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No Piauí, mais de 140 pessoas estão na fila de espera para adoção de crianças

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Francimélia e a filha Ana Carla, de 21 anos, que foi adotada em 2003

“Adoção não é um ato de caridade”. É com essa mensagem que a fundadora e coordenadora do Centro de Reintegração Familiar e Incentivo à Adoção (Cria), Francimélia Nogueira, tenta passar para todos que desejam adotar uma criança. No Piauí existem 40  crianças e adolescentes esperando para adoção.

Nesta quarta-feira (25) é comemorado o Dia Nacional da Adoção. Em todo o país são mais 33 mil pessoas querendo adotar, enquanto 4.102 mil crianças estão disponíveis. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, 3.511 mil crianças possuem mais de 4 anos. A maioria, cerca de 738, são maiores de 16 anos.

“Adoção não é um ato de caridade, não se deve adotar porque quer salvar o seu casamento ou companhia na velhice, alguém para acompanhar você. Se deve adotar porque você está com amor para dar como pai ou como mãe, para cuidar de um ser que precisa desse carinho de pai e de mã. O que você vai receber é consequência do que você vai dar”, destacou Francimélia.

No Piauí, existem 167 crianças acolhidas, sendo que 40 estão disponíveis para adoção, enquanto existem 143 pretendentes cadastratos no Piauí, que estão na fila da adoção esperando por uma criança.

Apesar da lista de adotantes ser maior que a quantidade de crianças, as exigências e o perfil exigido, acabam deixando crianças que são mais velhas ou que possuem irmãos, longe da prioridade, por isso demoram mais para serem adotados.

“Esse número não fecha por vários motivos, um deles são os perfis, as exigências dos pretendentes em relação as crianças que querem adotar, de preferirem crianças pequenas, brancas e saudáveis. Isso é verdade, mas isso não é o principal problema, pois o problema é existem quase 30 mil abrigadas, e apenas 4.300 mil para adoção. O fato é que as crianças demoram muito nas instituições de acolhimento, o sistema não consegue cumprir os prazos do Eca, então as crianças ficam crescendo nas instituições de acolhimento. Eles não saem de forma rápida, porque às vezes são grupos de irmãos, de adolescentes com deficiência, onde a maioria dos pretendentes não desejam adotar”, lamentou Francimélia Nogueira.

Quando a criança vai para adoção

As crianças vão para o abrigo por diversos motivos, como maus tratos e abandono. Quando elas chegam ao abrigo, é importante no primeiro momento tentar reintegrar essa criança, antes dela poder ir para adoção.

“Essas crianças chegam no abrigo em via de regra por alguma violação de direito, estavam sendo mal tratadas, negligenciadas, abusadas e em alguns casos abandonadas. A orfandade é muito pequena, cerca de 3% apenas. Vai para o abrigo como medida de proteção, o estado passa a ter obrigação de procurar junto a família biológica, e se não for possível naquele núcleo familiar, tem que ser na família extensa, mas dentro do prazo do Eca, onde uma criança só deveria ficar abrigada no máximo por um ano e meio, e infelizmente isso não vai acontecer”, destacou.

Quando não é possível conseguir a reintegração dessa criança, ela então é colocada para adoção. “A adoção só é autorizada quando a equipe técnica faz todo um estudo e conclui que não possui uma possibilidade de reintegração, inicia o processo de destituição familiar, que também é demorado, até culminar com a disponibilização para adoção, onde o nome vai para o sistema nacional de adoção e o casal que deseja aquele perfil, vai ser chamado para adotar aquela criança”, explicou.

Foto: CNJ

Crianças para adotar por faixa etária

Como adotar

Para o processo de adoção é necessário procurar a Defensoria Pública. “É onde o processo se inicia, é um processo gratuito e de lá será encaminhado a Vara da Infância e Juventude, onde vai ser entrevistado por uma equipe técnica que é composta por assistente social e psicólogo, que fará uma visita domiciliar, depois a pessoa vai passar uma capacitação para adoção e então vai estar habilitado”, disse a coordenadora do Cria. Todo esse processo pode durar 120 dias.

Quem pode adotar

Hoje pessoas solteiras e casais homoafetivos podem adotar. O importante é ser maior de 18 anos e ser pelo menos 16 anos mais velho que a criança ou o adolescente que pretende adotar.

No processo de adoção é analisada a capacidade da pessoa de cuidar uma criança. “Qualquer pessoa maior de idade e idônea pode adotar, não precisa ser casado, porque existe adoção monoparental, tem casais héteros e homoafetivos. O mais importante é avaliar a capacidade afetiva, de cuidado, se quer ser pai ou mãe, e se tem capacidade para isso”, pontuou Francimélia Nogueira.

Tempo de espera

A demora para conseguir adotar uma criança varia principalmente conforme o perfil que o adotante deseja, já que muitas das crianças acabam não se enquadrando.

“A espera é maior ou menor conforme o perfil que essa pretendente vai determinar lá, porque na hora da habilitação, perguntam qual o sexo, a cor, até que idade, se aceita grupo de irmãos, crianças com deficiência, então a resposta vai definir o perfil. Quanto mais engessado o seu perfil, mais restritivo for, mais tempo vai esperar”, destacou.

Foto: CNJ

Crianças para adotar que possuem irmãos

Cria ajuda a tirar dúvidas

No Piauí, o Centro de Reintegração Familiar e Incentivo à Adoção (Cria) é uma das instituições que ajuda quem deseja adotar ou quem já adotou a passar por todo esse processo. O local funciona de 8h às 17h em Teresina.

“O Cria discute sobre adoção, conversa com as pessoas, temos um grupo que reúne pretendes e pessoas que desejam adotar e os que já adotaram, essa troca de experiência é muito relevante, pois prepara o pretendente, empodera quem já adotou para resolver os seus problemas. O Cria disponibiliza assistente social e psicólogo para esse acompanhamento, tanto no pré e no pós-adoção e realiza atividades também”, afirmou a fundadora.

Adoção com responsabilidade

Francimélia Nogueira disse que para adotar a pessoa deve estar ciente de todas as responsabilidades de tratar e cuidar de uma criança.

“Você que deseja adotar é importante saber que não precisa ser rico ou casado, basta ter vontade de ser pai ou mãe. É ter afeto para dar e estar disposto para se preparar para isso. Não vamos romantizar a adoção, criar gente dá trabalho, adotar é trabalhoso porque vai criar e amar o seu filho, que tem uma história pregressa, que sofreu abandono e maus tratos então isso é uma demanda a mais para ser trabalhada nessa relação, mas isso pode ser superado com amor, disciplina, com aprendizado, informação com busca de ajuda de profissionais, então a orientação é que você consiga superar os obstáculos com assertividade”, finalizou. 

 

Bárbara Rodrigues
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