Cidadeverde.com

Monitoramento do MP fez vacina contra a covid-19 avançar em Teresina

Imprimir

Foto: Roberta Aline / Cidadeverde.com 

A primeira vacina contra o coronavírus foi registrada oficialmente no mundo em agosto de 2020. A Rússia partia na frente no primeiro confronto direto para vencer a covid-19 e anunciava a Sputnik V. Naquele momento, mais de 160 vacinas estavam sendo pesquisadas em vários países. Mas foi no dia 2 de dezembro de 2020 que veio a grande notícia: o Reino Unido, nação mais afetada pelo vírus na Europa, se tornava o primeiro país a aprovar o uso em massa na população de uma vacina contra a covid-19, no caso, a da Pfizer, produzida pelo laboratório BioNTech. A campanha de imunização iniciou em 8 de dezembro com a vacinação de uma idosa de 90 anos.

A partir daí, a corrida de países por imunizantes contra o coronavírus se acentuou. No Brasil, as primeiras doses só começaram a ser aplicadas na população no dia 17 de janeiro de 2021, em São Paulo. A vacina utilizada foi a Coronavac, do laboratório chinês Sinovac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. Além da Coronavac, a Astrazeneca, produzida pela Universidade de Oxford em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, também já tinha sido autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a ser utilizada. O desafio naquele momento era fazer a distribuição dos imunizantes aos estados e iniciar uma campanha de vacinação igualitária no país.

No Piauí, as primeiras doses chegaram no dia 18 de janeiro e começaram a ser aplicadas no mesmo dia, de forma simbólica, em evento na sede da Secretaria de Saúde do Estado (Sesapi). A Prefeitura de Teresina iniciou a imunização no dia 19 de janeiro com profissionais de saúde que atuam na urgência do Hospital da Primavera e os idosos do Abrigo Frederico Ozanan.


Promotor de Justiça, Eny Marcos Pontes. Foto: Hérlon Moraes

Como a vacinação contra a covid-19 era algo novo e urgente, o Ministério Público do Estado (MPE), por meio da 12ª Promotoria de Justiça, criou um grupo de trabalho para monitoramento da campanha e a garantia de cumprimento da primeira etapa do Plano de Vacinação contra a Covid-19 em Teresina, que era de vacinar toda a população adulta.  Coordenado pelo Promotor de Justiça, Eny Marcos Pontes, o grupo era constituído por representantes da Fundação Municipal de Saúde (FMS), conselhos de classe de medicina, fisioterapia, psicologia, enfermagem, odontologia, Tribunal de Contas do Estado (TCE), Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Piauí (OAB-PI) e conselhos de saúde.

“Após estudo demorado por parte dos laboratórios foi finalmente autorizado a aplicação de vacinas na população brasileira. Isso se deu no dia 17 de janeiro. Um dia depois já iniciou o processo de vacinação em nível nacional com o envio de doses para os estados da federação. Nesse primeiro momento, o Ministério da Saúde elaborou o Plano Nacional de Imunização e paralelamente a isso, o plano nacional de operacionalização, ou seja, como executar todo esse processo”, lembra o promotor Eny Marcos Pontes.

O coordenador ressalta que dúvidas e muitas reclamações marcaram o início da vacinação em Teresina, forçando o MP a intervir.

“As duas promotorias de saúde de Teresina, neste primeiro momento, instalaram procedimentos de acompanhamento, mas diante de dúvidas e reclamações já nos primeiros dias de execução na campanha em Teresina, não tive outra alternativa a não ser interferir nesse processo. Como se deu essa interferência? Se deu de forma pacífica e conciliatória. Reuni diversos atores interessados no sucesso da campanha, órgãos oficiais como a Sesapi, FMS, TCE, Conselhos de saúde, de classe e demais interessados como a OAB. Dessa iniciativa partimos com encontros regulares e semanais transformados em audiências”, afirma.

21 audiências


Grupo de trabalho em reunião para tratar do plano de imunização na capital. Foto: MP

Segundo o promotor, na primeira etapa foram realizadas 21 audiências com todos os integrantes do grupo de trabalho.

“A primeira etapa corresponde a campanha de vacinação da população adulta. Esse foi o projeto que a gente executou e encerrou. Nós encerramos com o propósito de continuar acompanhando as outras etapas. Apesar da divulgação do plano nacional de imunização e do plano de operacionalização muitas dúvidas continuaram”, declarou.

Para Eny Marcos Pontes, a mudança de gestão na capital atrapalhou o início da campanha de vacinação. 

“No caso de Teresina, nós percebemos que, em razão da mudança de gestão em janeiro, a nova equipe da atenção básica que acompanha e executa a campanha em Teresina, estava desarticulada e em alguns momentos sem saber o que fazer. Foi com esse intuito, além de fiscalizar, que fizemos esse grupo. Nas reuniões tinha a participação de todos os atores e todos contribuíram, reclamando, sugerindo. Um momento democrático em que todos pudessem falar e ser ouvidos”, destaca.

Vacina para a zona Rural e população indígena e de rua

O grupo de trabalho atuou diretamente na vacinação em Teresina por 7 meses. Nesse período foram expedidas recomendações para garantir que as populações mais vulneráveis tivessem acesso aos imunizantes. Dentre elas, indígenas e moradores de rua. A 12ª, 29ª e 49ª Promotorias de Justiça agiram juntas, por exemplo, para que indígenas de etnia Warão fossem atendidos pela rede socioassistencial da capital. 


Reunião acompanha a operacionalização da vacinação de pessoas em situação de rua. Foto: MP

“Nos 7 meses tudo foi registrado e gravado e publicado no Diário Oficial do MP. Tivemos muito sucesso na organização da campanha. Partiu de uma tentativa de como chegar mais próximo da população, desde a zona Rural até os segmentos mais difíceis de serem contemplados, como população acamada, indígenas, população em situação de rua, com deficiência. Todos esses segmentos foram trabalhados durante esses encontros para saber as estratégias a serem adotadas de aproximar e diminuir o desgaste dessas pessoas em procurar os postos de saúde. Foram montadas equipes, foram disponibilizados veículos. O próprio MP colocou veículos para levar profissionais e as doses das vacinas”, destaca Eny Pontes.

Outro ponto de atuação do MP durante a campanha de vacinação em Teresina foi o pedido de divulgação dos nomes dos vacinados no site da FMS. “Foi um processo transparente em que nós conseguimos conscientizar e executar a divulgação dos dados da campanha. Inclusive com o nome de todos os vacinados. Isso foi uma recomendação do MP que foi colocada em prática”, lembra.

Zona Rural

“Uma das nossas preocupações foi com a zona Rural, que é grande. Pessoas que têm dificuldade de acesso à internet. Solicitei ao PGE o transporte para deslocar a cada povoado. Foram feitas várias etapas na zona Rural. As equipes foram onde a população estava em razão da dificuldade”. (Eny Pontes)


MP acompanha vacinação na Comunidade Soinho. Foto: MP

A diarista Jesus Santos, que mora na localidade Canto do Romão, na zona Rural de Teresina, foi uma das pessoas que teve acesso à vacina contra a covid graças a ampla divulgação da campanha.

“Aqui na minha casa todo mundo se vacinou. Eu, minha filha de 15 anos que possui comorbidades, meu marido e meu outro filho. A minha vacina eu consegui via agendamento. Ficava sempre observando as datas para não perder quando chegasse a minha vez”, conta.


Diarista Jesus Santos e o marido tomam vacina contra a covid-19. Foto: Arquivo Pessoal


Com o ciclo de imunização completo por toda a família, a diarista comemora o fato de estar vacinada. “Aqui graças a Deus nós não pegamos a covid. Saio para trabalhar em Teresina todo dia e tinha muito medo. Só passei a relaxar quando começamos a ser vacinados. Foi um dia inesquecível”, recorda.

Fura-Fila

Um dos inquéritos instaurados pelo MP durante a primeira etapa de vacinação em Teresina foi para apurar a aplicação irregular de doses em quase duas mil pessoas da capital. O levantamento dos dados foi feito TCE.

“Auditores do TCE expediram um amplo relatório sobre inadequações da aplicação da vacina na capital. Desse relatório instauramos procedimentos e eles estão em curso. Envolve 1700 pessoas e aqui a gente está fazendo uma apuração apurada inclusive com análise de laudos. Os médicos aqui do MP estão analisando”, afirma.

Se comprovado que a fila da vacina foi furada, os envolvidos podem responder criminalmente pelo ato.

Passaporte X fiscalização

Com a maioria da população vacinada com a 1ª dose, a pandemia dá sinais de enfraquecimento e, aos poucos, os eventos com aglomeração voltam a acontecer. No Piauí, um decreto do governo do estado estabelece que para ter acesso a estes locais, o público precisa apresentar o cartão que comprove a vacinação. A medida é polêmica e tem gerado discussões.

“Isso é uma medida da autoridade sanitária e, uma vez constatada a necessidade de se fazer este controle, eu simplesmente acato a decisão. Mas a minha opinião é de que uma vez estabelecida essa exigência, estabeleça também medidas para o controle da exigência desse cartão. Não adianta criar obrigações sem mecanismo de controle. Durante a pandemia foram expedidos decretos sem que fosse fornecida condições para os órgãos sanitários executarem e cobrarem o cumprimento. Criam exigências e não dão suporte”, explica o promotor.

Ainda de acordo com Eny Pontes, com a campanha de vacinação dentro da normalidade, o trabalho de monitoramento passa a ser mais brando. “O resultado hoje é que a FMS conseguiu formar uma equipe e organizar todo o sistema de imunização. Nesse momento não há por que continuar com o trabalho da forma que foi feita para a população adulta. O que há é a necessidade de medidas para o acompanhamento e o recebimento de reclamações sobre a aplicação das vacinas e sobre imunizantes”, destaca.

Desafio em Teresina foi equacionar número de doses 

Para Gilberto Albuquerque, presidente da FMS, a vacinação em Teresina seguiu rigorosamente as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

“A campanha de vacinação em Teresina e no Brasil inteiro, quando começou, as cidades, principalmente para espaços na mídia, começaram a acelerar a redução da idade. Com isso, muitas pessoas ficaram de fora, perderam o tempo, perderam o dia. Teresina seguiu rigorosamente o que o Ministério da Saúde determinou. Nós nunca tivemos falta de dose. A nossa programação sempre foi cumprida ao pé da letra”, disse o presidente.

De acordo com dados da FMS, a capital do Piauí já atingiu 94% de pessoas vacinadas com a 1ª dose ou dose única. No que se refere a 2ª dose, a cidade ultrapassou os 80%.

“Hoje aqui em Teresina nós temos 96% da nossa população vacinada com a D1 ou dose única. É um excelente resultado. Nós temos 84% da população, dados que foram fechados no final de semana passado, vacinados com a D2. Tivemos inúmeros drives ou agendamentos para repescagem. A gente sempre deu preferência a levar todo mundo vacinado, ao invés de avançar muito rápido e deixar pessoas para trás”, destaca, definindo a campanha de vacinação em Teresina como excepcional.

Foto: Hérlon Moraes

“Se nós formos avaliar, hoje o resultado de Teresina é excepcional. A maior campanha de vacinação já realizada no mundo, maior campanha de vacinação já realizada em Teresina, e hoje nós temos esses números tão satisfatórios. O nosso planejamento foi executado sempre na íntegra e isso é um motivo dos bons resultados. Uma equipe muito bem treinada, praticamente não tivemos intercorrências. Tivemos aceitação da população por todas as doses”, afirma Albuquerque.

Ainda de acordo com o presidente da FMS, o principal desafio foi equalizar a quantidade de doses recebidas com a população que poderia ser vacinada. 

“Quer você queira ou não, aqui em Teresina a ânsia por vacina era maior do que a disponibilização de doses. As pessoas entenderem que isso precisava de um regramento. Nós tivemos dificuldade, tivemos exposição contrária na mídia. Hoje após esses 10 meses de vacinação é que as pessoas entendem que aquilo que a gente estava fazendo desde o início era o melhor para todos. Esse foi o principal problema, coisa que hoje a gente já não tem”, destaca.

Se puder, tome a vacina

Com a descoberta da variante ômicron na África, o mundo volta a ficar em alerta e tenta evitar uma nova onda da covid-19. Muitos países já suspenderam voos para o continente africano e estudam a possibilidade de voltar a suspender eventos que gerem aglomeração. No Brasil, o carnaval é a principal festa ameaçada. Segundo Gilberto Albuquerque, o momento não é de baixar a guarda no uso de proteção contra o coronavírus.

“Essa vacina, sempre que você tiver a oportunidade de tomar, tome. Sempre que chegar na sua faixa etária e do seu grupo, seja vacinado. Não sabemos ainda qual a repercussão dessas variantes. Geralmente as variantes que surgem são piores que as existentes. Como não sabemos ainda se as vacinas vão pegar ou não essas variantes, que todo mundo se proteja, continue tomando seus cuidados, suas precauções de usar a máscara, evitar aglomeração desnecessária, usar seu álcool em gel de rotina, pois isso evita não só a covid, mas outras inúmeras doenças. É só para o bem do povo”, finaliza.

Principais recomendações do MP

 

 

Recomendações MP em 2021

Hérlon Moraes
[email protected]

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais