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Conheça Mauro Vieira, que assumirá Itamaraty no governo Lula

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Foto: Alan Marques/Folhapress

 

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou nesta sexta (9) a indicação de Mauro Vieira para o Itamaraty -apadrinhado de Celso Amorim, principal referência do PT nas relações exteriores, seu nome vinha sendo cotado para a vaga nas últimas semanas. Assim, o diplomata retoma o cargo que ocupou em 2015 e 2016, no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT).

Se naquela época o Ministério das Relações Exteriores vivia um momento crítico, de problemas de orçamento e insatisfação dos diplomatas, o contexto que Vieira encara hoje é ainda mais desafiador.

Ele terá como missão restaurar a imagem internacional do Brasil, rebaixado à condição de pária durante o governo Bolsonaro em razão dos retrocessos no ambiente, da guinada ultraconservadora promovida pelo ex-chanceler Ernesto Araújo e de atitudes de Jair Bolsonaro (PL) –do apoio a Vladimir Putin em uma visita à Rússia dias antes do início da Guerra da Ucrânia à ofensa a Brigitte Macron, primeira-dama da França.

Isso em meio a um cenário geopolítico cada dia mais complexo, em que um conflito se desenrola em território europeu e as tensões entre China e Estados Unidos se intensificam.

A capacidade de Vieira de fazer frente a essa conjuntura divide opiniões no meio diplomático. Roberto Abdenur, com 45 anos de carreira na área, afirma que ele é uma "ótima solução para o Itamaraty" e um "diplomata de qualidade". Citando as credenciais do novo chanceler –Vieira serviu nos três mais importantes postos da carreira diplomática, as embaixadas de Washington e de Buenos Aires e na ONU, em Nova York–, Abdenur diz que ele conseguirá ajudar a reconstruir a reputação brasileira depois do que descreve como uma gestão quase destrutiva da pasta nos últimos quatro anos.

"Havia duas teorias sobre como e quando o Brasil poderia resgatar sua credibilidade. Uma delas dizia que isso levaria anos. Acho que podemos dar a volta por cima rapidamente. E isso já começou", afirmou Abdenur, que também é consultor do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Já outros setores das relações exteriores se dizem frustrados com a indicação de Vieira. Para os ouvidos pela Folha em condição de anonimato, a escolha representa um retorno ao Itamaraty do passado, que pode até ter alcançado uma posição de renome há 15 anos, mas se distanciou da agenda cada vez mais dinâmica das relações internacionais –em que representatividade, ciência e tecnologia ganham espaço.

Segundo esse grupo, o chanceler ideal seria uma mulher. Isso não só sinalizaria ao exterior uma busca por renovação, potencializando assim o "soft power" brasileiro, como também poderia fortalecer o ministério, que vinha perdendo espaço na formulação da política externa desde antes da gestão de Bolsonaro.

Há ainda críticas ao perfil de Vieira. Considerado um bom diplomata de bastidores, ele tem experiência política, uma ampla rede de contatos e bom trânsito no Congresso -trabalhou nos ministérios de Ciência e Tecnologia e da Previdência Social e na Secretaria-Geral do Itamaraty, responsável pela relação da pasta com o resto da Esplanada. Também é visto como leal por parte do PT, tendo mantido contato com interlocutores de Lula durante o período em que o hoje presidente eleito estava preso em Curitiba.

Não tem, porém, a diplomacia comercial como um ponto forte e tende a evitar confrontos. Também não é conhecido pelas convicções políticas -é próximo de nomes considerados problemáticos no Itamaraty, como o bolsonarista Luís Fernando Serra, ex-embaixador na França que criticou Lula publicamente há três anos, de quem ele é compadre.
Vieira não estará sozinho. Amorim, de quem o diplomata ainda foi assessor de longa data, pode ocupar a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Assim, seguiria aconselhando o governo nas questões diplomáticas, mas sem o desgaste de viagens internacionais e negociações cotidianas de um chanceler.

O próprio Lula se comprometeu a fazer uma série de visitas, exercendo uma diplomacia em nível presidencial que alguns especialistas dizem ser necessária para a volta do Brasil ao xadrez internacional.


Fonte: Folhapress/Clara Balbi

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