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Flamengo cortou prêmios de funcionários por títulos em até 90%

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A diferença no valor entre a premiação esperada por funcionários do Flamengo e a efetivamente paga pelo clube pela conquista do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores do ano passado chegou a 90% em alguns casos.

Essa divergência levou jogadores da equipe a questionarem a diretoria do clube pouco antes de entrar em campo para disputar a final do Mundial de Clubes, em 21 de dezembro.

Planilhas obtidas pela reportagem, além de depoimentos de funcionários do Flamengo e pessoas ligadas a jogadores, mostram a divisão de valores.

Apenas um grupo de funcionários (os seis membros da comissão técnica trazida pelo português Jorge Jesus e alguns diretores) receberam o valor integral. Os demais passariam por cortes. A decisão de quem sofreria redução e o percentual foi tomado de forma arbitrária pela diretoria.

O total prometido aos atletas era de R$ 61 milhões: R$ 28 milhões pelo Brasileiro e R$ 33 milhões pela Libertadores. Por decisão dos jogadores, ainda em março de 2019, antes da estreia no torneio sul-americano, 30% da premiação em caso de títulos (equivalente a R$ 18,3 milhões) deveriam ser divididos entre funcionários do departamento de futebol.

Rodrigo Caio, William Arão, Diego e Everton Ribeiro representaram o elenco em reunião realizada na Bolívia, antes de partida contra o San José, em que foi definida a divisão.

Não foi isso que ocorreu na prática. Um funcionário do futebol próximo aos jogadores que deveria receber R$ 75 mil pelo acordo inicial ficou com R$ 13 mil. Secretários que teriam direito a R$ 27 mil embolsaram R$ 4.000, e seguranças dos atletas, que esperavam R$ 20 mil, tiveram R$ 2.100 pagos.

Um integrante da gerência de futebol que tinha cerca de R$ 370 mil a receber viu o depósito integral cair na sua conta. O mesmo ocorreu com o prêmio de R$ 1 milhão prometido a um diretor.

Houve também questionamentos com relação a impostos. Foram descontados 43,63% de alíquota sobre os prêmios -o máximo de imposto de renda é 27,5%.

Os descontos não foram aplicados aos integrantes da comissão técnica contratados a pedido de Jesus. Isso porque eles, incluído o treinador, tinham em contrato que todos os valores recebidos seriam livres de impostos.

O técnico português, por exemplo, ganhou como premiação individual R$ 6.090.345 pelo torneio sul-americano e R$ 4.574.363 pelo Brasileiro. Foram R$ 10.664.708 no total.

Discussões sobre o tema se tornaram públicas no dia da decisão do Mundial, mas as divergências começaram ainda em 13 de dezembro, dia do embarque da delegação para Doha, quando uma funcionária dos recursos humanos do clube levou as planilhas com as premiações para o CEO, Reinaldo Belotti.

O executivo procurou o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e disse que os valores a serem pagos aos funcionários eram muito altos, e que no mundo corporativo os bônus chegariam no máximo a quatro salários. Belotti é ex-executivo da Petrobras.

As discussões continuaram no Gran Hyatt, hotel em que a delegação estava hospedada. O vice-presidente de relações externas e um dos dirigentes mais influentes do clube, Luiz Eduardo Baptista, conhecido como Bap, defendeu a ideia de que no dia 20, data prevista para o depósito dos prêmios, deveriam ser pagos apenas os atletas e os "portugueses", indicando a comissão técnica de Jorge Jesus.

Ao saber disso, o técnico interveio. Disse que todos deveriam ser pagos ou ninguém. Dessa forma, todos os pagamentos foram retidos.

Os jogadores ficaram insatisfeitos com o impasse e argumentaram que o dinheiro era deles, não do Flamengo, e que não fazia sentido rediscutir um assunto acertado em março, mas Landim e Bap se mantiveram irredutíveis.

A divergência fez com que a equipe entrasse em campo para decidir o título contra o Liverpool sem definir qual seria a premiação em caso de vitória. Os ingleses venceram por 1 a 0, com gol na prorrogação. A diretoria também não quis discutir quanto eles receberiam pela vitória sobre o Al-Hilal, da Arábia Saudita, na semifinal.

Após o torneio os atletas saíram de férias e o pagamento da premiação pelo Brasileiro e Libertadores foi realizado, mas com os descontos.

O gerente de futebol Paulo Pelaipe foi demitido do Flamengo no início deste ano, em meio a uma guerra política entre Bap e o vice-presidente de futebol, Marcos Braz. A justificativa para sua saída foi de que ele teria vazado para a imprensa a falta do pagamento dos prêmios, o que ele nega ter feito.

Sua saída foi uma forma de o vice-presidente de relações externas tentar reduzir a influência de Braz, que se tornou popular com a torcida e associados por causa da montagem do elenco vencedor.

Procurado para comentar as informações da reportagem, o clube disse que esse é um assunto interno e não tem o costume de se manifestar sobre salários, bônus e temas relativos a esses.

ALEX SABINO E DIEGO GARCIA
SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

 

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