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Chile já avalia terceira dose de Coronavac e combinação de imunizantes contra a Covid

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Foto: Roberta Aline

País líder em vacinação contra a Covid-19 na América Latina, o Chile avalia implementar a aplicação de uma terceira dose de imunizante para a população diante da dificuldade de reduzir os números de contágios, mortes e internações.

A medida foi anunciada pela subsecretária de Saúde Pública, Paula Daza, na última sexta-feira (18). "Estamos apenas aguardando uma investigação científica que vem sendo realizada pela Universidade Católica". Já o infectologista Alexis Kalergis, que comanda a pesquisa, afirma que "a necessidade de usar uma terceira dose é quase certa, principalmente por conta da chegada das novas variantes".

Daza afirmou que o Ministério da Saúde do país analisa a possibilidade de oferecer uma terceira dose da Coronavac para quem tomou as duas doses. E quem tomou uma dose da AstraZeneca e tem menos de 60 anos poderá receber segunda e terceira dose do imunizante da Pfizer ou outro com base em RNA mensageiro (como o da Moderna).

Até o momento, o Chile aplicou a primeira dose em 63,4% da população (mais de 12 milhões de pessoas), e a segunda dose em 50% da população (9,4 milhões). Ainda assim, a ocupação de leitos de UTI segue acima de 90% em regiões que estão em alerta máximo, como a de Santiago, com mais de 8 milhões de habitantes.

O país já ultrapassou os 31 mil mortos por Covid e registrou 1,5 milhão de casos confirmados. As médias atuais de mortes têm sido maiores que as semanas com mais casos em 2020.
O governo também voltou atrás nas flexibilizações realizadas nos primeiros meses do ano e passou a escalonar restrições maiores ou menores nas áreas com mais casos novamente. Em Santiago, há toque de recolher e restrições à mobilidade. Aberturas comerciais retrocederam e não há atividade gastronômica. O país também está com as fronteiras fechadas, e os chilenos que regressam do exterior em voos especiais ou sanitários devem fazer cinco dias de quarentena em hotéis designados para isso, e outros cinco em casa, além de dois exames PCR -um na chegada e outro ao final do décimo dia.

Daza afirma que a definição sobre a necessidade da terceira dose ocorrerá em julho, depois da avaliação do Ministério da Saúde dos estudos científicos e das cifras de casos e internações. Já foi lançada, porém, uma nova estratégia de conscientização social para que as pessoas continuem se protegendo e evitando aglomerações clandestinas mesmo depois de terem tomado duas doses.

A campanha de vacinação no Chile começou em fevereiro. Até agora, 77% dos que foram vacinados receberam a Coronavac. Os demais imunizantes que vêm sendo usados são os da Pfizer e da AstraZeneca. Recentemente, o país começou a receber também as vacinas de Janssen e Cansino. Em negociação, está a compra de vacinas do laboratório Moderna.

Para o infectologista Pablo González, investigador da Universidade Católica, a "terceira dose pode não ter sido vislumbrada no começo, mas agora se vê necessária diante das novas variantes e com o passar do tempo. Tudo indica que uma pessoa que se vacinou com a Coronavac em fevereiro deveria receber uma terceira dose em setembro".

O ministro de Ciência, cuja pasta vem trabalhando junto com a da Saúde, Andrés Couve, afirmou que "o uso da terceira dose e como a ideia de combinar imunizantes de diferentes laboratórios já estão ocorrendo em outros países, por isso estamos trabalhando com essas possibilidades e não deixando de trazer mais imunizantes, embora em termos de quantidade o governo já tenha adquirido o suficiente para dar duas doses à população".

Para a chefe do departamento de epidemiologia da Universidad de los Andes de Santiago, é preciso reforçar as medidas de restrição. "As pessoas estão perdendo o respeito às medidas e não ficam em casa. As razões econômicas também começam a pesar", afirma.

Para a infectologista María Luz Endeiza, o uso de uma terceira dose pode ser necessário, mas ainda há tempo para que o impacto da vacinação seja sentido.

"Algumas mudanças já ocorreram. Hoje 85% dos internados em UTI são não vacinados e também são mais jovens, o que significa que as vacinas têm tido como resultado, por ora, em reduzir morte entre os mais idosos. Agora, é preciso avançar de acordo com a mudança da situação e da chegada das novas variantes."

REPERCUSSÃO

Para a imunologista Janeusa Trindade de Souto, uma terceira dose deve ser uma opção quando os vacinados com duas doses não estão protegidos. "É preciso primeiro ver quem na população está adoecendo. Se os vacinados estão protegidos, como parece ser o caso no Chile, é melhor avançar na imunização dos grupos que ainda não receberam nenhuma dose", diz a professora do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Impactos positivos mais contundentes com a vacinação devem aparecer somente quando pelo menos 70% da população estiver completamente imunizada, com as duas doses previstas nos estudos clínicos, afirma Dewton Vasconcelos, imunologista do HCor (Hospital do Coração).

A Coronavac, vacina mais usada no Chile, tem melhores resultados cerca de oito semanas após a aplicação da segunda dose, diz Vasconcelos. "Isso não significa que ela seja uma vacina pior; ela é uma boa vacina para proteger contra doença grave e mortes", afirma.

Segundo o imunologista, estudos que encontram produção menor de anticorpos específicos contra o Sars-CoV-2 em quem recebeu a vacina não devem ser interpretados como atestado de falha do imunizante. Há outras células de proteção geradas no sistema imunológico pelas vacinas que não podem ser detectadas com facilidade, mas que têm papel importante para proteção contra a doença.

Os especialistas concordam que cogitar uma dose adicional de reforço de qualquer vacina contra a Covid no Brasil ainda é prematuro.

"Temos uma porcentagem de vacinados muito pequena, então não faz sentido darmos três doses para um grupo quando ainda temos uma parcela enorme da população sem receber vacina", diz Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

De acordo com Kfouri, estudos estão em andamento para definir quando será necessário um reforço da vacina e se a mistura de diferentes imunizantes pode trazer melhores resultados de proteção. Novas formulações das vacinas, que possam ser mais potentes contra as variantes, também estão a caminho.

"O objetivo da campanha de vacinação, em uma primeira etapa, é diminuir as mortes e as internações. Com o surgimento das variantes e a baixa adesão às medidas de proteção, o que se espera é aumento na intensidade da transmissão do vírus, principalmente entre os mais jovens não vacinados", diz Kfouri.

Souto, da UFRN, diz que uma solução para acelerar a produção de células protetoras no sistema imunológico pode ser encurtar o intervalo entre as doses.

Estudos publicados em revistas científicas mostraram que a ampliação do intervalo entre as injeções poderia ser útil para aumentar o número de pessoas parcialmente protegidas em um cenário de escassez de vacinas. Porém, o surgimento de novas variantes com maior capacidade de gerar a infecção pode tornar necessária uma mudança nessa estratégia.

Atualmente, o intervalo na aplicação das doses das vacinas da Pfizer/BioNTech e AstraZeneca/Oxford no Brasil é de três meses. A Coronavac tem um intervalo de 14 a 28 dias.

Para os especialistas, o caso do Chile deve servir de alerta para o Brasil. "Nenhuma vacina é 100% eficaz, e por mais que a população esteja cansada, devemos permanecer com as medidas de proteção, como uso de máscara, distanciamento social e higiene das mãos", diz Souto. 

 


Fonte:Folhapress

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