na última hora, avaliou que a carga emotiva poderia atrapalhar e decidiu não mostrar o material. Só que os jogadores souberam pelos parentes que as gravações tinham sido feitas e cobraram a exibição. As imagens foram mostradas e o Corinthians acabou levantando a taça, como fizera o Grêmio em 2001. Agora, o técnico espera que o mesmo combustível familiar ajude a seleção a sair campeã da Rússia.

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