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Planejamento para o ano que vem deve considerar possível turbulência

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Foto: Marcos Santos / USP / Fotos Públicas

Depois de um ano de muita instabilidade no mercado financeiro brasileiro por causa das eleições e de algumas turbulências externas, 2019 se avizinha como a calmaria antes, talvez, de mais uma tempestade -a chegar em 2020, se as previsões estiverem corretas. Investir nesse cenário vai exigir uma mistura de cautela e ousadia para aproveitar oportunidades no mercado, segundo especialistas. No horizonte macroeconômico internacional, a perspectiva é que os EUA continuem elevando sua taxa de juros.

Apesar de, na quarta-feira (28), o presidente do Fed (o banco central americano), Jerome Powell, ter indicado que o patamar dos juros está perto de um nível considerado neutro, os analistas trabalham com três altas no ano que vem e uma -ainda sem consenso- no início de 2020, o que deixaria as taxas numa faixa em torno de 3,5% ao ano.

A leitura que o investidor deve fazer disso é que, se o Fed está elevando os juros, é porque confia na força da economia dos EUA, considerando que o desemprego está em seu patamar mínimo histórico e a inflação, sob controle.

A Europa, apesar de os países estarem desacelerando o crescimento, também deve ser incluída no plano de investimento. Assim, afirma Ronaldo Patah, estrategista de investimentos do UBS Wealth Management, é interessante incluir alguma exposição a ativos globais. Isso pode ser feito por fundos que compram ações estrangeiras.

Quando se olha para o Brasil, há algumas incertezas ainda que o novo governo deverá enfrentar, a principal sendo a reforma da Previdência, afirma Patah. "É preciso tentar aprovar a reforma em seis meses. Ainda não está claro qual vai ser a reforma, e ela é crucial", diz.

"Caso contrário, o Brasil volta a ser foco de novo, em um mundo cada vez menos amigável e em que os investidores tendem a sair de países que não façam a lição de casa."

Francisco Levy, diretor da associação Planejar, afirma que os emergentes, de maneira geral, devem ir melhor em 2019 do que neste ano, atraindo um fluxo de investimentos. Mas concorda com Patah no raciocínio de que acertar as contas é fundamental para garantir a sustentabilidade do país.

"Entramos na capacidade de articulação política, que é a chave do negócio. Na frente econômica, a agenda é boa, com privatização, aumento da competividade, reformas estruturais. É uma agenda pró-mercado. Mas de boas intenções..."

Essa agenda pró-mercado deve beneficiar a Bolsa. "As reformas microeconômicas não estão 100% no preço, e o ativo que mais se beneficia disso é a Bolsa, onde o choque de competitividade do governo tende a ficar mais refletido", diz Patah.

Um exemplo é o corte de impostos para empresas, que deve diminuir os custos e pode melhorar o resultado das companhias. "Há um potencial de melhora nos preços das ações, ajudado também pelo crescimento do PIB [Produto Interno Bruto], que será de 3% em 2019." Quem não quiser escolher uma ação específica pode delegar o trabalho a um gestor e aplicar num fundo de ações. Mas é importante observar em que o fundo investe antes de comprar as cotas.

Caso as reformas planejadas pelo novo governo não sejam aprovadas, porém, o cenário pode sofrer reversão, adverte Juliana Inhasz, professora do curso de economia da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). "A melhoria das condições econômicas depende de elementos que não estão no controle do mercado, como a aprovação das reformas, a colaboração do cenário externo e a retomada do crescimento."

"Todos esses elementos embutem uma incerteza não desprezível sobre a economia, o que pode tornar esse tipo de investimento extremamente arriscado, com potenciais elevados de perda, uma vez que nada garante que a situação econômica se reverterá nos próximos períodos, garantindo ganhos no valor das empresas."

Enquanto isso, a taxa de juros ainda deve se manter em um dígito. No UBS, a expectativa é que encerre o ano que vem em 9%, para controlar a inflação, que deve encerrar 2019 a 4,5% -acima da meta de 4,25% do CMN (Conselho Monetário Nacional). No boletim Focus, do Banco Central, a expectativa é que a Selic, a taxa básica de juros, termine o próximo ano em 7,75%.

A baixa taxa de juros torna a renda fixa pouco apetitosa para os investidores. Com a alta estimada da Selic, o investidor deve evitar títulos públicos prefixados, principalmente se achar que vai precisar vender antes do vencimento. Aí entra a chamada "marcação a mercado", que é a atualização dos papéis pelo juro do momento do resgate -títulos com juros menores sofrem desconto nesse cenário.

Os títulos indexados à inflação podem ser uma opção para quem quer proteger o poder de compra. Os fundos de investimento em renda fixa também devem ter rentabilidade menor, e o investidor ainda precisar tomar cuidado com a taxa de administração cobrada, que pode corroer o ganho. Os multimercados, em especial os que têm aplicações no exterior, podem ser uma opção para quem procura ganhos maiores que na renda fixa, mas sem uma exposição completa em renda variável.

A taxa de administração costuma ser mais elevada, mas porque o trabalho do gestor é maior: ele tem de procurar boas opções em diversas classes de ativos. Há ainda uma taxa de performance, cobrada quando o ganho do fundo supera um indicador de referência preestabelecido. Se todas essas são alternativas interessantes, uma velha conhecida do brasileiro deve ser deixada de lado: a poupança. "Ela continua sendo um investimento com baixa rentabilidade diante das alternativas de risco quase igual no mercado, ainda que as taxas de juros permaneçam em níveis históricos mínimos", diz Inhasz, da Fecap. "É possível encontrar no mercado investimentos seguros, com liquidez diária e com rentabilidade maior que a poupança."

Fonte: FolhaPress

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