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Após admitir falhas, esquerda quer evitar ser refém da pauta econômica

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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Deputado federal por São Paulo, Rui Falcão (PT)

Num primeiro semestre para ser esquecido, a esquerda enfrentou divisões, dificuldade de mobilização e não conseguiu escapar da pauta por vezes caótica ditada pelo governo Jair Bolsonaro. Terminou com uma dura derrota na votação da reforma da Previdência.

Na avaliação de líderes esquerdistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, é preciso não ficar refém da pauta econômica e ampliar os temas para evitar sorte parecida no segundo semestre.

Uma das dificuldades apontadas foi lidar com o estilo imprevisível de Bolsonaro e de seus ministros.

"Temos de refletir sobre o que foi esse semestre. Apesar da instabilidade do governo, Bolsonaro manteve o controle do debate público no Brasil", afirma o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros.

Para ele, com o ritmo frenético de temas lançados pelo governo e as declarações polêmicas do presidente e seu entorno, a esquerda acabou perdendo o foco de pontos essenciais, sobretudo a reforma da Previdência.

"A gente queria debater a reforma da Previdência e acabava discutindo uso de cadeirinha infantil no carro e se menino veste azul e menina veste rosa", afirma Medeiros.

Ex-presidente do PT e atualmente deputado federal por São Paulo, Rui Falcão diz que é hora de rever estratégias. "Não podemos ficar apenas na via parlamentar", diz ele.

A falta de mobilização da sociedade contra a reforma da Previdência, na avaliação dele, se refletiu no dia da votação da matéria na Câmara, em primeiro turno.

"Era um negócio desolador, não tinha nem 20 pessoas nas galerias do plenário", diz.

Houve algumas vitórias pontuais, aponta Falcão, sobretudo ter conseguido atrasar a tramitação da reforma, que ainda precisa ser votada em segundo turno após o recesso parlamentar, e a retirada de itens como as mudanças no pagamento do BPC (Benefício de Prestação Continuada). Mas faltou muito para uma vitória real neste tema.

Um dos problemas, diz Falcão, é a mudança estrutural no mercado de trabalho, que apresenta novos desafios para a esquerda.
"Você tem uma outra configuração de classe no país hoje, e isso torna a mobilização difícil. Aquela coisa de trabalhador concentrado, fácil de mobilizar, está acabando. Hoje o cara não trabalha mais de macacão", afirma.

O deputado federal Orlando Silva (PC do B-SP) concorda que a esquerda ficou presa a temas menores ao longo do começo do ano e ainda está aprendendo a se desvencilhar do estilo Bolsonaro.

"O presidente tenta montar armadilhas, tem sido pródigo nisso, e por vezes a esquerda morde a isca. Há método nesse aparente caos", afirma.
Uma dificuldade óbvia é numérica. Os partidos de esquerda somados (PT, PC do B, PDT, PSB e PSOL) reúnem 131 deputados, ou 25% da Câmara apenas. Isso sem contar as dissidências, como houve na votação da Previdência.

Ou seja, sem conquistar aliados nos partidos do chamado centrão, obter vitórias é altamente improvável.

No segundo semestre, não deverá haver um tema dominante na pauta da Câmara, como a reforma da Previdência.

A esquerda aposta que os campos de batalha principais se darão na reforma tributária, no pacote de segurança e combate à corrupção do ministro da Justiça, Sergio Moro, e nos cortes de gastos, sobretudo na educação.

Silva diz que, no caso da reforma tributária, a esquerda não deveria deixar o debate restrito aos termos preferidos do Ministério da Economia, da racionalidade do modelo.

"Temos de fazer um debate mais de mérito. A esquerda não pode se contentar com a simplificação tributária, temos de avançar na discussão de um sistema tributário progressivo", declara.

Para Medeiros, o grande desafio será identificar os temas que irão mobilizar a sociedade e antecipar-se no debate.

Ele diz que os cortes na educação podem ser um fator de mobilização popular que faltou na Previdência. "Os estudantes estão picados pela antipatia ao governo Bolsonaro", afirma. Falcão acrescenta a instalação de uma CPI mista sobre fake news como um momento promissor para a esquerda no segundo semestre.

Sua criação foi assegurada ao PT pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A investigação deverá ter como um dos temas a estratégia de campanha nas redes sociais utilizada na eleição do ano passado por Bolsonaro.

Na conta dos possíveis pontos otimistas para o segundo semestre, Falcão inclui também a possível progressão de pena para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba. "Seria um alento para nós", diz.

Fonte: Folhapress

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