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HUT atendeu quase 200 crianças vítimas de acidente de moto em 3 meses

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Fotos: Enviadas ao Cidadeverde.com por internautas

No final de semana passado, uma jovem de 25 anos caiu da moto que pilotava e morreu ao ser atropelada por um ônibus que passava na avenida Barão de Gurgueia, zona Sul de Teresina.  O acidente reacendeu o alerta sobre os perigos vividos no trânsito no Piauí, mas mais do que isso, incitou discussões a respeito de uma gravíssima infração que é muito comum por aqui: transportar crianças pequenas na garupa de motocicletas.

Alguns casos de acidentes envolvendo crianças em motos tiveram bastante repercussão no Estado. Em novembro do ano passado, uma bebê de apenas um mês de vida estava na garupa de uma moto e morreu quando a fralda que a embrulhava prendeu-se à roda do veículo e a puxou para o chão. Há um pouco mais tempo, em 2014, uma mulher e a filha de 3 anos morreram ao cair de uma moto, pilotada pelo pai, e serem atropeladas por uma carreta na avenida Raul Lopes.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) proíbe o transporte de crianças menores de sete anos em motocicletas. A infração é considerada gravíssima, gera sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), multa e suspensão do direito de dirigir. Apesar disso, muitos pais insistem em persistir no erro, argumentando, principalmente, problemas econômicos e a precariedade do transporte público.

“A gente é obrigado a isso para levar a criança ao hospital, à escola. É mais rápido que pegar ônibus e quem tem criança vive atrasado. Além disso, é muito mais barato comprar uma moto do que um carro. A gasolina que se gasta nos dois não tem nem comparação”, defende um zelador, de 35 anos, que não quis se identificar. Ele confessa que às vezes coloca mais de uma pessoa na garupa, inclusive seu filho, que é transportado no veículo desde que começou a andar. “Não tenho alternativa”, enfatiza.

 

BOX - Você sabia?
Transportar crianças abaixo da idade permitida e sem capacete caracteriza crime, previsto no artigo 132 do Código Penal – “expor a vida ou a saúde de outrem em perigo”. 

 

Somente neste ano, até a última terça-feira (2), 197 crianças foram atendidas no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) vítimas de acidentes com motos. Isso significa 8% das crianças que dão entrada. 

Risco de morte

O médico traumatologista Osvaldo Mendes, do HUT, ressalta que a criança pode se machucar de forma bem mais grave do que um adulto durante uma queda de moto por serem mais frágeis. "As crianças têm muita fragilidade. Elas não têm uma musculatura grande como a dos adultos, os ossos são mais frágeis... na verdade todo o organismo é muito mais sensível e fica mais vulnerável durante uma queda", afirma o traumatologista.

Ele alerta que, além de transportarem crianças pequenas em motos, muitas vezes os pais não colocam nelas os equipamentos de segurança necessários, como o capacete. "Geralmente, apenas colocam uma criança, ou até mais crianças, entre os pais, sem proteção. E também é comum que as pessoas comprem motos sem ao menos ter habilitação, porque é caro. Isso aumenta os riscos", pondera Osvaldo.

Em entrevista à Revista Cidade Verde, há alguns anos, o médico neurocirurgião Daniel França, que trabalhou no Centro Cirúrgico do HUT, considerou que colocar crianças em motocicletas é “crueldade”, visto que se trata de organismos em formação que não têm como se defender.

Ele frisou especialmente a situação de bebês recém-nascidos. “O organismo do recém-nascido é muitíssimo sensível e descompensa facilmente. A tolerância à perda de sangue é mínima, os pulmões são pequenos, o coração já trabalha em ritmo acelerado, o cérebro, que ainda está em desenvolvimento, é totalmente desprotegido, pois o crânio ainda está longe de ter seus ossos completamente formados e estes são finos e frágeis”, detalha o especialista.

França acrescentou que os traumatismos cranianos ocasionados por acidentes de moto acontecem sete vezes mais que a média mundial e são quatro vezes mais graves, principalmente por causa das lesões secundárias.

"As estatísticas mundiais revelam que, dos Traumatismos de Crânio, cerca de 11% são decorrentes de acidentes com motocicleta. No Brasil, esses números variam entre 18 e 24% e no Piauí, chegam a 70%", completou o médico.

Jordana Cury
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