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Sob risco de impeachment, Crivella enfrenta 'camarotegate'

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Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Sob risco de sofrer um impeachment, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), passou a ter nova dor de cabeça num tema do qual sempre preferiu manter distância: o Carnaval. Depoimento de um servidor municipal nesta segunda-feira (29) a CPI na Câmara Municipal envolve o assessor-chefe do gabinete de Crivella, Isaías Zavarise, na licitação sob suspeita de fraude para venda do camarote da prefeitura no Sambódromo.

Desde 2017, a gestão Crivella leiloa o camarote a que tem direito na Marquês da Sapucaí. Bispo licenciado da Igreja Universal, que condena a festa, o prefeito nunca acompanhou os desfiles das escolas de samba e decidiu vender o espaço para ajudar os combalidos cofres municipais.

Neste ano, uma nova regra para o leilão foi criada: caso não houvesse interessados em pagar a oferta inicial, de R$ 500 mil, duas novas rodada seriam feitas, a primeira por metade do valor inicial e a segunda, 25%.

Mensagens apresentadas pelo presidente da comissão da licitação, Alexandre Gonçalves de Souza, à CPI que investiga o caso mostram que Zavarise acompanhou de perto o andamento da disputa, mesmo sem qualquer participação formal na organização da disputa.

"Bom dia. Até o momento ninguém apareceu", informou Souza a Zavarise no dia 18 de fevereiro, data da licitação.

"Bom dia! Na primeira [chamada]? Agora vai pra segunda? O rapaz falou cedo que vinha pra licitação...", respondeu Zavarise.

Logo em seguida, o assessor-chefe de Crivella explica a situação para o presidente da comissão. "Eles estão aí esperando a hora da segunda [chamada]."

No dia seguinte, Zavarise volta a pedir informações sobre a disputa.

"Amigão, os caras pagaram o camarote??? Os caras disseram que pagaram. Pedi pra mandar a cópia do boleto. O rapaz chamado Rodrigo me ligou dizendo que eles pagaram o boleto no Itaú para transferir pro Santander, que devido ao valor a gerente ficou meia [sic] enrolada... isso que ele me falou", disse.

Minutos depois, o assessor do prefeito encaminha a Souza cópia do boleto pago.

A licitação teve a participação de quatro empresas, mas apenas uma apresentou oferta: a Lockerbling, empresa de blindagem. Ela aguardou a terceira rodada da disputa e arrematou o camarote por R$ 125 mil. Dias antes do fim da licitação, contudo, ingressos para o espaço já eram oferecidos na internet.

O certame foi organizado pela Casa Civil, à época comandada pelo vereador Paulo Messina (PRB), que reassumiu o mandato para defender Crivella na Câmara. Em depoimento à CPI, ele afirmou que determinou a abertura de sindicância à época que as primeiras suspeitas foram divulgadas.

Zavarise é um dos mais longevos assessores de Crivella. Trabalhou no gabinete do prefeito quando exercia o mandato de senador e presidiu o PRB no Rio de Janeiro. Ele também foi diretor de Marketing da TV Record, controlada pela Universal.

O assessor-chefe do gabinete do prefeito não foi encontrado para comentar o caso. O prefeito e a empresa Lockerblind não se pronunciaram.

Crivella é alvo de um processo de impeachment na Câmara Municipal, aberto no início do mês. Na semana passada, a comissão processante decidiu manter a investigação após analisar a defesa prévia do prefeito.

Ele é acusado de renovar de forma ilegal três contratos de concessão para instalação e exploração de publicidade no mobiliário urbano. A denúncia feita por um servidor da Fazenda municipal, contudo, foi apenas um instrumento dos vereadores para demonstrar a insatisfação com a gestão Crivella.

As articulações para remover o prefeito começaram após ele descumprir uma série de acordos firmados com membros da Câmara, além de não atender pedidos de obras e serviços para suas bases eleitorais.

A votação sobre a continuidade ou não do mandato do prefeito deve ser feita até o dia 4 de julho. Há dúvidas, porém, sobre a real viabilidade de derrubada do prefeito.

A insatisfação com a gestão Crivella na Câmara é quase unânime, mas parte dos que votaram pela abertura do processo teme pelo resultado de uma nova eleição direta neste ano –forma prevista pela lei municipal para ocupar o cargo de prefeito vago até o terceiro ano de mandato.

O cargo ficaria vago em caso de impeachment porque o vice-prefeito, Fernando MacDowell morreu no ano passado. O presidente da Câmara, Jorge Felippe (MDB), assumiria o cargo por um mês para convocar novas eleições.

Caso Crivella não caia em razão do processo de impeachment em curso, há a expectativa de novas denúncias. Além da própria CPI do Camarote, há outra comissão de inquérito que investiga o uso da estrutura da Comlurb em favor da candidatura do filho do prefeito, Marcelo Hodge Crivella, à Câmara dos Deputados.

Fonte: Folhapress

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