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Ouro nos Jogos do Rio, saltador Thiago Braz é demitido do Pinheiros

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Foto: Alexandre Loureiro/COB

 

O Pinheiros decidiu que não vai esperar os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021, para reduzir o investimento no esporte olímpico. O maior clube poliesportivo do país anunciou esta semana ao astro Thiago Braz que o contrato dele estava sendo rescindido de forma unilateral, com oito meses de antecedência.

O saltador, ouro na Rio-2016, já não é mais atleta do Pinheiros, mas receberá salários até o último dia deste mês de abril. A situação fica ainda mais delicada quando se observa que não há outro clube profissional de atletismo no país para o campeão olímpico defender.

Como o UOL Esporte revelou no começo do ano passado, o Pinheiros vive internamente uma forte queda de braço entre grupos que defendem o histórico de investimento no esporte de alto rendimento, que fez o clube paulistano ser referência no país, e grupos ligados à diretoria que veem esses gastos como supérfluos.

Mas, até o início do mês passado, a preocupação era o que aconteceria com o esporte pinheirense após os Jogos de Tóquio. O clube costuma firmar contratos anuais e, passada a Olimpíada, a tendência era o Pinheiros se desfazer de diversos nomes de peso. Como a competição foi adiada, o Pinheiros agora precisa estender os contratos por no mínimo oito meses para poder ganhar visibilidade com esses atletas olímpicos.

Em um momento de provável recessão na economia brasileira e sem grandes competições previstas para 2020, o Pinheiros preferiu não esperar. Na quarta-feira (22), procurou a NN Consultoria, dos pais de Neymar, que agencia Thiago Braz, e a comunicou da decisão unilateral.

Não houve comunicação direta ao atleta, até porque os dirigentes que o contrataram em 2017 também já foram demitidos. A assessoria de imprensa da NN diz que não tem conhecimento sobre o assunto.

Em nota à reportagem, o Pinheiros confirmou a decisão ressaltando que "o esportista que mora na Itália é um parceiro consolidado do Pinheiros". Thiago, porém, oficialmente mora no Brasil e apenas está em camping de treinamento na Europa.

De acordo com o Pinheiros, o clube irá arcar com uma multa rescisória, que seria de 50% dos valores devidos até dezembro. "Importante frisar que a rescisão poderia ser feita em qualquer período pelo clube e estamos arcando com todos os custos", diz a diretoria.

Internamente, a decisão pela rescisão com Thiago Braz se explica também pela falta de retorno no investimento. O atleta era um dos mais bem pagos do clube, o maior salário do atletismo, mas deu pouca visibilidade ao Pinheiros.

No atletismo, os esportistas só defendem seus clubes em uma única competição, o Troféu Brasil, onde o Pinheiros não tem adversários, já que é agora o único clube profissional do país. A competição nos últimos anos ocorreu em Bragança Paulista (SP), longe da imprensa e sem transmissão na TV.

Além disso, Thiago morou no exterior durante a maior parte do contrato com o Pinheiros e, exceto em sua apresentação, não participou de nenhuma entrevista coletiva promovida pelo Pinheiros, frequentando pouco a sede social - Rafael Silva, o "Baby", Arthur Nory e Marcelo Chierighini, outras estrelas do clube, fazem parte do dia a dia dos sócios nas alamedas pinheirenses.

Para piorar, Thiago teve duas temporadas muito ruins em 2017 e 2018 e, mesmo em 2019, quando voltou a saltar bem, não ganhou medalha nem nos Jogos Pan-Americanos. Também pinheirense, Augusto Dutra foi prata nesta competição.

A tendência é que Thiago Braz seja só o primeiro de uma grande leva de atletas que devem deixar o Pinheiros até a virada do ano. O primeiro nível do clube tem nomes como Fernando Saraiva, João Luiz Gomes Júnior e Nathalie Moellhausen, além dos já citados Baby, Nory e Chierighini. Atletas menos conhecidos já foram dispensados, pelo que apurou a reportagem.

Por enquanto, a única certeza é que todos tiveram cortes de 25% em seus vencimentos, regra que valeu também para funcionários do clube, em medida causada pela pandemia do novo coronavírus.

No basquete masculino, todo o time profissional recebeu carta avisando que seus contratos não seriam renovados e eles deveriam fazer exame demissional no final do mês, antes do fim do NBB.

Thiago Braz foi formado pela equipe de São Caetano do Sul bancada pela então BM&F, hoje B3. Ele deixou aquela equipe em 2015, após optar por ser treinado pelo ucraniano Vitaly Petrov, então consultor do COB (Comitê Olímpico do Brasil), em detrimento a Elson Miranda, funcionário da BM&F.

No entanto, Braz continuou na equipe satélite do grupo, a Orcampi, de Campinas, onde seguiu até o final de 2016. Após dois meses sem clube, fechou com o Pinheiros em fevereiro de 2017.

Além do salário do Pinheiros, Thiago também é bancado por um contrato de patrocínio com a Caixa Econômica Federal, via CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), e recebe apoio do COB.

O saltador estava em camping na Itália quando a pandemia teve início e optou por continuar lá com a esposa apesar do adiamento da Olimpíada.

DEMÉTRIO VECCHIOLI
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) 

 

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