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Fora da Copa, italianos lamentam e mostram descaso com Mundial

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DIOGO BERCITO
ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS)

Um vídeo que circula em grupos de WhatsApp na Itália sintetiza bem o humor do país nesta quinta-feira (14), dia do jogo de abertura da Copa do Mundo da Rússia.

Nas imagens, um homem mal-humorado descreve as seleções classificadas para a competição -uma lista da qual a Itália não participa pela primeira vez desde 1958, um trauma nacional.

"Arábia Saudita? Egito? Costa Rica?", ele pergunta antes de recorrer a termos um bocado mais duros. "Marroquinos de merda... Iranianos de cazzo... Como pode a Itália não estar presente neste grupo???"

A eliminação enfureceu os italianos. Agora, ao ver as demais seleções jogarem, o sentimento se transformou em um descaso quase agressivo.

A reportagem acompanhou em Roma a primeira partida da Copa, disputada entre Rússia e Arábia Saudita. A capital estava inesperadamente desprovida de bandeirolas e de camisetas da seleção nacional. Quase como se o país da bota -geograficamente predisposto a chutes, digamos- quisesse dizer que não, não era um dia de Copa.

De bar em bar, em busca de telas transmitindo a partida, a reportagem encontrou quase exclusivamente estrangeiros. Torciam para a anfitriã Rússia e celebraram os seus cinco gols brindando as canecas.

No Finnegan Irish Pub, bar onde romanos e expatriados tradicionalmente assistem às partidas de futebol, os funcionários penduraram bandeiras de todas as seleções classificadas para o campeonato.

Elas vão ser retiradas cerimonialmente quando os times forem eliminados.

Fabio Zechino, 53, tem o pub há 23 anos. Nesta Copa, espera ter um pouco menos de clientela. Ele lamenta a ausência italiana e culpa o próprio país: "Foi justo. Não temos um bom time nem uma boa federação nacional".

A seleção italiana, que já venceu a Copa do Mundo quatro vezes, foi eliminada em novembro na disputa da repescagem das eliminatórias europeias, contra a Suécia.

"Vou me arrepender disso por toda a minha vida", disse à época o goleiro Gianluigi Buffon, ídolo da seleção e da Juventus. "Privamos as crianças de ter um coração que bate forte pela Copa."

Despeitado, grupo de italianos baseados no Canadá publicou recentemente anúncio em um diário sueco dizendo que seus cidadãos torcem para todos, menos para a Suécia.

"Escrevemos para lembrá-los de que vocês nos roubaram a alegria de cantar o hino Forza Azzurri", afirmaram. Azzurri é apelido da seleção da Itália, por sua camisa azul.

Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal Corriere della Sera com seus leitores, na ausência do time os italianos vão torcer pela Islândia (18%). A Argentina aparece em segundo lugar (16,5%). O Brasil fica no terceiro posto (7,3%). Não há informações sobre quantas pessoas votaram e sobre a margem de erro.

Dino Ceruli, 60, diz que está dividido entre apoiar o Brasil ou a Argentina. Nascido no mesmo ano em que a Itália não se classificou da última vez (1958), ele viu a abertura desta Copa em um bar, mas diz que não deve acompanhar o restante da competição.

"Eu gosto muito de futebol, mas não gosto de que a Itália não esteja disputando o Mundial. Sem a minha seleção fica chato demais de ver."

Sentado em um sofá em um canto do pub, ele conversava com um fã mexicano sobre o fato de seu time não jogar na Rússia, o que considera uma injustiça. Culpa do técnico, diz, e não dos jogadores.

"Isso é uma pena. Fomos eliminados pela Suécia, mas o que é que eles entendem de futebol, hein?", pergunta, com os olhos vidrados na tela onde jogam Rússia e Arábia Saudita.

Para além do orgulho ferido, a ausência italiana representa também um rombo no bolso. O diário local La Stampa calculou que o impacto no montante de anúncio e merchandising cancelados pode ficar entre R$ 400 milhões e R$ 800 milhões.

Marcas esportivas já tinham preparado o uniforme da seleção, que de repente deixou de ser um item tão apetitoso para os colecionadores.

Os restaurantes e os bares que haviam se programado para exibir as partidas não devem lotar na Copa. Agravando a sensação de abandono, choveu em Roma durante a partida inaugural.

No pub The Flann O'Brien, outro dos poucos exibindo a partida no centro de Roma, o italiano Pinak Hassan, 26, lamentava ter sido privado da possibilidade de torcer por sua seleção durante a Copa.

"Eu queria poder aproveitar um pouco. Encontrar os meus amigos, beber cerveja, vestir a camisa azul", diz. "Neste ano, ninguém está usando o uniforme da seleção. Essa Copa já deixou de ser divertida."

Mas, como uma espécie de prêmio de consolação, a Itália será representada de outra maneira quando a seleção vencedora erguer o troféu, daqui a algumas semanas. A taça original foi criada em 1971 em uma cidade industrial próxima a Milão e por vezes volta para ser restaurada.

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