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Fake news sobre doença da "urina preta" prejudica vendas no Mercado do Peixe

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Fotos: Roberta Aline

O Mercado do Peixe de Teresina tem enfrentado uma forte crise na comercialização dos pescados. Os permissionários do local afirmam que, nas últimas semanas, há o registro de queda de mais de 80% nas vendas. 

O motivo da redução das vendas é o receio dos clientes em serem contaminados com a chamada “Doença de Haff/Urina preta” junto com notícias falsas sobre o assunto. Ontem (21) a Secretaria do Estado da Saúde emitiu nota informativa de não há nenhum caso suspeito nem confirmado da síndrome no Piauí. 

No entanto, mensagens compartilhadas em Whatsapp, muitas vezes com conteúdos falsos sobre a doença, tem afastado o consumidor do Mercado. Nesta semana, inclusive, voltou a circular um vídeo de peixe com verme nos olhos que teria infectado 400 pessoas. Trata-se de uma fake news que foi desmentida ainda em 2019 pelo site Boatos.org.

O permissionário Mathuzalem Dantas disse ao Cidadeverde.com que anteriormente vendia cerca de 1.200 Kg de peixe às terças-feiras. Hoje ele vendeu apenas 180 Kg e acredita que as "responsáveis" pela redução da comercialização  são "fakes news" viralizadas nas redes sociais. 

“O Mercado do Peixe tem sentido muito a falta da venda de peixe. Eu chegava a vender uma média de 7 mil quilos de tambaqui por semana. Agora caiu para 1.200 kg com essas notícias falsas”.  Em 4 anos sendo permissionário do mercado, é a primeira vez que Mathuzalem vê as vendas caírem tanto. Ele afirma que os peixes são acondicionados de forma adequada e não oferecem risco à saúde do consumidor. 

“É um prejuízo muito grande. Pra mim as vendas diminuíram uns 90%”, acrescenta. 

O permissionário Andrade Pereira, que vende peixes no Mercado desde 1997, também está sofrendo a queda nas vendas.  “Temos quedas acentuadas há duas semanas. É uma perda muito grande, eu nunca tinha visto como agora”, afirma.


Foto feita antes da pandemia de Covid-19

Churrasco de peixe

Para tentar atrair clientes, os permissionários do Mercado realizarão, nesta sexta-feira (24), um churrasco grátis de peixe. Quem for poderá comer o pescado assado a partir das 9h. 

“Terá peixe assado à vontade. É uma forma de atrair consumidores e chamar atenção das autoridades para esta crise”, acrescenta Mathuzalem.

O administrador do Mercado do Peixe, Franscico Macedo, diz que o “churrasco de peixe” seguirá os protocolos sanitários. 

“Esse festival é uma manifestação dos permissionários do Mercado do Peixe, no intuito de atrair clientes, uma vez que, depois destas informações sobre a doença da Urina Preta, eles se afastaram e houve uma queda de 50% nas vendas. Não vamos fazer nada que não seja aprovado pela Vigilância Sanitária, e já cumprimos, normalmente, todos os protocolos exigidos para a segurança alimentar dos munícipes e orientados pelos epidemiologistas, em relação ao acondicionamento do pescado. O Piauí ainda não registrou nenhum caso”, Francisco  Macedo.

Doença da urina preta

A Secretaria de Estado da Saúde, através do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde do Piauí (CIEVS-PI), publicou nota alertando a população sobre o crescente número de casos suspeitos de Doença de Haff/urina preta em alguns estados da Federação. A nota é de cunho informativo, uma vez que o Piauí não registra nenhum caso suspeito ou confirmado da doença.

A doença de Haff, causado pela ingestão de peixes ou crustáceos contaminados, deixa a urina com coloração escura, provoca dores musculares e insuficiência renal, já foi diagnosticada em pelo menos sete Estados brasileiros, dentre eles Amazonas, Bahia, Ceará e Pará. Os sintomas aparecem de duas a 24 horas após o consumo dos alimentos contaminados.

De acordo com a nota do Cievs, a contaminação se dá por meio de uma toxina que pode ser encontrada em peixes como o tambaqui, badejo, piratinga, arabaiana ou em crustáceos, como a lagosta, caranguejo e o camarão. A toxina, sem cheiro e sem sabor, surge quando o peixe não é guardado e acondicionado de maneira adequada.Segundo a coordenadora de Epidemiologia da Sesapi, Amélia Costa, o Cievs está monitorando os casos ocorridos em outros estados com o objetivo de antecipar as ações com maior eficiência em prol da segurança alimentar da população piauiense. De acordo com a coordenadora, o pescado proveniente de empreendimentos que promovam boas práticas de manejo e manipulação, tanto na produção, quanto na sua comercialização, não representam riscos.

No entanto, a epidemiologista alerta que é importante o consumidor observar a forma que o pescado está acondicionado. “Esses alimentos devem sempre ser guardados em baixa temperatura, e consumidos o mais breve possível após sua compra, evitando deixá-los muito tempo na geladeira, já que as condições sanitárias são importantes para evitar contaminação”, garante Amélia Costa.


Izabella Pimentel
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