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Centro de Valorização da Vida atendeu 12 mil ligações em Teresina neste ano

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Uma palavra amiga dita no momento certo para alguém que precisa ter sua angústia levada a sério pode salvar vidas. É com esse propósito que o Centro de Valorização da Vida (CVV), em Teresina, funciona desde 1984. Neste tempo de existência muitas pessoas decidiram seguir vivendo após conseguirem desabafar sobre suas dores e sofrimentos aos voluntários que atendem às ligações da Central. 

O número do CVV é o 188 e a ligação é gratuita. Segundo Eyder Mendes, coordenador de divulgação do Centro, de janeiro e junho deste ano, uma média de 12 mil ligações foram atendidas pelo posto que funciona em Teresina. 

“As ligações atendidas em Teresina foram feitas de todo Brasil. Aqui em Teresina atendemos uma média de 2 mil ligações por mês. Nas ligações a gente faz a pessoa refletir se aquela é a melhor alternativa, faz ela falar sobre o problema dela. A gente atende de forma bem empática”, disse Eyder. 

Foto: Divulgação/CVV

O CVV oferece apoio emocional e prevenção do suicídio atendendo de forma voluntária pessoas com depressão e ideação suicida. É tipo um SAMU emocional. As pessoas ligam e conversam com os voluntários, que as atendem de forma respeitosa e disposta a ouvir seus desabafos.

Em Teresina, o CVV conta com a participação de 36 voluntários. Esse número precisa aumentar, segundo Eyder Mendes. Há uma rotatividade frequente de pessoas que se oferecem para integrar o Centro.

“Estamos precisando de mais voluntários, nossa meta é funcionar 24 horas”, disse Eyder. Para ser voluntário do CVV e ajudar salvar vidas é preciso ter, no mínimo 18 anos, disponibilidade de 4 horas semanais e participar de um curso de treinamento. 

“É qualquer pessoa de boa vontade de que saiba ouvir e conversar de forma serena, com empatia.”, informa Eyder. As conversas feitas através do CVV são sigilosas e quem liga para conversar também não precisa se identificar. 

O CVV também presta assistência via e-mail ou chat disponível no site https://www.cvv.org.br/.

É preciso prevenir 

A psicóloga Marcele Beatriz defende que a temática do suicídio tem que ser discutida de forma mais responsável na sociedade e deixar de ser tabu. Ela afirma que é preciso estar atento aos sinais e que ninguém se suicida “de repente”.  

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 90% dos casos de suicídio seriam evitados se estas pessoas tivessem tido acesso a apoio emocional adequado. A psicóloga Marcele se preocupa com o “Efeito Contágio” diante da forma errada como o suicídio é divulgado em Teresina. 

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Existe sim o Efeito Contágio e a gente precisa entender o que é esse efeito. A gente, sem saber, acaba divulgando essas informações de maneira errônea, publicar esses tipos de vídeo, mostrar a pessoa no ato do suicídio, expõe muito a pessoa e a família. O efeito contágio acontece quando as informações saem de maneira errada e as pessoas vulneráveis enxergam essas informações como autorização para que elas também cometam suicídio. Às vezes, a pessoa tem vontade, mas não tem coragem, e quando vê as pessoas falando de forma explícita, ela se autoriza a cometer o suicídio”, analisa Marcele Beatriz. 

De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, apenas entre janeiro e maio de 2019, aconteceram 23 suicídios em Teresina. Já o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) computa 160 tentativas de suicídio na capital.

A psicóloga Marcele Beatriz analisa que a sociedade teresinense precisa se preocupar mais com a prevenção dos casos de suicídio, principalmente em dar atenção às crianças, adolescentes e jovens, que hoje viveriam no chamado “abandono emocional”. 

“Eu vejo que Teresina está muito mais preocupada em cuidar depois que acontece, do que em prevenir. Hoje eu vejo muitas escolas trabalhando esse tema, mas antes não era dito. As pessoas achavam que falar em suicídio era induzir suicídio. Vivemos numa sociedade muito individualizada. Os adolescentes, principalmente, estão sendo muito cobrado. E não se dá suporte emocional que eles precisam”, pondera Marcele. 

Atento aos sinais 

O Ministério da Saúde classifica o suicídio como um fenômeno complexo, multifacetado e de múltiplas determinações, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero. 

Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo pode ser o mais importante passo para prevenir o suicídio.  Os sinais das ideações suicidas são mudança de humor, isolamento, ingestão de bebida alcoólica, solidão, triste, falta de esperança, dentre outros.  

Entre os fatores de risco para o suicídio, de acordo com o Ministério da Saúde, estão os transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicos e condições clínicas incapacitantes. 

Foto: Ministério da Saúde

“Vivemos numa sociedade muito egoísta, que não se preocupa com o problema do outro. Se a gente tiver uma sociedade mais empática, vamos ouvir melhor o outro e enxergá-lo, encaminhá-lo, incentivar a conversar com a família”, acrescenta a psicóloga Marcele.

A psicóloga Thaís Linhares destaca que os sinais de alerta podem indicar que a pessoa está pensando em suicídio e diz que é errôneo buscar associá-lo a um único motivo.

"Não existe um motivo para o suicídio, mas um aglomerado de situações em que uma única coisa se torna a gota d'água [...] o que existe é uma sociedade que está ali sufocando uma pessoa por conta de escolhas. Há também o lado social, o psicológico e o biológico, por isso as medicações são necessárias para se manter o equilíbrio. As pessoas querem achar um motivo externo que não existe. O organismo que está debilitado. A depressão e a crise suicida são deficiências do organismo. A terapia com o uso da medicação é sempre o mais indicado. A pessoa que está em uma situação de crise precisa se conhecer para aprender a lidar com a situação e pedir ajudar. A pessoa sempre dá sinais. Não é só o psicólogo que vai ajudar, tem que ter a medicação, a família por perto, o psicológo, a medicação, a religião, os amigos, a igreja [...] todos têm que estar envolvidos. É preciso unir forças; É preciso mais amor ao próximo", disse Linhares.

Ajuda

A Fundação Municipal de Saúde (FMS) um ambulatório especializado no acompanhamento de pessoas que tentaram suicídio e que fica localizado no Centro de Saúde Lineu Araújo, no centro sul da cidade, PROVIDA. 

O PROVIDA conta com psicólogos e psiquiatras e atende por demanda espontânea.

Foto: Ministério da Saúde

Além do PROVIDA, existem sete Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que possuem equipe multiprofissional e acolhem pessoas com transtornos mentais severos. 

“Já em casos de transtornos leves, as pessoas podem buscar uma das 90 Unidades Básicas de Saúde. Se houver necessidade, na própria Unidade é marcada consulta para psicólogos e psiquiatra, nos ambulatórios”, esclarece a FMS.

Em caso de urgência psiquiátrica, como surto psicótico ou tentativa de suicídio, a população pode acionar o SAMU, por meio do número gratuito 192 ou ir por meios próprios para o Hospital Areolino de Abreu, local que possui psiquiatras 24 horas. 

Organizações que contribuem com a prevenção do suicídio em Teresina:

 1.Centro de Valorização da Vida (CVV) – Telefone: 188 (disponibiliza linha telefônica para conversa amiga);

2.Centro Débora Mesquita (CDM) – Telefone: (86)99827-3343/ 98894-5742 (faz palestra sobre doenças mentais e suicídio, fornece atendimento psicológico e tem grupo destinado às pessoas que perderam um ente querido por suicídio);

3.Grupo Contato Apoio Contato e Esperança (GRACE) – Telefone: (86)3237-0077/3237-0202 (disponibiliza linha telefônica para conversa amiga, atende presencialmente na sede e também faz visita domiciliar).

 

Izabella Pimentel
[email protected]

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