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Caminhos do empreendedorismo: histórias de quem apostou no microcrédito e mudou de vida

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Por Hérlon Moraes - Cidadeverde.com
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A nossa viagem por histórias inspiradoras de pessoas que arregaçaram as mangas e tentaram mudar de vida através do empreendedorismo começa em Uruçuí, a 453 km ao Sul da capital, Teresina. A cidade tem uma população estimada em 20 mil habitantes, segundo o IBGE, e é conhecida carinhosamente como a capital dos Cerrados. Uruçuí está situada na chamada “última fronteira agrícola do país”. E foi apostando nesse pedaço de chão promissor que a alagoana Udineide Ribeiro, 44 anos, deixou tudo para trás em Colônia Leopoldina, onde nasceu, e resolveu acompanhar o marido em uma nova empreitada.

“Eu vim parar em Uruçuí, pois meu esposo trabalhava em uma empresa terceirizada. A empresa pegou contrato para a construção da Bunge (empresa multinacional de agronegócio e alimentos), aí tivemos que vir. Lá em Alagoas eu era pedagoga concursada. Eu tinha 12 anos de emprego e deixei tudo para acompanhar meu marido. Quando chegamos aqui, a única empresa que tinha grana era o posto de gasolina”, relembra.

Foi nesse posto de combustíveis que a vida da pedagoga começou a mudar. O primeiro passo foi sair do escritório e ir para a pista (espaço onde ficam as bombas de abastecer) atuar como frentista. “Como eu tinha currículo, o posto me pegou. Comecei no escritório, mas com dois meses eu pedi para sair. Eu sai porque achava que as pessoas precisavam me conhecer. Na pista do posto não tinha mulher trabalhando como frentista. Eu fui a primeira frentista. Todo mundo achou escândalo na época: uma pedagoga querendo ser frentista. Minha ideia era ser conhecida. Eles tinham a cultura ainda que mulher não trabalhava de frentista”, afirmou.

Com um ano exercendo a função de frentista, ela viu que era a hora de faturar uma grana extra. A primeira ideia que veio em sua cabeça foi a comercialização de salada de frutas. O público era cativo. Por dia, cerca de 300 caminhoneiros passavam pelo posto. Para iniciar o negócio, ela precisou fazer um empréstimo no banco.

“Foi o primeiro Crediamigo que eu fiz. Me lembro como se fosse hoje. Eu tirei R$ 500. Comecei vendendo a salada de fruta no pátio do posto que eu trabalhava. Logo eu fiz o dinheiro das parcelas do empréstimo. Aí gostei do negócio. Com os juros baixos eu resolvi continuar”, conta emocionada.


Funcionários do Banco do Nordeste viraram amigos da dona Udineide. (Foto: Arquivo Pessoal)

No vai e vem oferecendo as saladas, dona Udineide percebeu que os caminhoneiros sentiam falta de alguns produtos no posto. Muitos deles dormiam no local e precisavam ir à cidade para comprar remédios e cuidar do visual, além de alimentação. Do bom papo de vendedora saiu uma pesquisa que mudaria os rumos do seu negócio.

“Na pesquisa eles me deram três opções: uma loja de frutas e verduras, um salão de beleza ou uma farmácia. Achei mais vantagem abrir a lojinha de frutas e verduras. Quando fui renovar o crédito, eu percebi que já poderia montar a loja. Comecei com a mercadoria, aí ficou faltando comprar freezer, geladeira. Lá vai eu tirar outra linha de crédito para comprar o material permanente. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Passei 3 anos com a loja. Do início da salada de frutas para a lojinha, os lucros começaram a me dar mais condições. Por exemplo: eu vendia a salada andando no pátio, depois eu comprei um carro. Tudo isso com dinheiro do lucro. Comprei aparelho de som, megafone, pois eu precisava anunciar que estava chegando. O pátio era muito amplo”, lembra.

Pensa que a história dela para por aí? Um belo dia a esposa do dono do posto comentou que precisava de pessoal para animar a festa de um ano do filho. Lá estava dona Udineide pronta para mais um desafio. Com a cara e a coragem, ela correu para o banco em busca de um novo empréstimo para ampliar os negócios.

“Na hora eu pensei: vou perder esse bico não. As amigas do meu grupo toparam animar a festa, mas a gente não tinha nada, nenhum material. E estava na época de renovação do Crediamigo. Peguei o crédito de novo, fui na loja e comprei todo o tecido de roupa de palhaço, comprei peruca, material de brincadeira. Fiz o planejamento e investi nessa questão de festa. Dessa festa nós fizemos muitas outras. Nos pacotes que me chamavam, eu já oferecia o lanche. E nisso eu fui crescendo, animando festas de crianças. Foi quando eu saí do posto. Eu pedi para sair porque eu já estava perdendo contrato de festas”, conta.


A pedagoga chegou a promover eventos e comercializar lanches em Uruçuí. (Foto: Arquivo Pessoal)

Como ela mesma diz: o povo de Uruçuí é muito festeiro. Não demorou muito para as festas infantis abrirem espaço para as formaturas. “Certo dia, uma amiga - que eu já tinha animado uma festa pra ela - me procurou dizendo que o pessoal que ela tinha contratado para uma formatura não poderia ir. Eles eram do município de Floriano. Eu disse pra ela que fazia a festa, sem nunca ter feito algo assim. Lá vai eu correr pra onde? Pro Crediamigo. Foi uma correria. Montei meu material de oratória de festa e arrasei. Tudo eu tinha. Comprei máquina de picar papel e outra que jogava o papel, o canhão”, diz empolgada a pedagoga.

No fim das contas, os anos de pedagoga falaram mais alto. A frentista, que também foi vendedora de salada de frutas e dona de loja, deu lugar a uma consultora na área de educação. Atualmente, dona Udineide ganha a vida fazendo conferências em várias cidades da região e até no Maranhão.

 

“Na época aqui não tinha muito pedagogo. A secretária de educação do município de Sebastião Leal me ligou perguntando se eu tinha alguém para fazer a conferência de educação da cidade. O dinheiro na época brilhava os olhos. Aí eu disse que fazia. Só que eu precisava de dinheiro, pois eu tinha que comprar vídeos, material, tudo completo. Eu tinha que estudar muito. Graças a Deus deu muito certo essa conferência. Depois fui fazer outras. Foi quando peguei o Crediamigo e investi na parte de formação dos municípios, onde estou até hoje. Hoje sou consultora pedagógica”, comemora com sorriso largo.

Terra cheia de energia

De Uruçuí, chegamos a São João do Piauí, a 483km ao Sul de Teresina. O município tem uma economia forte na região voltada para a agricultura familiar, pecuária, fruticultura - com destaque para a uva - e o comércio. Nos últimos anos, a bola da vez é a chegada de empresas internacionais que estão investindo pesado em parques de energia solar. Os empreendimentos geram emprego e fazem o dinheiro circular na cidade. Quem tem espírito empreendedor está aproveitando as oportunidades. A Jardeane Sousa é um exemplo. De funcionária, ela virou dona do próprio empreendimento.

“Eu comecei como funcionária de uma loja e, em paralelo, eu vendia roupa de casa em casa para os amigos, vizinhos, familiares, além de semijoias”, lembra.

Quando estava de licença maternidade da única filha, Jardeane passava pelo Centro de São João do Piauí, quando viu uma loja para vender. O que aconteceu depois, ela mesma conta.

“Foi de repente. Eu trabalhava nessa loja, aí engravidei e na minha licença maternidade vi essa loja no Centro pra vender. Corri atrás pra comprar ela e deu certo”.

Com o sotaque peculiar do sanjoanense, ela lembra que fez “das tripas coração” para realizar seu sonho. “Estava sem dinheiro, sem nada, pedindo ajuda a um e outro, mas deu tudo certo”, afirma.

Experiente no ramo, as vendas foram fluindo e, através do programa Crediamigo, pôde ampliar seu estoque. Era a hora de sair da loja que trabalhava para cuidar do próprio negócio.

“Eu era gerente na outra, mas não deu para continuar. Conversei com meu patrão e fui tomar de conta da minha (loja). Fiz o Crediamigo e devagarinho fui crescendo. Não tenho do que reclamar. Fui botando umas coisinhas e crescendo e crescendo. Não estou milionária, mas eu vivo daqui”, ressalta orgulhosa.

Com o faturamento, a empreendedora de 32 anos hoje mantém uma funcionária na loja, que tem de tudo um pouco. “Eu vendo confecção masculina, feminina, acessórios, bolsas e perfume. Daqui eu tiro o meu sustento, que não é fácil”, conta.

Preocupada com a clientela, Jardeane sempre está atrás de novidade para seu estabelecimento. “Sempre que posso eu invisto na loja em mercadorias. Eu continuo na luta”, diz.

Um negócio “Diouro”

Francisca de Assis de Andrade Lopes ou simplesmente “Diouro”. Essa teresinense de 47 anos não deixou escapar nem o próprio apelido na hora de realizar o sonho de montar o próprio negócio. Cabeleireira há 30 anos, ela faz literalmente a cabeça dos seus clientes no bairro Piçarreira, na zona Leste de Teresina. 

“O Diouro veio desde criança. Minha irmã colocou em mim e, por incrível que pareça, foi pelo cabelo, pois era um preto muito brilhoso. Minha irmã mais velha colocou e pegou até hoje. Adorei a profissão de cabelereiro, me encantei, e meu apelido ficou”, lembra.

O caminho percorrido pela cabeleireira não foi fácil. Chegou a trabalhar 15 anos como auxiliar em um salão da capital até decidir mudar de vida. “Desde o início meu negócio sempre foi cabelo. Comecei como auxiliar em um salão de Teresina e logo depois coloquei um salão em casa para começar. Daí fui pegando cliente, fazendo propaganda, mas era um serviço bem pequeno. Comprei algumas coisas e fui começando”, conta.


Diouro trabalhou 15 anos em um salão até decidir montar a própria empresa. (Foto: Roberta Aline/Cidadeverde.com)

Com a clientela aumentando, “Diouro” se deparou com um obstáculo que muitos enfrentam: a expansão do negócio. Mais uma vez sua irmã estava lá para ajudar. “Através da minha irmã eu tive contato com o microcrédito, já que meu salão era muito pequeno e precisava de muita coisa. Naquela época, há 15 anos, tudo era muito difícil. Eu não tinha condição de ampliar como eu queria. Meu primeiro empréstimo foi de R$ 500. Se fosse hoje era muito pouco, mas há 15 anos era muito. Usei o dinheiro para comprar material, comprar produtos, equipamentos. Daí fui começando a investir”, relembra.

Bastou o primeiro financiamento para os horizontes se abrirem. A cabeleireira não só aumentou o salão, como construiu sua casa no mesmo prédio. Uniu o útil ao agradável. “Quando terminei o empréstimo, comecei novamente e assim fui fazendo a cada 6 meses. Como o crédito foi aumentando, eu comecei a investir no salão. Eu fiz o salão e fui pensando alto e fiz foi minha casa também. Eu moro no mesmo prédio do salão”, diz orgulhosa.

O Salão da “Diouro” atende em média 20 clientes por dia. A proprietária já se movimenta para dar mais um passo: a contratação de uma auxiliar, função exercida por ela no começo da carreira.

“Hoje consegui concluir meu salão. Em média eu atendo de 20 a 30 clientes por dia. Faço de tudo, só não a parte de estética. De cabelo, tudo que se imaginar eu faço. 50% do meu empreendimento hoje foi graças ao microcrédito. Deus usou o banco para me ajudar. Já estou me organizando para colocar mais alguém comigo”, diz a empresária, que comemora cada cliente conquistado. 

“Eu tenho cliente do começo da minha profissão, desde quando eu trabalhava no outro salão. Nunca me deixaram. Sempre eu conquisto mais clientes. Dia desses um me mandou mensagem dizendo que já estava com 35 anos que me conhecia. Comecei a cortar o cabelo dele criança”.

Casada e mãe de dois filhos, Diouro reconhece que só conseguiu montar o salão porque resolveu arriscar. Hoje ela colhe os frutos do trabalho realizado. “Tudo que eu já consegui até hoje foi através do Crediamigo. Antes eu não trabalhava pra mim. Hoje eu trabalho. É muito diferente. Montar meu próprio negócio foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Tudo que eu conquistei até hoje foi através da minha profissão. Seria um sonho muito difícil de realizar se não fosse o microcrédito. É muito difícil ter uma pessoa que ajude, então esse é o caminho. É muito caro para montar um salão. Os equipamentos são caros, os produtos. Em um período difícil eu tenho como me manter, eu não fico aperreada. E sempre guardo um pouco também”, comemora.

Uma loja especial

Um litoral pequeno – com apenas 66km de praias – mas com grandes exemplos de superação na hora de empreender. A nossa viagem termina na cidade de Luís Correia com a história inspiradora da dona Telma Regina, de 49 anos. Sem poder sair de casa por causa do filho especial, ela resolveu montar uma loja na própria residência e hoje trabalha mais tranquila e ao lado de quem ama.

“Decidi montar meu próprio negócio para estar perto dele (filho). Por isso, montei em casa mesmo a loja. Isso foi em 2007. No início foi muito difícil”, conta.


 

A microempreendedora começou vendendo cosméticos e variedades e teve que sair do outro ramo que atuava. “Eu não podia trabalhar. Eu já tinha trabalhado em outras áreas, mas para ficar perto dele (filho) eu montei a loja. Com a ajuda do Crediamigo eu fui prosperando, fui crescendo. Foi na época que eu me separei e montei a loja na avenida”, relembra.

Com a loja agora funcionando na avenida principal de Luis Correia, a missão atual da dona Telma é superar os desafios impostos pelo comércio local.

“Aqui o comércio é um pouco fraco, mas a gente vai tentando se organizar de acordo com o que a gente pode. É complicado, mas a gente tenta prosperar”, finaliza.

Luis Correia é uma cidade que vive basicamente das altas temporadas. Nos períodos de carnaval e reveillon, a população de 29 mil habitantes chega a ser cinco vezes maior. Em 2019, segundo a Secretaria de Turismo do Piauí, cerca de 100 mil turistas curtiram a folia de momo nas praias do município. Em julho, período de férias escolares, 30 mil turistas pegam a estrada rumo ao litoral do Piauí. As praias mais visitadas são Atalaia e Coqueiro.

Litoral antenado

Ainda em Luís Correia, encontramos o maranhense de Araioses, José de Arimatéia Rodrigues, 51 anos, que deixou a oficina de eletrônicos que tinha para se tornar representante de uma TV por assinatura e vendedor de antenas parabólicas. O ramo é um dos mais carentes na região e o resultado não poderia ser outro: o sucesso.

“A gente já vinha trabalhando com oficina de eletrônicos há uns 20 anos. De uns dez anos para cá resolvi mudar e hoje trabalho com vendas de antenas parabólicas e sou representante de uma TV por assinatura aqui em Luis Correia. Vendo também variedades e acessórios, principalmente para celular, além de uma pequena assistência”, afirma o microempreendedor.

Adepto do microcrédito e com um funcionário, Arimatéia só pensa em progredir. “Um amigo me indicou o microcrédito e de lá pra cá a gente tem procurado melhorar nas vendas. Sempre temos procurado uma forma de progredir. A nossa intenção é crescer e desenvolver mais, sonhar mais alto”, acredita.


 

Arimatéia mora em Luis Correia desde os 7 anos de idade e sabe, como ninguém, que a região é movida as altas temporadas. É nesse período que a demanda pelos seus serviços aumenta. “São três temporadas por ano. E hoje o comércio está bem resumido a essas temporadas. Temos uma clientela que na alta temporada procura a gente, usa os nossos serviços periodicamente e, quando passa a temporada, a gente fica mais com o pessoal daqui”, afirma.

Como todo brasileiro, o microempreendedor viu a crise como uma grande ameaça, ainda mais em uma região sazonal, como é o litoral do Piauí.  

“O comércio aqui é razoável. A crise hoje existe em todo lugar. Eu me inteiro (informo) muito das coisas. Desde 2013, 2014, eu ficava pensando como eu ia sobreviver na crise, porque eu via grandes empresas fechando em Teresina. Aí eu achava que não conseguiria sobreviver. É um jogo de cintura e um desafio. Recentemente estive em Teresina e vi lojas que eu comprava com placa de aluguel. Hoje é um desafio se manter de portas abertas na crise. São coisas que deixam a gente surpreso e apreensivo”, relata.

Para combater o período de maré baixa nas vendas, seu Arimatéia tem uma dica simples: atender bem o cliente. “Tem que atender bem o cliente acima de qualquer coisa para você permanecer com ele. Este é o segredo. Qualquer loja só sobrevive se tiver cliente. Tem que deixá-lo satisfeito, tanto faz se o comércio é grande ou pequeno. Chega uma hora que a coisa vai se afunilando e as vendas diminuindo e você tem que conseguir fazer que o cliente não te deixe, mesmo diminuindo as vendas. A gente está conseguindo sobreviver mesmo com as dificuldades”, conta.

O conhecimento como ponto de partida

O sucesso da dona Udineide, da Jardeane, da Diouro, do seu Arimatéia e da Telma Regina só foi possível porque eles superaram o medo de empreender e o principal: se informaram sobre o negócio que queriam montar. Para a economista e especialista em empreendedorismo e consultora credenciada no Sebrae, Marilda Leitão, o conhecimento é a base na construção de um empreendimento. “O que pode te facilitar na empreitada? É o conhecimento. Mas não é conhecimento de passar em vestibular, é o conhecimento do mundo dos negócios. Um mundo bem peculiar, com as suas facilidades e dificuldades, com as suas sutilezas e coisas bem delicadas. Se a gente não tiver preparado, não vamos conseguir. O barco está na beira do rio, mas se eu entrar sem saber para onde eu quero ir, não vou chegar a lugar nenhum. O que você quer?”, questiona.


Marilda Leitão aconselha futuros empreendedores para que nada saia errado. (Foto: Letícia Santos/Cidadeverde.com)

Para ela, o medo em ter o próprio negócio é gerado por falta de conhecimento e objetivo. “Eu quero chegar aonde? Eu quero ter uma empresa? Eu quero ser independente financeiramente? Como eu chego a isso? Precisa estar preparado. O ser humano é assim: ele bota um negócio hoje e amanhã quer ficar rico. Não pode ter essa falsa impressão. É uma construção. Essa familiaridade com o mundo dos negócios é uma vivência de todo dia. Você vai aprendendo com seus erros, seus acertos, com seus concorrentes, fornecedores e com seus clientes. Os clientes dão muito feedback, muita orientação interessante. A gente tem que estar aberto para mudar, aprender, se não, eu não chego a lugar nenhum”, alerta.

“O ser humano é assim: ele bota um negócio hoje e amanhã quer ficar rico. Não pode ter essa falta impressão” (Marilda Leitão).

A consultora lembra que não existe aquele negócio apenas para servir de ocupação. O retorno financeiro sempre deve ser levado em questão. “Primeiro saber o que quer, depois se preparar para transformar isso em algo viável, rentável, lucrativo. Ninguém vai botar um empreendimento só para se ocupar. Mera ilusão isso. Mesmo quem bota para se ocupar quer ter um retorno financeiro. Primeiro eu tenho que saber o que eu quero, pois a partir daí eu começo a avaliar facilidades, dificuldades. Tem o saber técnico e o saber de gestão.  Como é que eu vou botar uma indústria de confecção se eu não entendo nada de roupa? Com o saber técnico e o saber da condução do negócio você vai rompendo barreiras por mais difíceis que elas pareçam ser”, explica.

De acordo com a consultora, o microempreendedor só deve pensar na legalização quando não tiver mais dúvidas de que ramo vai seguir. “A legalização vem depois que você descobre o que quer e como quer. O MEI (Microempreendedor Individual) limita o faturamento e faturamento não é lucro. O MEI é uma lei do governo federal para beneficiar o pequenininho mesmo. Muita gente fica na sombra, jogando num ambiente delicado para se enganar e, atrelado a isso, não deixa a empresa crescer para não sair dos benefícios do que é ser um MEI. Do ponto de vista das exigências é bem mais simples. A forma como você vai legalizar vem depois, por isso que o Sebrae tem esse combo "Começar Bem", que orienta sobre linhas de créditos e modelos de negócio”, esclarece.

As dúvidas pairam na cabeça até de quem já está no mercado, alerta Marilda. “Até quem já está dentro tem dificuldades de se encontrar. Tem gente que entra, dá até certo, e quando chega em um determinado momento se perde, pois não sabe segurar. Ele olha para a bola de cristal, mas não sabe ler o que tem lá. O mercado é a mola propulsora. É ele quem diz o que precisa mudar. As pessoas não sabem o que é uma empresa, os custos. Querem tomar uma decisão sem conhecer o terreno que vai entrar. Depois fica difícil consertar”, alertou.

225 mil visionários

Maior programa de microcrédito produtivo e orientado da América Latina, o Crediamigo, do Banco do Nordeste, possui 225 mil clientes ativos no Piauí. Só ano no passado foram investidos R$ 982 milhões em aplicações, 2,58% a mais que em 2017, marca considerada histórica. 

“O Crediamigo visa incentivar a geração de emprego e renda entre os microempreendedores urbanos do Nordeste.  Visa a inclusão financeira. Ele dá condição para o microempreendedor melhorar a sua atividade, por meio de pequenos empréstimos que são feitos com renovações de acordo com a sua necessidade”,  explica o gerente regional do Crediamigo no Piauí, Fernando Mourão.


Equipe do Credamigo em Teresina acompanha os clientes e orienta os investimentos. (Foto: Roberta Aline)

Segundo o gerente, o diferencial do microcrédito é a metodologia. Além de emprestar o dinheiro, o banco acompanha o investimento. “Nosso carro chefe é o grupo solidário. São no mínimo três pessoas que se juntam, normalmente vizinhos. Cada um precisa ter a sua atividade. Quem não tem pode até começar a atividade, desde que já ingresse em um grupo consolidado. A garantia é o aval do próprio grupo. Além do crédito, a gente fornece a consultoria. O agente de microcrédito, além de emprestar o dinheiro, capacita o microempreendor. Ele faz ações de calcular o fluxo de caixa, por exemplo”, explica.

Com tantas facilidades, o Crediamigo possui uma das mais baixas taxas de inadimplência do mercado. Feito comemorado pela instituição financeira. “Pra gente é interessante que o empreendedor saiba que aquele dinheiro, ele tem que aplicar em sua atividade, até porque se ele não aplicar perde todo o sentido. Não pode ter desvio de crédito. Uma forma de comprovar que o objetivo é alcançado é que de cada R$ 100 emprestados, R$ 97,5 voltam. Ou seja, a nossa inadimplência é de apenas 2,44% ao ano. É muito baixa”, comemora.

Os créditos variam de R$ 300 podendo chegar até R$ 15 mil. “Trabalhamos com três grupos de estruturação. Temos aquele cliente com renda mais baixa, que pega ali R$ 500, R$ 1.000 ou somente  R$ 300. Um exemplo: o cliente que tem uma lanchonete e precisa comprar um liquidificador, aí o produto custa 300 reais e ele não tem esse dinheiro. Ele vem, pega o crédito, compra o liquidificador, paga em 4 meses ao invés de ficar devendo a loja. Ai com o financiamento ele já coloca uma prateleira, um freezer ou até mesmo para capital de giro. Trabalhamos com capital de giro e investimento”, detalha Mourão.

“Fomos o primeiro banco federal a trabalhar com microcrédito. A gente promove a inclusão financeira. Acumulamos muitas histórias de sucesso ao longo desse tempo”. (Fernando Mourão)

"Você empreende por necessidade ou vocação"

Questionado se a crise afastou os clientes, Mourão explica que o empreendedorismo reage de forma diferente aos momentos de turbulência. “O empreendedorismo tem uma particularidade em relação ao mercado convencional: ele é pré-cíclico. Normalmente a economia é formada por ciclos. Quando existe a crise, o empreendedorismo já sofreu ela um pouco antes e quando a economia está saindo da crise, o microcrédito já saiu antes. A gente sofre com a crise, mas a crise faz com que a pessoa desperte o seu lado empreendedor. Ao invés de ser uma crise é uma oportunidade”, afirma.

"Temos clientes que tinham uma banquinha de bombom e hoje estão com mercearia. Tem caso de clientes que não cabem mais no programa e vão para as linhas de crédito normais do banco e viram empresários mesmo”. (Fernando Mourão)

Atualmente, em toda a sua área de atuação, o Crediamigo possui mais de 2 milhões de clientes ativos e já atendeu 5,6 milhões de pessoas ao longo das duas últimas décadas. Só no Nordeste, o programa encerrou 2018 com cerca de R$ 9 bilhões em empréstimos, ampliando os recursos destinados aos microempreendedores da região. O valor é 11,2% superior ao aplicado no exercício de 2017.

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