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Dólar fecha em queda de 1,86% com declarações de Bolsonaro

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Após a alta de 2,89% ontem, em meio ao agravamento da crise institucional na sequência das manifestações de 7 de setembro, o dólar caminhava para encerrar o pregão desta quinta-feira (09) em leve queda, na casa de R$ 5,30. Operadores afirmavam que o declínio da moeda americana no exterior e a perspectiva de alta mais forte da taxa Selic, na esteira do IPCA de agosto acima das expectativas, abriam espaço para ajuste de posições e davam certo fôlego ao real, em dia até então marcado por queda da Bolsa e alta firme dos juros futuros.

Na reta final dos negócios, o jogo virou. Declarações em tom apaziguador do presidente Jair Bolsonaro sobre a crise dos Poderes colocaram o Ibovespa em rota ascendente e fizeram o dólar despencar - no momento mais agudo, a moeda rompeu o piso de R$ 5,20 e desceu até a mínima de R$ 5,1943 (-2,47%).

Com uma leve recuperação nos minutos finais da sessão, a moeda americana fechou a R$ 5,2273, em baixa de 1,86% - a maior queda porcentual desde 24 de agosto (-2,23%). Após o tombo de hoje, a valorização do dólar no acumulado da semana passou a ser de apenas 0,83%.

Em nota oficial chamada "Declaração a Nação", Bolsonaro faz um 'mea culpa' em relação às críticas contundentes ao Supremo Tribunal Federal (STF), em especial ao ministro Alexandre de Moraes, realizadas durante as manifestações do dia 7 de setembro Na ocasião, Bolsonaro havia dito que Moraes precisava ser enquadrado e que não cumpriria mais decisões do ministro. Ontem, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, rebateu Bolsonaro e disse que desrespeito a decisões judiciais configura crime de responsabilidade.

Analistas e operadores eram unânimes em afirmar que o dólar não cedia no mercado doméstico, a despeito do fluxo positivo e do aumento do diferencial de juros interno e externo, por causa do agravamento das tensões político-institucionais, que levava investidores a se abrigar no dólar e exigir prêmio de risco maior para carregar ativos domésticos.

Em sua nota, Bolsonaro parece ter dado um passo atrás. O presidente pregou o diálogo entre Poderes, disse que duas declarações, "por vezes, contundentes, decorrem do calor do momento" e afirmou que ninguém tem o direito de "esticar a corda" a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros. "Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", diz Bolsonaro, na nota, que teve a redação ajustada pelo ex-presidente Michel Temer. "Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o País".

Divergências em relação a decisões do ministro Alexandre de Moraes, disse Bolsonaro, "devem ser resolvidas por medidas judiciais". Moraes é responsável pelo inquérito da fake news e dos atos antidemocráticos, que podem atingir aliados do presidente. Mais cedo, Bolsonaro já havia pedido para caminhoneiros encerrarem protesto e liberarem estradas.

O sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que o mercado rapidamente "operou" as declarações de Bolsonaro, derrubando o dólar e dando fôlego à Bolsa. "Mas acredito que o mercado se manterá receoso ainda para saber se essa carta do Bolsonaro vai realmente aliviar a crise entre os poderes", afirma Velho.

O economista ressalta que a crise institucional e o orçamento de 2022, ainda sem solução para a questão dos precatórios e do reajuste do Bolsa Família, acabam tirando força do real, que poderia se beneficiar mais dos fundamentos das contas externas e da queda do dólar em relação a divisas emergentes.

Antes das declarações de Bolsonaro, o que impedia hoje o real de acompanhar a deterioração dos demais ativos domésticos era a perspectiva de alta mais acentuada da taxa Selic, após o IPCA de agosto marcar 0,87%, bem acima da mediana de Projeções Broadcast (0,70%). "O mercado já está vendo que uma alta de juros moderada não vai levar as expectativas para a inflação no ano que vem convergirem para a meta. E começou a precificar um choque monetário, o que provocou um alívio pontual no câmbio", afirma Velho, ressaltando que a Selic pode chegar a 9% no fim do atual ciclo de aperto monetário.

Fonte: Estadão Conteúdo

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