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Demissão de funcionário antigo após caso Sánchez causa revolta no Santos

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DIEGO GARCIA E ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - atualizada às 21h23

A demissão do coordenador do departamento de contratos, registros e transferências de atletas, Felipe Nóbrega, 31, que há 11 anos trabalhava no Santos, causou revolta nos bastidores do clube da Vila Belmiro.

A saída do funcionário na terça (28), mesmo dia da punição do clube pela Conmebol, foi vista internamente como forma de usá-lo como um bode expiatório para preservar profissionais contratados pelo presidente José Carlos Peres. O mandatário convive com um processo de impeachment no clube.

Na visão de pessoas de diferentes áreas do Santos, Peres quis se eximir de culpa pelo caso ao escolher um profissional sem ligações com ele como responsável pela escalação irregular de Carlos Sánchez na Copa Libertadores.

Após ter o empate em 0 a 0 da partida de ida transformado em derrota por 3 a 0, na terça-feira o time foi eliminado pelo Independiente (ARG) nas oitavas de final.

"Fui surpreendido com uma chamada do RH para informar minha demissão, sem que eu tenha sido informado pelos meus superiores. Me desenvolvi profissionalmente dentro do Santos, tenho amor incondicional pelo clube, mas a forma que está sendo dado esse desfecho para mim me deixa muito chateado. Saiu uma notícia que eu havia admitido que esqueci de mandar um email, e isso não condiz com a verdade", disse Felipe Nóbrega à reportagem.

O ex-coordenador era responsável por checar sistemas de registro como o BID (Boletim Informativo Diário), da CBF, e o Comet, da Conmebol -este dava condições de jogo a Sánchez, mas a entidade entendeu que uma confirmação direta também deveria ser feita pelo clube, o que não aconteceu.

Nóbrega preferiu não comentar suposta intervenção política para a demissão."Não sei dizer especificamente. O Santos passa por momento político complicado, sei que me atingiu em cheio, fui pego de surpresa", afirmou.

Nóbrega vem sendo hostilizado por torcedores em redes sociais e grupos de WhatsApp desde que vieram à tona notícias sobre a demissão.

O presidente Peres é alvo de um processo de impeachment, acusado de ser sócio de empresas que têm entre as finalidades o agenciamento de jogadores, o que vai contra o estatuto social do clube.

No início de setembro, o Conselho Deliberativo do Santos colocará em votação o impedimento do mandatário. A comprovação de que erros da sua gestão tiveram influência na eliminação do clube poderia pesar contra ele na decisão.

O vice-presidente do Santos, Orlando Rollo, que está rachado com Peres desde o início da gestão, criticou a demissão de Felipe Nóbrega.

"Nesse momento, é lamentável uma caça às bruxas. Não podemos descontar o acontecido em quem não tem esta responsabilidade. Ele [Felipe Nóbrega] apenas cumpria ordens", disse Rollo.

Nóbrega se reportava ao departamento jurídico, que tinha Rodrigo Gama como gerente desde junho. Gama classificou a demissão do funcionário como parte de uma reorganização interna.

"A dispensa do Felipe faz parte de reorganização administrativa que vem desde janeiro. Não tem relação direta com o 'caso Sánchez'. Verificamos internamente que precisávamos mudar", disse Gama, que lembrou que outro funcionário do mesmo departamento já havia sido demitido na semana passada como parte desse processo de reorganização. "O erro está na Conmebol", completou.

Em outras gestões, o departamento jurídico era o responsável por realizar a pesquisa de "nada consta", como é chamado o procedimento para confirmar a condição de jogo dos atletas.

Por exemplo, em torneios da CBF, o STJD é procurado para confirmar suspensões de atletas. No caso de torneios sul-americanos, é a Conmebol a responsável.

Responsável pela área, Gama afirmou que não recebeu nenhum pedido do departamento de registros sobre o caso. "Somos um departamento consultivo. Se veio o problema para nós, trabalhamos por cima disso. Se não há dúvida, ninguém questiona. Nesse caso, o departamento [de futebol] não trouxe o problema", disse Rodrigo Gama.

O departamento de futebol hoje tem Sérgio Dimas como gerente. Ele já havia sido demitido com o ex-presidente Modesto Roma Júnior, mas foi recontratado por Peres neste ano.

Procurado pela reportagem, Dimas não se manifestou sobre o caso até a publicação. O presidente José Carlos Peres também não respondeu.
Santos será cobrado pela prefeitura pelos danos ao Pacaembu.

A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de São Paulo emitiu uma nota oficial nesta quarta (29) na qual lamenta as cenas de violência e vandalismo na partida entre Santos e Independiente. O órgão também informou que o clube paulista será responsabilizado pelos danos causados no estádio.

Torcedores santistas quebraram mais de 60 cadeiras do setor laranja, amassaram alambrados, danificaram banheiros, soltaram bombas e tentaram invadir o gramado durante o jogo -pelo menos quatro deles conseguiram.

A partida foi encerrada aos 36 minutos do segundo tempo por falta de segurança.

A Conmebol afirmou que o caso será submetido ao seu Tribunal Disciplinar "para seu estudo, consideração e posterior resolução". As punições possíveis vão desde a aplicação de uma multa à exclusão de futuras competições.

 

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