João Gilberto morreu neste sábado (6), no Rio de Janeiro Senado/Divulgação/Agência Brasil
Parentes, amigos e admiradores de João Gilberto, que morreu aos 88 anos na tarde de sábado (6), em seu apartamento no Leblon, prestam homenagens ao cantor e compositor nesta segunda-feira (8) no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em velório aberto ao público.
O corpo chegou ao local no início da manhã, e a cerimônia deve durar até as 14h. Depois, o criador da bossa nova será enterrado no Cemitério Parque da Colina, em Niterói (região metropolitana).
Quieta, cabisbaixa e com as mãos entrelaçadas, a moçambicana Maria do Céu Harris, que morava com ele no fim da vida, não sai do lado do companheiro. As filhas Bebel Gilberto, da união com a cantora Miúcha, morta no ano passado, e Luísa, adolescente fruto do casamento com Cláudia Faissol, também estão entre os familiares presentes.
O primogênito João Marcelo, filho da cantora Astrud Gilberto, está nos Estados Unidos renovando o green card e não pode deixar o país, segundo seu advogado, Gustavo Miranda.
João Marcelo e Bebel estão envolvidos em disputas judiciais desde 2017, quando ela iniciou um processo de interdição do pai, diante de sua idade avançada e situação financeira -ele chegou a ser despejado do apartamento do Leblon, na zona sul do Rio. Recentemente, Bebel também havia pedido proteção judicial contra o meio-irmão, que a acusara de estar roubando o dinheiro do pai.
Algumas horas após a morte, ainda no sábado, João Marcelo disse em uma rede social que "os abutres já estavam se aproximando do apartamento" de João Gilberto. "Não haverá shows nem caixão aberto (a pedido dele), e eu peço que esses idiotas que estão atacando eu, Maria e minha família vão logo à MERDA e mostrem algum respeito", escreveu em inglês.
Cerca de 1h30 antes, ele havia anunciado a morte do pai e o homenageado. "Meu pai faleceu. Sua luta foi nobre, ele tentou manter sua dignidade à luz de perder sua soberania. Agradeço à minha família (o meu lado da família) por estar ali para ele", afirmou.
No salão inicial do teatro, uma coroa de flores da família Jobim diz: "Todo amor para o nosso gênio João". Outra, da cantora Rita Lee, afirma: "Homenagem ao mestre dos mestres". Entre os amigos que compareceram estão a atriz Glória Pires, que chegou cedo e não falou com a imprensa, e a cantora Hanna.
Hanna gravou em dois volumes o projeto "O amor é bossa nova - Homenagem a João Gilberto", que inclui duas canções autorais autorizadas por João Gilberto, "Ho ba la la" e "Bim Bom". "Estive com ele todos os dias da semana passada, ele estava super bem disposto. Não chegou a tocar comigo, mas cantava junto", disse ela ao chegar.
"João Marcelo [o filho mais velho] viu meu trabalho e disse: vou querer que meu pai te conheça, e me levou. A gente falou sobre esse trabalho que estávamos desenvolvendo, mas não deu tempo. Deus chamou para ele fazer nova bossa nova no céu, aí é com Tom Jobim e Vinicius de Moraes", completou.
Alguns fãs chegam aos poucos, limitados por uma fita a cerca de um metro do caixão aberto, e os seguranças pedem que não fiquem por muito tempo, por isso o local não está muito cheio.
Do lado de fora, o músico Paulo César Aguiar, 63, toca repetidamente a célebre "Chega de Saudade" e outras músicas da bossa nova em seu trompete. "Sempre me inspirou. Fica essa homenagem a ele", diz o admirador. Um outro músico toca violão.
A médica cearense Fernanda Maia Carvalho, 33, que estava visitando o Pão de Açúcar quando ficou sabendo da morte do cantor, no sábado, também decidiu passar no velório. "A grande mensagem da música é que ela é eterna, ela nunca morre. Então João Gilberto continuará vivo, com certeza", afirma, ao lado dos três filhos pequenos.
João havia completado 88 anos no início do mês de junho, quando apareceu em uma rara fotografia publicada por sua nora, mulher de João Marcelo, nas redes sociais. Ele não dava entrevistas e não recebia ninguém em casa, a não ser familiares.
Fonte: Folhapress
