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Imortal da ABL é censurado em texto sobre peça de Shakespeare no Rio

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil 

Para o programa da peça "Iago", que estreia nesta quinta-feira (3) no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro, o poeta e tradutor Geraldo Carneiro, membro da Academia Brasileira de Letras, escreveu um texto intitulado "Iago feito aqui".

As analogias entre o personagem de Shakespeare e a política brasileira atual fizeram com que, segundo ele, o texto deixasse de ser publicado. "Iago" é uma versão de "Otelo" traduzida e adaptada por Carneiro.

De acordo com o poeta, a produção do espetáculo -que é protagonizado e codirigido por Marcio Nascimento- reconheceu que houve censura por parte do Sesc Rio.

Depois de uma nota publicada no jornal O Globo em 16 de setembro, uma funcionária do Sesc teria recomendado que não fossem feitas analogias políticas. Mais adiante, a produção informou a Carneiro por WhatsApp que um "peixe grande" teria determinado o veto.

Foi sugerido que se fizesse outro texto, mas ele recusou. "A única coisa a se fazer é denunciar", diz. "Vêm acontecendo coisas que eu imaginava que fossem flashes de um pensamento autoritário ainda não sistematizado. A gente começa a perceber que eles têm um projeto. O governo está promovendo uma cultura do terror."

Para Carneiro, o presidente Jair Bolsonaro é "completamente Iago". No terceiro dos cinco parágrafos do texto não publicado, ele escreveu: "Aqui, nos subúrbios do Ocidente, a história é ainda mais oportuna. Imagine um oficial preterido na carreira, que, movido pelo ressentimento, pretende destruir a república e a elite, representadas pelo general Otelo e uma mocinha da classe dominante. A alegoria é tão clara que não me atrevo a decifrá-la. Fica a seu critério, caro espectador"

No parágrafo seguinte há um trecho que faz alusão indireta ao desejo do presidente de nomear um de seus filhos, Eduardo Bolsonaro, embaixador do Brasil nos Estados Unidos:

"Só digo que a república de Veneza é um exemplo para o Brasil: nunca se meteu em negócios da China que não fossem do seu interesse e, desde o século 17, não permitia a nomeação de parentes para cargos públicos ou embaixadas."
Para Carneiro, o Sesc Rio pode temer mais cortes de recursos por parte do governo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ainda em 2018 que pretendia "passar a faca no sistema S" -também formado por Sesi, Senai, Sebrae e outras instituições.

O Sesc Rio afirmou, em nota, que "o programa da peça é de responsabilidade da produção do espetáculo". E confirmou a temporada de quatro semanas. Procurada,  a produção da peça não quis comentar.


Fonte: Folhapress 

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