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Na várzea, filhos lembram Dener 25 anos após morte

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No campo do Parque Bristol, na zona sul de São Paulo, o time do Pereirinha aguarda o apito do juiz para fazer a bola rolar. O amistoso na várzea é motivo para união dos três filhos de Dener.

Foto - Reprodução

O mês de abril marca os 25 anos da morte do meia-atacante que defendeu Portuguesa, Grêmio e Vasco da Gama e era tido como uma das maiores promessas do futebol brasileiro na década de 90.

Para homenagear o pai, Denis Henrique, Felipe Augusto e Dener Matheus resolveram estar juntos num campo de futebol.

"Estar aqui e reunir os meus irmãos para bater uma bola acaba sendo uma espécie de homenagem ao meu pai. Futebol é o que ele mais gostava de fazer. E nós também", afirmou Dener Matheus.

No encontro, que ganhou contornos de reunião familiar, estiveram primos, tias e sobrinhos. Tudo para ver os três reunidos em campo. Entre fotos, abraços e muita conversa, os irmãos logo viraram alvo dos frequentadores do bar que fica ao lado do campo.

"Se eles fizerem a metade do que o pai fazia, esse jogo nem vai ter graça", disse o corintiano Hamilton Santos, de 56 anos, que ficou curioso ao saber que os filhos do Dener estavam ali juntos na várzea.

Sem condições de jogar por se recuperar de um acidente, Denis Henrique, 29 anos, ficou na beira do campo. Dividido entre a conversa com os amigos e o desempenho dos irmãos, o primogênito fez o que se espera de um auxiliar-técnico: orientou, torceu e chegou a perder a cabeça.

"Toca logo a bola. Vai para cima. Estamos perdendo muitos gols", esbravejou.

Dentro de campo, o que se viu foi um jogo disputado. Volante com bom toque de bola, o caçula Dener Matheus vestiu a camisa 8 e mostrou estar bem fisicamente. Aos 25 anos, ele foi o termômetro do time. 

Dois anos mais velho, o irmão Felipe Augusto atuou no ataque. Canhoto, o camisa 14 por pouco não balançou a rede no primeiro tempo em duas boas chances dentro da área.

"Pelo amor de Deus, vocês não gravaram os gols que perdi, né?", brincou ao sair do campo.

Parceiro de Dener na Portuguesa, Tico esteve no jogo, vencido por 2 a 1 pelo Pereirinha.

"Esse aqui ", diz Dener Matheus apontando para Tico, "é tudo para mim. A minha referência. Tudo que sei do meu pai, é através dele. As histórias de jogo, dos bastidores. É o pai que não tive".

"Sempre fico triste quando se aproxima o aniversário da morte do meu pai. Aquelas reprises, as entrevistas para falar da falta que ele faz. Me incomoda. Mas esse encontro, num campo de futebol, com a família reunida, foi uma coisa boa", diz Matheus.

Com quadros e troféus da carreira de Dener, os filhos e o escudeiro Tico posaram para fotos e ganharam aplausos.

Dener já estava praticamente negociado com o Stuttgart, da Alemanha, quando morreu em acidente de carro no Rio de Janeiro. Tinha perspectiva de ganhos milionários com a transferência para a Europa. A morte prematura em 1994 mudou o destino de seus três filhos.

Sem o marido, o que a vida reservou para a esposa Luciana foi uma rotina de dificuldades financeiras para criar os filhos.

"Passamos necessidades. Nunca faltou comida, pois minha mãe sempre batalhou muito. Mas às vezes faltava uma mistura. O que doía é que tínhamos dinheiro para receber dos clubes e essa dívida demorou anos para ser quitada [foi paga em 2015]", afirma Denis Henrique.

Atualmente, ele trabalha como consultor bancário e ganha de dois a três salários mínimos por mês. Denis conta que encarou muita coisa para ajudar nas despesas de casa.

"Dos 12 aos 16 anos eu e meu irmão tentamos jogar bola. Era difícil por causa da comparação com o pai. E os outros meninos achavam que tínhamos privilégios. Desistimos", afirma.

Após abandonar o futebol, começou a trabalhar aos 17 anos. "Fui auxiliar de pedreiro, ofice-boy, estoquista em fábrica, técnico de segurança do trabalho e outras coisas", lembra.

Felipe Augusto, filho do meio, trabalha no mesmo ramo do irmão. Tem três filhos e conta que as dificuldades uniram ainda mais família.

"Sempre juntos. Temos que ser assim. A luta sempre foi muito grande", comentou.

Engajado no projeto social que atende cerca de 300 crianças dos 5 aos 16 anos, Dener Matheus é uma espécie de faz-tudo no time do Pereirinha. Além de apitar jogos, ele ajuda em outras atividades.

"Isso é muito gratificante. Tiramos crianças das ruas e usamos o esporte como forma de inclusão na sociedade", afirma.

TONI ASSIS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

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