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Anderson do Carmo sabia de plano para matá-lo, diz filho de Flordelis em júri

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Foto: Brunno Dantas/TJRJ

O ex-vereador Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Misael, afirmou em depoimento que o pastor Anderson do Carmo sabia de que era vítima de planos para assassiná-lo. A mulher dele, a ex-deputada federal Flordelis dos Santos Souza, é julgada pelo crime no Tribunal do Júri em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ela nega todas as acusações.

Misael foi um dos primeiros filhos adotados por Flordelis. Ouvido como testemunha nesta terça (8), segundo dia de júri, ele relatou que o pastor recebeu uma ameaça de morte em seu computador no gabinete da Câmara de Deputados, em Brasília.

"Ele me chama para dentro do gabinete dele. Aí pergunta: 'Está sabendo?'. Eu falo: 'Está sabendo de quê, pastor?'. 'Que estão querendo me matar'", narrou.

Ainda de acordo com o relato, Anderson do Carmo acreditava que o plano estava sendo arquitetado por Marzy Teixeira da Silva, outra das filhas adotadas de Flordelis e também ré no julgamento. Foi alertado, no entanto, de que Marzy não teria condições financeiras de contratar um matador e que por isso outra pessoa deveria estar à frente do plano.

A testemunha também contou que foi orientado por um irmão a não tomar sucos ou comer a comida de Carmo, pois Flordelis estaria tentando matar o marido.

"Minha mãe [Flordelis] falava que ele [Carmo] não gosta de tomar remédio e tinha que dissolver no suco dele. Mas até então, para mim, era um medicamento de ansiedade", disse.

Anderson do Carmo tinha 42 anos quando foi assassinado na garagem de casa que morava com Flordelis e mais 35 filhos, em 2019. Foram constatadas 30 perfurações de bala em seu corpo, nove delas na região de coxas e virilha.

As investigações indicaram que Flordelis começou a tentar matar o marido em maio de 2018, envenenando-o aos poucos colocando arsênico e cianeto na comida dele. A vítima passou por hospitais no período, com episódios de vômito e diarreia.

Também estão no banco dos réus três filhos da pastora -Simone dos Santos Rodrigues, André Luiz Oliveira e Marzy Teixeira, além de uma neta, Rayane dos Santos.

Misael foi adotado por Flordelis quando faria 13 anos de idade, mesma época em que Carmo, ainda adolescente, também foi morar na casa da ex-deputada como filho afetivo dela. Ele ficou conhecido como "Misael da Flordelis", nome que usou como vereador em São Gonçalo entre 2017 e 2020. Segundo ele, a pastora teria mudado o nome dele por motivos espirituais.

Ele relatou ter sofrido uma "lavagem cerebral" na casa. "Eu cheguei achando que seria uma família, extensão da igreja. Mas acabei, com 12 anos, cuidando de 13 bebês", contou ao júri.
Antes de se relacionar com Flordelis, contou, Anderson do Carmo namorou a filha biológica da pastora, Simone dos Santos.

Segundo ele, a mãe lhe contava ter sofrido abusos por parte do marido. Diante dos relatos, o filho teria dito para ela se separar e denunciá-lo, mas a ex-deputada respondia que não poderia fazer isso para não "escandalizar a obra de Deus".

A testemunha falou ainda que havia conflito por causa da partilha dos ganhos financeiros da família. Segundo Misael, Anderson ficava com cerca de 60% do lucro da venda de CDs e DVDs de Flordelis, além do cachê, para pagar as contas da casa. O restante ficava com a pastora.

FLORDELIS PASSA MAL E DEIXA O JÚRI

No início da oitiva da testemunha, Flordelis deixou o tribunal do júri. A ré alegou ter tido uma indisposição, e voltou cerca de 20 minutos depois.

"Flordelis não estava se sentindo bem e nós tivemos que retirá-la. Ela tomou o remédio que precisava, mas fez questão de retomar ao julgamento porque não queria aparentar que estava fugindo. Provavelmente foi uma queda de pressão, mas ela também reclamou de muita dor nas costas e formigamento no braço", afirmou advogado dela, Rodrigo Faucz.

Em seu depoimento, Misael relatou que, na noite do crime, a mãe chegou ao hospital com um "choro forçado". "Quando ela sai do carro, já vem chorando, de terninho. Era um choro forçado. Eu conheço ela", disse.

Mais cedo, outro filho afetivo ouvido pelo tribunal do júri, Alexsander Felipe Matos Mendes, também declarou que o choro da ex-deputada "não era verdadeiro" e que Flordelis tinha trocado de roupa três vezes durante o velório do pastor.

Assim como o irmão, Misael pediu para falar por videoconferência para não olhar para os réus. Segundo ele, "questões emocionais" o impedem de depor na presença da mãe e dos demais parentes.

O julgamento continua nesta quarta (9).

 

Fonte: Folhapress (Aléxia Sousa) 

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