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Bolsa: 4 das 10 ações que mais pagaram dividendos vendem commodities

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Foto: A7 Press/Folhapress

Em um ano marcado pela alta generalizada no preço das commodities em meio à retomada da atividade global e da Guerra da Ucrânia, as produtoras de matérias-primas têm se destacado entre as que mais remuneram os investidores com a distribuição de dividendos.

Levantamento da plataforma de dados financeiros TradeMap aponta que, das 10 maiores pagadoras de dividendos em 2022, até julho, 4 são de produtoras de commodities.

A liderança fica a cargo das ações da Petrobras, que, na esteira dos resultados do segundo trimestre, e de pedido do governo Bolsonaro às estatais antecipar o pagamento de dividendos, anunciou no final de julho a distribuição de R$ 87,8 bilhões aos acionistas.

CSN Mineração e Enauta Participações, do setor de óleo e gás, também aparecem entre os destaques do período.

Para o estudo, foi considerado o indicador dividend yield, que mede o volume de dividendos distribuídos em relação ao preço da ação negociada em Bolsa.

Conhecido pela geração estável de caixa, pelos contratos indexados à inflação e por ser um tradicional pagador de proventos aos acionistas, o setor de energia, por meio de CPFL Energia e EDP – Energias do Brasil, também se destaca entre as empresas com ações na Bolsa com maior distribuição de dividendos no acumulado de 2022.

"Apenas uma das empresas hoje paga o atual patamar da Selic, que é a Petrobras, frente à forte geração de caixa da empresa nos últimos meses", afirma Jader Lazarini, analista CNPI do TradeMap.

Em alta desde o início do ano passado, a taxa Selic saiu das mínimas históricas de 2% ao ano para os atuais 13,75%, com a aposta do mercado de que o Copom (Comitê de Política Monetária) possa voltar a promover mais uma alta de 0,25 ponto percentual na próxima reunião em setembro, levando os juros para 14% ao ano.

O analista do TradeMap acrescenta que é importante salientar que o rendimento oferecido pela Selic é no intervalo de 12 meses, enquanto o indicador que mede o nível de rentabilidade dos dividendos considera o período do acumulado no ano de 2022, até julho.

Alta do petróleo e resultados operacionais compensam risco político da Petrobras, dizem gestores Segundo Rodrigo Santoro, chefe de renda variável da Bradesco Asset, os fundos de dividendos da gestora do banco concentram o foco em setores que são tradicionalmente conhecidos por oferecerem retorno aos investidores via o pagamento de dividendos.

Por conta disso, produtoras de commodities como Petrobras e Vale, grandes bancos (Itaú e Bradesco) e empresas de energia (Eletrobras e Energisa) estão entre as principais posições nas carteiras.

A petroleira estatal, em especial, é hoje uma das maiores apostas nos fundos de dividendos da Bram, diz Santoro, acrescentando que, apesar do risco político intrínseco à empresa, o valor considerado bastante descontado das ações na Bolsa, e os fortes resultados operacionais, mais do que compensam as incertezas sobre eventuais tentativas de intervenção política.

Santoro afirma também que promoveu nos últimos meses uma redução na posição carregada em Vale, com a desaceleração da economia chinesa e a queda na cotação do minério de ferro no mercado internacional.

Mas que, no caso do petróleo, a perspectiva enxergada para o segmento é mais positiva e sustentável, ante um reaquecimento da economia em escala global após a pandemia, e as restrições de aumento da oferta da commodity.

O especialista da Bram lembra ainda que as ações das empresas na Bolsa sofrem um desconto proporcional ao dividendo pago por ação no momento do pagamento. Esse montante recebido pela distribuição da remuneração pelos fundos da gestora é reinvestido nas ações em carteira, com o foco em potencializar o retorno e extrair o máximo de valor no médio e longo prazo das perspectivas positivas para o desenvolvimento do negócio, diz Santoro.

Bancos retomam pagamentos com resultados robustos após a pandemia Luiz Fernando Missagia, gestor de renda variável da Icatu Vanguarda, diz que uma das principais apostas na carteira dos fundos de dividendos da casa está hoje em grandes bancos, como Itaú e Bradesco.

Ele lembra que os bancos tiveram a distribuição de lucros limitada pelo governo durante a pandemia, de modo a gerar um colchão de liquidez para se prepararem para um cenário econômico mais adverso.

Pelos resultados mais recentes, referentes ao segundo trimestre de 2022, contudo, os bancos mostraram que conseguiram apresentar crescimentos robustos das carteiras de crédito e dos lucros, com um nível de inadimplência ainda relativamente controlado, diz o gestor da Icatu Vanguarda.

No segundo trimestre, os quatro grandes bancos –Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e BB (Banco do Brasil)– reportaram um lucro líquido conjunto de R$ 26,6 bilhões, valor que corresponde a um crescimento de 20,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Missagia afirma que a Petrobras também está hoje entre uma das maiores posições na carteira do fundo de dividendos da Icatu.

Na avaliação do especialista, com a restrição global da oferta do petróleo para atender à demanda, e com o preço da commodity conseguindo se sustentar ao redor do nível atual, a Petrobras deve manter uma forte geração de caixa nos próximos meses.

A Lei das Estatais e os aprimoramentos na governança durante os últimos anos, diz Missagia, contribuem para que a empresa consiga ter alguma blindagem contra a intervenção do governo em relação ao passado recente, mantendo uma política rentável de seus investimentos.

O setor de energia, via CPFL, Engie e Equatorial, que se beneficiam da alta da inflação pelos contratos indexados aos índices de preços, também compõem os portfólios de dividendos da Icatu Vanguarda.

Varejo e saúde também estão presentes nas carteiras de dividendos Além da exposição aos setores mais comuns de serem encontrados em fundos de dividendos, o gestor da Bram aponta também as varejistas Arezzo e Lojas Renner entre as ações nas carteiras dedicadas ao nicho.

"São empresas que acreditamos que, no longo prazo, vão ser grandes pagadoras de dividendos", afirma Santoro.

Gestor de renda variável da Inter Asset, Rafael Cota Maciel aponta ainda as ações da rede odontológica Odontoprev entre as apostas na carteira do fundo de dividendos da gestora, entre aquelas que fogem um pouco do senso comum de mercado.

A Odontoprev é líder em seu setor de atuação, e opera em um nicho considerado mais defensivo e seguro do que a média da Bolsa, menos suscetível à volatilidade dos mercados e ao desempenho da atividade econômica, diz Maciel.

A maior parte da carteira do fundo dedicado às boas pagadoras de dividendos da Inter Asset, contudo, também é reservada para setores mais tradicionais –exportadoras de commodities (Petrobras, Vale e Gerdau), setor financeiro (BB e BB Seguridade) e energia (Taesa e Transmissão Paulista).
"Estamos em um bom momento para investir em ações boas pagadoras de dividendos, até porque tem muita coisa barata na Bolsa", afirma o gestor da Inter Asset.

Ele lembra que, quanto mais descontados os preços das ações em relação ao valor estimado pelos investidores, maior tende a ser o dividend yield oferecido pela empresa, uma vez que o indicador é um resultado da relação entre o valor do dividendo pago e o valor da ação negociada em Bolsa.

O gestor da Inter Asset acrescenta ainda que, dado o perfil das empresas pagadoras de dividendos, com forte geração de caixa disponível para ser distribuída aos acionistas, elas têm conseguido atravessar melhor o ambiente macroeconômico do país de juros altos, inflação pressionada e crescimento econômico fraco -enquanto o índice Ibovespa avança 6,3% no ano, até 19 de agosto, o Idiv (Índice de Dividendos) da B3 marca valorização de 14% no mesmo intervalo.

 

Fonte: Folhapress (Lucas Bombana)

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