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Presidente da Biblioteca Nacional associa Caetano Veloso ao analfabetismo

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Foto: Nogueira.r/Instagram

Não é simples descobrir o que Rafael Nogueira, escolhido nesta segunda-feira (2) pelo governo de Jair Bolsonaro como novo presidente da Biblioteca Nacional, pensa sobre o universo do livro e da literatura. Nos vídeos do seu canal no YouTube e em suas redes sociais, Nogueira fala sobre José Bonifácio,  a saída do presidente do PSL, supostas fraudes nas urnas eletrônicas e passa adiante as palavras de Olavo de Carvalho, de quem o autointitulado "aspirante a filósofo" se diz aluno.

À frente agora de uma das principais instituições culturais do Brasil, com acervo de livros que remonta à chegada da família real ao Brasil, em 1808, Nogueira pouco fala sobre livros e literatura. Ao buscar esses termos em seu perfil no Twitter, que conta com 40 mil seguidores, os resultados são poucos.

Um deles é uma mensagem de 2011: "Cadê nossa literatura? Quem é o herdeiro atual de Machado de Assis? Cadê a nossa filosofia? Espero que o legado de Olavo de Carvalho resolva..." Outro é de 2010: " A justificação dos crimes alheios pela pobreza, constante em nossa literatura e cinema, é uma mentira insultuosa aos pobres honrados."

No ano passado, ele se queixou de perder livros em sua biblioteca: "Não aguento mais perder livros na minha biblioteca. O problema de ter muitos é que, se não estiverem muito bem organizados, quando você quer um livro e não o acha, pensa até em comprar outro para não ter que persegui-lo por todos os cantos, estantes e móveis."

Procurado para comentar o seu projeto à frente da Biblioteca, Nogueira preferiu não dar entrevista e disse que só falaria com a reportagem depois de tomar posse. Se é pouco conhecido do mercado editorial, o novo presidente da instituição mostra em suas redes sociais ser mais próximo do universo da música. 

Em 2017, Nogueira associou Caetano Veloso, Legião Urbana e Gabriel O Pensador ao analfabetismo. "Livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel O Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto", escreveu

Já neste ano, ele lamentou a morte do músico André Matos. Vocalista de bandas como Angra e Shaman, Matos morreu aos 47 anos após uma parada cardíaca. Nogueira conta que começou a fazer aulas de canto após escutar o músico, tratado como seu vocalista favorito. Ele também se disse fã de Angra e de Shaman –no Twitter, o novo presidente da Biblioteca Nacional diz que o melhor show de sua vida foi a gravação do DVD desta última banda.

Além da música, ele também se mostra próximo do audiovisual. Nogueira é próximo da produtora Brasil Paralelo, que se firmou como referência na difusão de ideias de direita no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro.


Foto: CaetanoVeloso/Instagram

No seu canal no YouTube, ele incentiva seus seguidores a apoiarem o financiamento coletivo do filme "A Última Cruzada". A obra, prevista para o ano que vem, promete mostrar eventos que teriam sido negligenciados pela historiografia de esquerda.

Além disso, em outro de seus vídeos, ele passa nove minutos atacando um crítico da produtora, a quem define como "um careca que parece uma barriga de chope depilada falando". Nogueira assume a Biblioteca Nacional no lugar no lugar de Helena Severo, que colocou o cargo à disposição na sexta-feira (29) em uma carta enviada ao secretário de Cultura, Roberto Alvim. "Essa é uma instituição bicentenária com mais de 400 servidores. Qualquer governo tem o direito de trocar cargos de confiança a qualquer momento. Mas não concordo com a forma como isso tem se dado", disse ela à reportagem.  

Graduado em filosofia e direito e com mestrado em educação em faculdades de Santos, onde mora, Nogueira também é professor e já deu aulas particulares de humanidades e de redação para o Enem. Ele também está à frente do Ciclo de Estudos Clássicos, projeto pelo qual dá palestras em diferentes cidades sobre temas como Independência e Primeiro Reinado, fundação dos Estados Unidos e livros de Olavo de Carvalho.

Seguidor de Carvalho, Nogueira estava nos últimos dias em Portugal por causa do Colóquio Olavo de Carvalho. Já cotado para assumir a Biblioteca Nacional, ele visitou durante a viagem a Biblioteca Nacional portuguesa, em Lisboa. Além de Nogueira, o governo Bolsonaro nomeou nesta segunda (2) também o novo presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes), seguindo uma reforma volumosa no quadro da Secretaria Especial da Cultura e órgãos subordinados à subpasta do Ministério do Turismo, hoje sob comando do dramaturgo e diretor Roberto Alvim.

 

Fonte: Folhapress

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