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Brasileiros dizem que preconceito na Europa é rotina

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Embora haja dúvidas sobre a versão da advogada Paula Oliveira, supostamente atacada por três neonazistas na Suíça na última segunda-feira, brasileiros residentes na Europa afirmam que o preconceito contra eles é quase diário. Mais comuns, os casos dos deportados nos aeroportos da Espanha não necessariamente são os mais frustrantes para quem cruza o Atlântico.

No caso mais grave encontrado pela reportagem, um brasileiro com cidadania italiana foi acusado por um homicídio que não cometeu, durante uma estada de cinco dias no sul da Suíça. "Foi a pior experiência da minha vida. Tenho dificuldades até hoje de lembrar deste dia", relata Casagrande, que prefere não ter o nome completo divulgado.

Segundo o imigrante, que mora há 20 anos na Europa e há seis estabeleceu residência na França, a polícia o acusou apenas porque ele não era da região em que o tal crime havia sido praticado.

Casagrande estava de passagem por Lugano, na Suíça, onde pensava em morar depois de não agüentar mais o preconceito que sentia havia 10 anos na Itália, apesar de ter cidadania do país.

Ele contou que, ao ingressar na casa de uma amiga brasileira, foi abordado por policiais suíços que o acusavam de ter matado uma mulher naquele mesmo dia. "Eles nem quiseram me ouvir. Agarraram, algemaram, levaram para a delegacia e lá tiraram toda a minha roupa", contou. "É uma indiferença completa com o estrangeiro como eu nunca vi igual."

O último relatório do Conselho dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Suíça, de 2007, denuncia "um dinamismo xenófobo e racista" no país.

Na época, o observador da organização, Doudou Diène, havia ficado espantado com o aumento exacerbado das preocupações ligadas à segurança, precisamente sobre o quanto os suíços relacionam os problemas de violência aos imigrantes estrangeiros.

Casagrande, que hoje tem dois filhos com uma francesa e mora na cidade de Bar-sur-Aube, só foi libertado pelos policiais oito horas depois, quando o verdadeiro assassino, suíço, confessou o crime. "Nunca mais boto os meus pés lá. A França também tem seu lado de preconceito, mas nada se compara à Suíça ou à Itália."

Liberdade, igualdade, fraternidade
Mas, para outros brasileiros que vivem na França, o país - berço dos Direitos do Homem - também não parece ser o lugar ideal para um estrangeiro viver. Por causa do preconceito que sofre no local de trabalho, a médica Juliana conta os dias para que a sua residência em um hospital parisiense termine. Há quatro meses morando na capital francesa, a jovem de 27 anos ficou espantada com as demonstrações de racismo dos colegas médicos franceses.

"Simplesmente eu não imaginava que no país onde foi criada a célebre frase 'liberté, égalité et fraternité' (liberdade, igualdade e fraternidade) e, portanto, culturalmente desenvolvido, houvesse tanto racismo, disfarçado ou não. Sofro diariamente no hospital", afirmou Juliana. Ela conta que tem de suportar agressões psicológicas dos colegas, "pequenos episódios diários de ridicularização e comentários cheios de ironia".

Conforme a médica, os residentes franceses não sofrem qualquer discriminação, mas ela e os outros estrangeiros são constantemente alvo de deboches, além de serem responsáveis pelas tarefas menos importantes durante o curso.

"Sou uma imigrante temporária. Graças a Deus, tenho data para voltar para casa", afirmou. "Mas, se não tivesse, tenho certeza de que seria tratada com ainda mais hostilidade."

Em geral, o problema não parece ter relação com a nacionalidade do estrangeiro e os brasileiros são tão visados pelos contrários à imigração quanto pessoas de outras origens.

Na França, por exemplo, o repúdio aos árabes com descendência magrebina - onde ficam boa parte das ex-colônias francesas - normalmente é bem maior do que às demais origens, assim como na Espanha a tolerância aos latino-americanos tem sido cada vez menor. No Reino Unido, até mesmo os poloneses começam a incomodar os britânicos.

A esperança de que ter fisionomia européia e boa condição social poderão evitar problemas na imigração não necessariamente se concretiza. Tatiana Dias, 30 anos, moradora de Zurique (Suíça) há dois, reclama que o sotaque estrangeiro é motivo recorrente para que seja menos bem tratada que os suíços, seja numa loja, num ônibus ou mesmo na rua.

A aparência discreta, a pele branca, os cabelos loiros e seu bom emprego não a livram do preconceito. "Eu abro a boca e já começam a me olhar diferente. Tenho a impressão de que só o sotaque já os irrita. Quando atendo ao celular em um ônibus, as pessoas ao redor imediatamente começam a me olhar com impaciência", diz Tatiana. "Uma vez, eu passeava tranquilamente em uma loja e me passava por qualquer suíça. Foi só começar a falar em espanhol com uma amiga que as vendedoras passaram a nos seguir pela loja. Um horror!"

E quem pensa que ao morar em um país lusófono os problemas estarão terminados, se engana. "Os portugueses são extremamente xenófobos", atesta Liliane Alves Fernandes, que há um ano faz estudos de mestrado na Universidade de Evora, no sudeste de Portugal.

"Sou completamente ignorada em uma loja desde que abro a boca e percebem meu sotaque. Não tenho sequer uma amiga portuguesa", disse Liliane, que decidiu falar sobre o problema com outras amigas brasileiras e descobriu que todas passavam pela mesma situação. "Para completar, tenho um namorado português que somente há pouco tempo apresentou-me aos seus pais, por ter medo que eles me insultassem ou me menosprezarem."

O que mais a espanta, no entanto, é a imagem das brasileiras para os lusos. "Em Portugal, duas ou mais brasileiras juntas é sinal de casa de prostituição. Já me ofereceram dinheiro e tudo", contou. "Na televisão, os portugueses traduzem cenas envolvendo homens que vão a casa de prostituição como 'vamos às brasileiras'."


Fonte: Terra

 

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