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Inflação é a maior para novembro desde 2015 e chega a quase 11% em 12 meses

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Foto: Roberta Aline/Cidadeverde.com

Pressionada pelos combustíveis, a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), teve variação de 0,95% em novembro. É a maior taxa para o mês desde 2015 (1,01%), apontou nesta sexta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Com o resultado, o IPCA se aproxima de 11% em 12 meses. Até novembro, a alta acumulada chegou a 10,74% -estava em 10,67% até outubro. Trata-se do maior avanço em 12 meses desde novembro de 2003 (11,02%).

Apesar de ter ficado em um nível alto, a taxa do último mês de novembro (0,95%) veio abaixo das previsões do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 1,10% para o período.

A taxa de 0,95% representa uma desaceleração -avanço menor- frente a outubro. Na ocasião, a alta do IPCA havia sido ainda maior, de 1,25%.

Em 12 meses, o IPCA está distante do teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central). O teto é de 5,25% em 2021. O centro é de 3,75%.

Conforme o IBGE, sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta de preços em novembro. A maior variação (3,35%) e o principal impacto (0,72 ponto percentual) vieram dos transportes.

O grupo foi influenciado pelos preços dos combustíveis, especialmente da gasolina (7,38%). O item, mais uma vez, teve o principal impacto individual no IPCA do mês (0,46 ponto percentual).
Também houve alta nos preços do etanol (10,53%). O produto respondeu pelo segundo maior impacto no IPCA, de 0,10 ponto percentual. O óleo diesel, por sua vez, avançou 7,48%, e o gás veicular, 4,30%.

Com o resultado de novembro, a gasolina acumula alta de 50,78% em 12 meses. O etanol registra disparada de 69,40% no acumulado. Já o diesel subiu 49,56%.

"Há uma inflação de insumos básicos, como os combustíveis, e isso ajuda a espalhar a alta de preços pela economia. O óleo diesel, mesmo que não seja muito usado pelas famílias, aumenta o custo do frete de produtos", aponta o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Em novembro, habitação avançou 1,03%. Foi o segundo maior impacto (0,17 ponto percentual) entre os grupos no IPCA. O segmento foi pressionado, novamente, pela energia elétrica mais cara (1,24%).

EFEITO DA BLACK FRIDAY
Os dois grupos que registraram queda de preços em novembro foram saúde e cuidados pessoais (-0,57%) e alimentação e bebidas (-0,04%).

No segundo caso, o IBGE associou o resultado principalmente à queda da alimentação fora do domicílio (-0,25%). Essa redução foi influenciada pelo recuo verificado nos preços do lanche (-3,37%).

"A Black Friday ajuda a explicar a queda tanto no lanche quanto nos itens de higiene pessoal. Observamos várias promoções de lanches, principalmente nas redes de fast-food no período. E, no caso dos itens de higiene pessoal, várias marcas nacionais deram descontos nos preços dos produtos em novembro", explicou o analista do IBGE Pedro Kislanov, gerente do IPCA.
"No Brasil, diferente de outros países, os descontos não são centrados em um único dia. Os descontos acabam sendo dados ao longo do mês", completou.

Essas ofertas tendem a ser sucedidas por uma recomposição dos preços em dezembro, projeta Mirella Hirakawa, economista sênior da gestora AZ Quest. "Desconto vai e volta", diz.
Com a possível possível recomposição dos preços, a AZ Quest passou a estimar uma alta de 0,87% no IPCA de dezembro. A previsão anterior era de 0,74%.

INPC SOBE 10,96% EM 12 MESES
O IBGE também informou nesta sexta que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 0,84% em novembro, abaixo do resultado de outubro (1,16%).
Em 12 meses, o indicador acumula alta de 10,96%. Está abaixo dos 11,08% observados no período anterior.

O INPC avalia os preços de bens e serviços com maior peso no consumo das famílias de renda menor (entre um e cinco salários mínimos). É usado como referência para correção de benefícios como aposentadorias e do salário mínimo.

PREOCUPAÇÃO PARA 2022
Segundo analistas, os reflexos da inflação elevada não se esgotam em 2021 e também representam uma preocupação para 2022.

A pressão inflacionária, aliada a juros maiores, vem reduzindo projeções de crescimento econômico no próximo ano. Os dois fatores, em conjunto, dificultam o consumo das famílias, motor do PIB (Produto Interno Bruto). O PIB já dá sinais de estagnação no Brasil.

A escalada inflacionária ganhou corpo no país ao longo da pandemia. Em um primeiro momento, houve disparada de preços de alimentos e, em seguida, de combustíveis.

A alta do dólar em meio a turbulências políticas no Brasil e o avanço das commodities agrícolas e do petróleo no mercado internacional ajudam a explicar o comportamento desses preços.

Em 2021, houve um ingrediente adicional: a crise hídrica. A escassez de chuva elevou os custos de geração de energia elétrica, ampliando o uso de usinas térmicas, que são mais caras. O reflexo foi a conta de luz mais alta nos lares brasileiros.

Em uma tentativa de frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) vem subindo a taxa básica de juros, a Selic. Na quarta-feira (8), o colegiado aumentou a taxa em 1,5 ponto percentual, a 9,25% ao ano.

O mercado financeiro projeta IPCA de 10,18% no acumulado de 12 meses até dezembro de 2021, de acordo com a mediana do boletim Focus. A pesquisa mais recente foi divulgada na segunda-feira (6) pelo BC.

Para fechar o acumulado do ano em dois dígitos, a inflação precisaria de uma alta próxima de 0,68% em dezembro, calcula Pedro Kislanov, gerente do IPCA. Em dezembro de 2020, por exemplo, o índice subiu 1,35%.

Para 2022, a projeção do mercado financeiro é de alta de 5,02% no IPCA em 12 meses. A estimativa está acima do teto da meta de inflação do próximo ano, de 5%. Ou seja, seria o segundo ano consecutivo de estouro da medida de referência do BC.

"A projeção de inflação é menor para 2022, perto de 5%, mas vem sobre um ano em que a alta deve ficar acima de 10%. É muita coisa. Afeta principalmente as famílias que não conseguem se defender da alta de preços enquanto a economia está desaquecida", analisa o economista André Braz, do FGV Ibre.


Fonte:Folhapress

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