No início do ano, Castro, médico de formação, causou irritação no casal Kirchner quando declarou que a súbita licença da presidente por motivos de saúde "chamava a atenção". Na ocasião, a Casa Rosada anunciou que Cristina havia tido uma lipotimia (pré-desmaio) e que por isso ficaria 48 de repouso (depois ampliado para cinco dias). "Uma lipotimia só precisa duas horas de descanso. Muito estranho", disse Castro, que suspeita de um caso de "depressão".
Os analistas indicam que Castro já estava na mira dos Kirchner desde essas declarações. A denúncia sobre a Electroingeniería teria sido a gota d'água. Os Kirchners possuem uma relação tensa com a imprensa, com a qual costumam não falar ("eles falam direto com o povo, não precisam de intermediários tal como os jornalistas", afirmou um assessor dos Kirchner ao Estado em 2006). Em diversas ocasiões, tanto Néstor como Cristina indicaram que a imprensa estava por trás da preparação de um "golpe de Estado" contra eles.
ONGs de defesa da liberdade de imprensa afirmam que vários jornais, canais de TV e rádios foram comprados nos últimos anos por empresários sem tradição na área de mídia, mas com o ponto comum de serem amigos dos Kirchner. Na quinta-feira, o tradicional jornal "La Nación" criticou os Kirchner em seu editorial, afirmando que são "os que mais 'cacarejaram' sobre Direitos Humanos, mas também são os que menos os respeitaram no último quarto de século". O "La Nación" também sustenta que "os meios de comunicação complacentes com a política oficial beneficiam-se com chamativas verbas de publicidade oficial".
Castro declarou à imprensa que o caso é uma demonstração de "que este é o verdadeiro Kirchner. O Kirchner intolerante". Segundo ele, o governo pretende "suprimir vozes críticas em um ano eleitoral". Em outubro a presidente Cristina enfrenta decisivas eleições parlamentares.
Fonte: Estadão