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Paulinho da Viola estuda o lançamento de novo disco em 2019

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Foto: Reprodução/instagram/@paulinhodaviola

 

Já é parte do folclore: Paulinho da Viola vive em seu tempo, alheio à velocidade e desobrigado de acompanhar tendências ou prazos.

Consequência disso é a falta de lançamentos de inéditas pelo compositor, cujo último disco com músicas novas foi "Bebadosamba" (1996), há 23 anos.

"Quero gravar um disco novo neste ano. Já tenho algumas músicas que poderia reunir, mas não gosto assim, prefiro partir do zero", diz Paulinho.

A promessa acalenta os fãs que, nesta sexta (18), poderão saciar parte da sede de novidades. É que ele incluirá "uma ou duas inéditas" no show "Na Madrugada", no Tom Brasil - uma delas abrirá o repertório.

"Há um samba não gravado que inicia o show, músicas conhecidas e outras nem tanto", diz Paulinho, que estará ladeado por músicos como o pianista Adriano Souza e o violonista João Rabello, seu filho.

O programa deve incluir temas infrequentes de seu cancioneiro, como "Nova Ilusão", e sucessos, como "Foi um Rio que Passou em Minha Vida".
Também o anima rever amigos: o bandolinista Izaías Bueno da Silva, 81, e seu irmão, o violonista Israel, 78, do seminal grupo Izaías e Seus Chorões, convidados da noite.

"Esse show foi um sucesso aqui no Rio. Quando veio o convite para São Paulo, logo pensei no Izaías", diz Paulinho em um intervalo nas tarefas pré-show, como passar a limpo partituras de músicas, ofício que prefere não delegar.

"Vai ter um bloco em que Izaías e Israel são figuras principais. Ele me pediu pra tocar 'Choro Negro', e eu pedi a ele 'Vibrações', do Jacob [do Bandolim]. Gosto muito dele, somos amigos há muitos anos."

É recíproco, diz Izaías, sobre as quatro décadas de amizade. "Gosto muito do Paulinho, e significa muito tocar com ele. Filho do César, um grande chorão. Aproveitou aquela escola pra fazer esse trabalho maravilhoso no samba."

Será, portanto, uma espécie de ponte aérea do choro, gênero em que, à diferença do samba, não se repetiu a rivalidade entre cariocas e paulistas.
"Essa rixa é secular, mas, no choro, foi o contrário; o Jacob gostava muito de São Paulo e ajudou a aproximar os músicos das cidades", diz Izaías.

Paulinho reforça a impressão e acrescenta tempero ao caldo: foi Antonio D'Auria (1912-1999), o D'Auria da Casa Verde, quem fez um pioneiro registro do lendário Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955), o Garoto, um dos maiores violonistas brasileiros. A gravação viria a influenciar gerações de músicos fluminenses.

"Em São Paulo havia três grandes violões: o Garoto, o Armando Neves, que papai conheceu, e o Aimoré. O Jacob tinha grande amizade com o D'Auria, que tinha um grupo (Conjunto Atlântico) de que Izaías fez parte. Ele gravou o Garoto tocando em sua casa e deu a fita ao Jacob, que mostrou pra todo mundo no Rio."

O "papai" a quem Paulinho se refere foi o músico César Faria (1919-2007), fundador do grupo Época de Ouro e figura catalisadora do choro no Rio - a quem o artista ambiciona prestar homenagem em 2019, quando ele faria cem anos.

"Foi por meio de papai que conheci muita gente importante: Jacob, Pixinguinha, Canhoto da Paraíba, Heitor dos Prazeres. Todos frequentavam reuniões em casa para tocar sucessos de Orlando Silva."

A ideia inicial era aproveitar o show desta sexta (18) para engatar o tributo, mas Paulinho adiou os planos - alheio à velocidade e aos deadlines...
Quando tal momento chegar, ele pretende dar vida a três heranças. "Papai não era de compor, mas deixou três choros. Um deles foi gravado num disco; tenho uma cópia, mas não sei onde botei."

A lembrança prossegue e ganha tom de poesia. "Quando papai fez a canção, escrevi e mostrei ao Jacob. Ele decorou e um dia apareceu em casa tocando como se tivesse escrito. Papai ficou lívido, mas não disse nada; deve ter pensado: 'Como pode ele ter escrito igual?'. Passamos anos dando risada dessa história."

Fonte: Folha Press

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