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'Não precisei ler Paulo Coelho', diz José Saramago em SP

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Às vésperas da inauguração da exposição José Saramago: A Consistência dos Sonhos, que traz objetos de sua carreira, o escritor português, Prêmio Nobel de Literatura em 1998, conversou com os jornalistas em um encontro realizado no Consulado Geral de Portugal em São Paulo, nesta terça-feira.
 


Bem-humorado - algo raro -, o escritor falou sobre seu novo livro, A Viagem do Elefante, o período em que ficou internado, o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e sua fama de pessimista. "Não sou eu o pessimista; o mundo é que é péssimo".

José Saramago: A Consistência dos Sonhos foi organizada por Fernando Gómez Aguilera e traz mais de 500 objetos originais do autor de Ensaio Sobre a Cegueira e Memorial do convento, entre outros.

Nesta sexta-feira, no Instituto Tomie Ohtake, Saramago participa da abertura da exposição, que segue no local até 15 de fevereiro.

A Viagem do Elefante
Saramago também aproveita a visita para promover seu novo livro, A Viagem do Elefante, escrito em um momento delicado, quando o escritor ficou internado à beira da morte.

Ele conta que escreveu as primeiras 40 páginas antes da internação. Então, ficou sete meses sem escrever e chegou a pensar que não concluiria o livro. Ironicamente, é o livro mais bem-humorado do autor. "Esta história pedia isso. Não quis incluir a minha vida, o momento pelo qual estava passando, não tinha a ver com o enredo do livro".

Sobre a experiência, o escritor brinca: "estou muito mais sereno agora. E olha que nem precisei ler um livro do Paulo Coelho para ficar assim. Percebi que uma doença vale mais que toda a obra dele", ri Saramago.

Aos 86 anos, Saramago - que mantém um blog, além da produção dos livros, se mostra pouco crente quanto ao futuro da literatura e da Internet. "Somos ingênuos, e isso parece que não vai mudar. Não sei se a Internet em 10 anos será livre como é hoje. Talvez tenhamos que pagar por ela".

Ele também se mostra preocupado com o mundo em que vive. "Gostaria de saber se houve um momento na história em que pegamos um atalho diferente, que nos levou ao mundo em que vivemos hoje. É claro que não funciona assim, mas algo deu errado neste processo".O escritor ainda completa: "Acho que o 'É proibido proibir' de 68 contribuiu para isso. Hoje vivemos a decadência total das instituições, da família, e isso me preocupa".

Acordo Ortográfico
Sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, Saramago afirma que é preciso que haja uma tolerância entre os povos que falam a língua portuguesa com algumas particularidades, para que todos se entendam.

"Infelizmente, esse acordo não vai formar mais escritores, educação sim, esta forma mais pessoas interessadas em literatura", afirma o escritor, que considera o acordo uma "vitória".

Aguilera, organizador da exposição, encerrou o encontro dizendo que deveria "ser proibido falar após José Saramago", arrancando risos dos presentes. "Esta exposição mostra um operário das letras, que foi formando sua carreira com genialidade. Mostra para nós, que não somos gênios, que é possível, com esforço, fazer algo notável", concluiu.

 
Fonte: Terra

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