Cidadeverde.com

Como um ex-monge e treinador manteve os meninos vivos em uma caverna na Tailândia

Imprimir

O treinador titular do time infantil de futebol preso em uma caverna na Tailândia passou a manhã do dia 23 de junho preparando seu assistente mais jovem para uma importante tarefa: cuidar dos meninos da equipe.

Nopparat Khanthavong, o treinador titular do time de futebol Moo Pa (Javalis Selvagens), tinha um compromisso naquela manhã. Ekapol Chanthawong, seu assistente, iria levar a equipe infantil para um campo de futebol em Doi Nang Non, região com numerosas cachoeiras e cavernas próxima à fronteira entre Tailândia e Mianmar.

"Não deixe de ir de bicicleta atrás deles durante o trajeto, de forma que possa ir olhando para onde vão", disse o técnico titular em uma mensagem no Facebook. Ekapol treina o time infantil, então Nopparat aconselhou-o a levar alguns meninos da equipe mais velha para que pudessem ajudá-lo. "Tome cuidado", escreveu ele.

As horas que se seguiram desencadearam uma série de eventos que mantêm a atenção mundial até agora: um dramático trabalho de busca e resgate que encontrou os garotos nove dias depois dentro de uma das cavernas, acuados em uma pequena porção de terra cercada d'água. A atenção automaticamente virou-se para Ekapol, um ex-monge de 25 anos, o único adulto entre eles.

Enquanto os esforços de resgate continuavam, muitos culpavam Ekapol por ter conduzido o time até as cavernas. Mas, para outros tantos tailandeses, o treinador assistente, que havia deixado sua ordem religiosa há três anos e se juntado ao time pouco tempo depois, é quase uma força divina enviada para proteger os meninos durante essa provação.

De acordo com as equipes de resgate, ele está entre os mais fracos do grupo, em parte porque entregou aos meninos sua parte da comida e da água. Ele também ensinou os garotos a meditar e conservar o máximo de energia que podiam.

Treino e trabalho no templo

Ekapol é um órfão que perdeu os pais quando tinha 10 anos. Ele, então, decidiu se tornar um monge, mas deixou o mosteiro para que pudesse cuidar da avó doente no Norte da Tailândia, em Mae Sai. Lá, ele dividia seu tempo entre ajudar em um templo e treinar o novo time Moo Pa.

— Ele se dedicava muito. Ele dava carona para os meninos, como se fossem parte de sua própria família, quando os pais não podiam — afirma Nopparat.

Ekapol também tinha uma rotina forte de treinos, que envolvia pedaladas pela região. Naquele sábado, há duas semanas, Nopparat não sabia para onde o treinador assistente levaria os meninos, mas acreditou que deixá-los sob sua responsabilidade seria uma boa experiência para ele.

O time mais velho dos Javalis Selvagens tinha um jogo naquela noite, segundo o treinador Nopparat, o que o obrigou a ficar longe de seu celular. Quando ele checou o aparelho novamente perto das 19h, havia ao menos 20 ligações perdidas vindas de pais preocupados com os filhos que ainda não tinham chegado em casa. Ele ligou imediatamente para Ekapol e os meninos, mas só conseguiu contato com Songpol Kanthawong, de 13 anos, cuja mãe havia o buscado logo após o fim do treino. Ele disse a Nopparat que o time tinha ido explorar as cavernas de Tham Luang. O treinador correu até lá, mas só encontrou as bicicletas abandonadas na entrada da caverna, além de uma trilha lamacenta.

— Eu gritei "Ek! Ek! Ek!" Meu corpo ficou completamente gelado — lembrou.

Informações espaçadas sobre o paradeiro dos garotos começaram a aparecer antes de eles serem encontrados na noite de segunda-feira, 2 de julho, por meio de comunicação limitada entre o treinador, o time e as forças de resgate que estavam na pequena câmara dentro da caverna. Enquanto isso, amigos manifestavam preocupação com Ekapol. Ele tem toda a confiança dos meninos, e não era provável que eles tivessem ido explorar as cavernas sem ele.

Na manhã deste sábado, a Marinha tailandesa postou fotos de cartas que o grupo enviou para suas famílias. A mensagem de Ekapol, escrita em um pedaço de papel amarelo tirado de um caderno, foi curta, e continha uma promessa e um pedido de desculpas.

"Eu prometo cuidar dessas crianças ao máximo. Quero agradecer por todo o apoio e pedir desculpas", diz ele na pequena carta.


Fonte: O Globo

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais