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Celso Portiolli lembra os 25 anos no SBT e afirma que seu 'negócio é pão e circo'

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Foto: Divulgação/SBT

Quando começaram a surgir rumores que Angélica trocaria o SBT pela Globo, Celso Portiolli -que já trabalhava havia dois anos na emissora, mas atrás das câmeras, na produção do Topa Tudo por Dinheiro- viu que aquela era a sua grande chance de realizar um sonho: virar apresentador de televisão.  

Mesmo se dizendo tímido fora do ar, ele criou coragem e foi falar com Silvio Santos. O ano era 1996. A primeira resposta que ouviu do dono do SBT não foi nada animadora. "Ele falou: 'Ninguém te conhece, eu sou a segunda emissora do país, não tem espaço na grade. Aqui você não vai ser animador de televisão'", lembra Portiolli.    

Apesar da primeira negativa, ele não se rendeu. Algum tempo depois, quando de fato Angélica foi para a Globo, Portiolli assumiu o Passa ou Repassa e nunca mais deixou o canal. Hoje, aos 52 anos, ele comemora 25 anos de SBT, sendo dois deles nos bastidores.

Há dez anos comanda o Domingo Legal, atração dominical, ao vivo, com duração de quatro horas. O programa, que começa às 11h, teve média mensal de 8 pontos de audiência na Grande São Paulo (cada ponto do Kantar Ibope equivale a 73.015 domicílios) em julho, o que o coloca na vice-liderança, perdendo só para a Globo.

Para Portiolli, tão importante quanto o sucesso com o público é ter retorno financeiro. Nesse aspecto, afirma que o Domingo Legal é um sucesso também. "A minha meta nesses anos todos não foi só audiência, foi me transformar em um cara vendável para o SBT, porque não tem programa que dê prejuízo e fique na grade. [...] Silvio diz que no SBT ele tem os três melhores vendedores do Brasil: ele, o Ratinho e eu", afirmou, soltando uma gargalhada que lembrou a de seu patrão. 

O apresentador recebeu a reportagem do F5, no dia 21 de julho, enquanto se preparava para entrar ao vivo na atração. Em pouco mais de meia hora de conversa, ele falou sobre o início da carreira, da paixão pelo rádio, dos aprendizados no SBT e do seu canal no YouTube, que tem 4,7 milhões de inscritos.

Portiolli que, aos 24 anos foi vereador em Ponta Porã (MS), diz que não quer mais saber de política, embora se fosse candidato, afirma acreditar que ganharia "fácil". "Mas não quero saber. Eu não vivo disso. O meu negócio é pão e circo".

O apresentador é casado com Suzana Marchi com quem tem três filhos: Laura, Pedro Henrique e Luana

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
INFÂNCIA  

A minha primeira lembrança de criança que tenho é da Copa do Mundo de 1970. Quando o Brasil marcava gol, eu saia correndo em volta da casa, gritando gol e imitando os narradores. Tinha três anos. Pensei em ser narrador e treinei muito para isso, mas como não entendo nada de futebol.... (risos)
RÁDIO E FAMÍLIA

A minha história com o rádio é meio louca. Com 11 anos, eu imitava todos os personagens de Chico Anysio (1931-2012), era um talento que eu não sabia que era talento. Família grande, 11 irmãos, quando reunia todo o mundo, eu era o imitador, o contador de piada. Era hiperativo, então, eu fui expulso da escola. Quando sai de Ponta Porã (MS) e fui morar em Curitiba (PR), precisava tirar tudo 9, 10. Como eu tinha dificuldade para decorar as coisas, problema de foco, comecei a gravar as matérias, em um radinho 2 em 1. Eu gravava e ouvia (...)  E isso despertou interesse de gravar as minhas imitações, imitar os locutores de rádio. Um belo dia disparei: 'vou ser locutor de rádio'. Foi um dia até triste para mim. Era final de ano, toda minha família reunida, eu estava naquela mudança de voz, e eu falei: 'Vou ser locutor de rádio'. Todo mundo começou a tirar sarro, família muito brincalhona. Fui embora do restaurante a pé (risos), bravo.

SUCESSO EM UBERABA  

Recebi muito não, reprovei em muitos testes [para ser locutor]. Entrei numa rádio atendendo telefone, em Curitiba (...) Depois, resolvi fazer comunicação social em Uberaba (MG). No primeiro dia, consegui um emprego em rádio e tracei um plano para a minha carreira. Em Uberaba, ganhei dinheiro e fiz sucesso. Com 17 anos, fazia festas, tinha programa de rádio, fazia radinho da paquera. Montei equipe de som e comecei a ganhar dinheiro. Todo lugar que eu ia, eu batia recorde de público.


ENTREVISTA COM A CLAUDIA RAIA
Nas férias da faculdade, eu voltei para Curitiba e tentei fazer testes em algumas rádios, e fui recebido apenas por uma. Nesse dia, estava em cartaz a Claudia Raia. Foi a primeira artista que eu entrevistei na minha vida. Nem sabia da história dela, nada. Passei no teste e ganhei o horário das 14h às 19h. Voltei para Uberaba e, em uma semana, desmontei república, pedi demissão da rádio, larguei faculdade, namorada, e retornei chorando até Curitiba. Cheguei deformado de tanto chorar. 
 

FASE EM CURITIBA 

Fazia sete anos que a rádio era segundo lugar. No primeiro mês comigo empatou, no segundo mês passou, no terceiro mês, a rádio estava em primeiro lugar. Fiz tanto sucesso no rádio que fui parar na televisão. Foi lá que eu fiz o meu primeiro programa, programinha de clipes, que eu não queria fazer, mas como ameaçaram de me demitir, eu fiz e comecei a achar legal televisão.
 

RIBEIRÃO PRETO E SÃO PAULO
Curitiba foi muito bom, mas eu tinha a minha meta de chegar em São Paulo antes dos 21. Fui para Ribeirão [Preto], trabalhei em duas emissoras, fui muito bem. Chegou um tempo, falei: 'Vou embora para São Paulo'. Pedi as contas na rádio e vim pedir emprego. Consegui na rádio Transamérica, e na Bandeirantes. Cheguei com 20 anos.
 

VOLTA PARA O PAI  
O meu pai estava precisando de ajuda, tinha negócio de gado e estava sozinho. Voltei a trabalhar com o velhinho. Foi o maior acerto da minha vida até hoje, porque eu não tenho peso na consciência nenhum. Fiquei com ele até o fim. O meu pai morreu com 71 anos, de AVC. Eu que levei ele para o hospital.
 

TOPA TUDO
Quando ele faleceu, eu falei: 'Agora vou retomar a minha carreira'. Gravei uma fita contando minha história e mandei ideias para o SBT [de câmeras escondidas]. Um amigo meu, de Ribeirão, estava trabalhando com Silvio Santos e organizou para eu receber o dinheiro com o Silvio das minhas ideias [que tinham sido aceitas]. Encontrei com ele fora do ar. Ele me perguntou quanto eu ganhava, o que fazia, e ofereceu um pagamento bem menor do que eu ganhava, mas eu aceitei, porque o meu sonho era trabalhar no SBT. Mas eu era freela. Vinha para cá, 1.200 km de ônibus, ficava uma semana, voltava, mais 1.200 km, quatro vezes por mês. Quando soube que a Angélica ia sair, acabei me mudando para cá. 
 

PASSA OU REPASSA  
Vencer a timidez, ainda mais na frente de Silvio Santos, é difícil. Mas se eu não abrisse a boca ia perder a minha chance. Comecei a falar empolgado: 'Sabe o sangue que corre nas suas veias, que ferve na frente da plateia, o melhor momento da sua vida é estar no palco? O meu também é. Eu venho de rádio, de shows, de palco, gosto disso´. Comecei a falar, falar, falar, falar, falar... Ele olhou para mim e falou, com os olhos brilhando: 'Calma que o seu dia vai chegar'. Eu disse: 'Nem que seja com 80 anos, eu vou ser animador de televisão'. [...] Quando Angélica decidiu ir embora, ele [Silvio] me chamou: 'Você vai gravar um piloto, se for legal, te dou oportunidade'. Assinei um contratinho pequeno. 
 

PRIMEIRO PROGRAMA
O primeiro programa foi difícil, os primeiros anos de apresentador não são fáceis, porque depende do anúncio e do patrocinador. E quem quer colocar a marca numa pessoa que está começando? Silvio diz que um apresentador para ficar razoável, ele demora dez anos. E, apesar de no começo da minha carreira, eu ter programas com grande audiência, às vezes, não tinha muito patrocínio. Mas Silvio sempre foi muito generoso. Ele tinha criado há muitos anos uma maneira que o programa era lotado de merchandising, mas alguns não pagavam, outros pagavam pouco, exatamente para atrair anunciantes e colocar grandes marcas no programa. Isso me auxiliou muito. Hoje não. O Domingo Legal, por exemplo, é um case de sucesso. Tenho muitos parceiros meus, tenho ações minhas dentro do programa. Parte comercial é forte e tenho emissora de rádio (Ótima FM, no interior do estado).
 

DOMINGO LEGAL
Esse formato com três quadros (Passa ou Repassa, Xaveco e Jogo das 9 Caixas) está funcionando bem. Não precisa a cada domingo criar um programa novo, uma pauta nova com factual. Está funcionando bem assim comercialmente e de audiência. 
 

YOUTUBE  
Foi uma ideia da minha filha [Luana]. Ela falou: 'Por que você não faz um canal no YouTube?' Eu nem sabia o que era youtuber. Quando percebi que o youtuber era eu no começo do rádio, que era aquele carinha que queria comunicar, que queria fazer, poxa, eu consigo fazer. Tudo que eu aprendi nesses anos de carreira, eu coloquei no YouTube, tanto que eu edito os meus vídeos, eu escrevo, ilumino e gravo. A minha filha participa, ela entende mais do que eu, já nasceu nessa geração. Pedro [filho mais velho] é muito parecido comigo, faz imitações. Mas eu não forço, o meu pai nunca forçou. Meu pai falava assim: 'Faz o que você quer e o que você gosta, só não venha reclamar'. Eu espero que eles tenham a mesma atitude que eu. Comecei do zero, abri mão da herança, não quis nada do meu pai. Espero que eles não fiquem de olho no que eu construí, porque isso é para o pai e a mãe gastar (risos)...Tomara que eles tenham a mesma força de vontade que eu.
 

HATERS NA INTERNET
Não sou muito odiado pela galera. Sou um cara neutro, não incomodo muita gente. Às vezes, eu brinco com as pessoas, dou umas respostas meio atravessadas, umas tiradas. Às vezes, eu passo um pouquinho do limite só para ver o que que dá, mas trabalho bem. Tenho um lema na minha vida: Quem te irrita, te controla. Eu olho para o cara e falo: 'Ah...queria estar no meu lugar'. (risos)
 

FORÇA DA TELEVISÃO
É um negócio impressionante, a televisão tem uma força extraordinária. Nas minhas mídias digitais, às vezes, eu não consigo reverter tão bem [para os anunciantes] como na televisão. Não sei se isso no futuro muda, mas televisão é um canhão, é um negócio fora do comum.
 

SBT RECEBER FAMÍLIA BOLSONARO 
E vai receber quem? O que perdeu? Tem que receber o que ganhou (risos). Pode convidar o Haddad [Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência derrotado nas eleições] também, para ele participar do Jogo das Três Pistas, e qual o problema? Lula não pode, mas o Haddad pode vir aí, não tem problema nenhum.
 

VENEZUELA 
[Em novembro de 2018, Portiolli provocou polêmica ao publicar no Twitter uma imagem com os dizeres "Brasil ou você ama ou a Venezuela é logo ali"]. Retuitei um meme e acabaram comigo. Mas é o canhão da esquerda e o canhão da direita. O pessoal fala da Venezuela, não entendi o porquê, o que acharam ruim? Venezuela não é legal? Eu tinha recebido esse meme e retuitei, não era uma autoria minha. Mal sabem eles da história da minha família, porque meu pai mudou para Ponta Porã, porque minha irmã teve problemas ... [O apresentador não quis dar detalhes]. Se eu quiser hoje virar o canhão contra outra pessoa, vou lá e falo mal do Bolsonaro. Vou ganhar todo mundo. Isso é besteira...
 

POLÍTICA
Eu não vivo disso. O meu negócio é pão e circo. Se eu quisesse ser político, eu ia ser candidato, não ia me meter em discussão política, ser ativista político. Ia ser candidato e ia ganhar fácil, mas não quero, não quero saber de política. Torço pelo Brasil, sei quando o cara está indo mal, e quando está indo bem. Eu torço para o Brasil dar certo. A primeira coisa que as pessoas cortam quando o Brasil vai mal é mídia, e agora cortaram o dinheiro do governo também né (risos),
 

AVALIAÇÃO DO GOVERNO
Sempre trabalhei com crise. Desde que eu sou moleque, escuto falar em crise. Sou da época que faltava combustível, sou da época dos escândalos, não dá para avaliar ainda. São seis meses..vamos esperar mais um pouco.

Fonte: Folhapress

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