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Atuação e humor de Messi deixa confuso até staff da Argentina

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ALEX SABINO
NIJNI NOVGOROD, RÚSSIA (FOLHAPRESS)

Três funcionários da AFA (Associação de Futebol Argentino) conversavam no aeroporto internacional de Strigino, em Nijni Novgorod no início da tarde desta sexta (22). Os jogadores embarcaram para Bronnitsi (55 km de Moscou), onde está a concentração da seleção desde o início da Copa do Mundo logo após a partida contra a Croácia. Chegaram no centro de treinamento às 3h da madrugada. Jantaram em um silêncio sepulcral e foram para a cama.

Os responsáveis pela logística ficaram para trás para viajar no dia seguinte à derrota por 3 a 0, pela segunda rodada do Grupo D.

Eles faziam brincadeiras uns com os outros, mas até estas eram tristes. O semblante era de abatimento. Os temas das conversas convergiam sempre para a mesma dúvida: o que há com Lionel Messi?

Aquele que para eles é o melhor jogador do mundo (alguns, como o técnico Jorge Sampaoli, afirmam ser o camisa 10 o maior da história) teve atuação abaixo da crítica e não mostrou qualquer força para mudar um resultado desfavorável.

Eles diziam que o humor de Messi, sempre dos mais sensíveis, mudou após a perda do pênalti contra a Islândia, na estreia da Argentina. Por causa do erro, a partida terminou empatada em 1 a 1. "Eu sou responsável pelo placar. Vamos nos recuperar para o próximo jogo", disse o atacante após a primeira rodada.

Mas o que os funcionários da AFA diziam é que isso não aconteceu. O jogador ficou mais amuado, fechado em si mesmo com o passar dos dias antes da partida contra a Croácia. Nos treinos foi bem, dentro do que se espera de um atleta eleito cinco vezes melhor do mundo. Fora de campo, estava mais distante do que nunca.

Apenas Sergio Aguero, seu colega de quarto e melhor amigo no futebol, é capaz de dizer como estava o comportamento de Messi quando estavam a sós. Isso não deverá acontecer. Mas foi nítido até para pessoas que não fazem parte da intimidade da comissão técnica que algo ficou diferente a partir da defesa do goleiro islandês Halidórsson no segundo tempo do jogo no Spartak Stadium.

Em sua biografia sobre o craque, o jornalista argentino Leonardo Faccio diz que Messi é o tipo da pessoa que parece morder as palavras para evitar que elas saiam de sua boca. "A gente precisa tomar cuidado porque qualquer coisa que se diga ganha proporção muito grande", afirmou o capitão argentino em entrevista para a TV América, de Buenos Aires, antes do Mundial.

Por isso é difícil decifrar Messi, o tipo que não diz ou mostra o que sente. O único momento em que sua revolta ficou nítida nos 90 minutos diante da Croácia foi quando, caído, se enroscou com Brozovic e o empurrou para levantar e continuar o jogo.

No camarote, Diego Maradona foi flagrado fazendo gesto pedindo "huevos" (ovos, em espanhol). Sinal de que a equipe deveria ter mais testículos. Mais fibra, mais rebeldia. Não era possível contar com Messi para isso na noite de quinta, em Nijni Novgorod. Nem faz parte do seu estilo a revolta, um dos fatores que o diferenciam do próprio Maradona.

Messi não quis enfrentar as perguntas dos jornalistas após a derrota. Ficou ao lado do presidente da AFA, Claudio Tapia, e foi embora do estádio calado, com a expressão abatida, não muito diferente da que mostrou após errar o pênalti que detonou sua melancolia.

"Vimos Messi muito apagado, como nunca. Não sei o que aconteceu. Deve-se estar dentro do grupo para opinar com mais fundamento. Confirmou-se novamente que se ele não aparece custa à seleção encaixar o seu jogo", escreveu o técnico Carlos Bilardo, quatro vezes campeão da Libertadores com Vélez Sarfield e Boca Juniors, em sua coluna no diário Clarín.

Os poucos jogadores que trocaram algumas palavras com jornalistas (Aguero, Mascherano e Enzo Pérez) disseram que Messi estava triste com o resultado. Nada mais. Mas isso era o esperado. Todos os argentinos ficaram chateados, não apenas o camisa 10.

Pelas conversas, está subentendido um descontentamento com o trabalho de Sampaoli, mesmo com o entendimento de que ele não teve muito tempo para armar a equipe. A escolha de Caballero (que entregou o primeiro gol croata, que desmontou a Argentina), as constantes ideias e vindas no esquema e escalação começam a despertar críticas que se tornarão um massacre se a Argentina for eliminada na fase de grupos do Mundial.

Uma saraivada de reclamações que não vai poupar nem mesmo Lionel Messi naquele que pode ser sua última Copa do Mundo.

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