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'Que erro cometeram?', pergunta mulher amputada em parto no RJ

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Foto: Arquivo Pessoal 

O Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, afastou a chefia regional médica após uma mulher procurar atendimento na unidade para fazer um parto e ter a mão e o punho amputados. O caso ocorreu há três meses.

"Se eles vão afastar é porque identificaram que o erro foi da equipe médica. Foram três plantões diferentes, será que nos três ninguém viu nada de errado? Afastar é bom, porque vai impedir que outras pessoas passem pelo que eu vivi, mas o que houve comigo? ", disse à reportagem Gleice Kelly Gomes Silva, 24.

A decisão foi divulgada nesta quinta-feira (19), um dia após uma reunião com Gleice, sua advogada e mediadoras do hospital, que alegaram tomar conhecimento sobre o caso somente agora, já que a diretoria fica em São Paulo.

Em nota enviada à reportagem, a unidade de saúde informou que foi instaurado no Comitê de Ética Médica uma auditoria minuciosa sobre o quadro clínico e procedimentos realizados nos atendimentos feitos à paciente, seguindo os processos internacionalmente conhecidos como Protocolo de Londres, considerados os mais rigorosos para apurações dessa natureza.

"Todas as informações obtidas nessa investigação já estão sendo colocadas à disposição das autoridades encarregadas de esclarecer os fatos ocorridos. A direção do hospital tem todo o interesse em colaborar de forma oficial para que a elucidação das denúncias somente agora apresentadas. Espera ainda que, na hipótese de comprovadas eventuais responsabilidades, os envolvidos sejam punidos na forma da lei", diz a nota do hospital.

"O hospital lamenta profundamente o sofrimento por que estão passando a paciente e sua família -e lhes dará todo suporte e acolhimento necessários. As demais denúncias agora apresentadas também serão apuradas com critério e rigor", complementou a nota da unidade de saúde.

Para a reportagem, Gleice disse que, apesar da reunião, não foi esclarecido o que aconteceu com ela.

"Que tipo de erro eles cometeram comigo? Eles precisam falar o que foi feito, ainda faltam algumas respostas aí. Não foi só comigo, tem diversos outros relatos e denúncias desse hospital. Como que eles têm tantas pessoas despreparadas naquele lugar? É preciso rever quem eles contratam", desabafou Gleice.

A unidade disse que se solidariza com o caso e chegou até a ligar para Gleice nesta quinta-feira, perguntando se ela gostaria de um atendimento psicológico.

Embora precise de atendimento médico, a vítima conta que se sente refém da Intermédica, já que o plano de saúde dela é dessa mesma empresa.

"Me ligaram oferecendo a mim e aos meus filhos suporte psicológico. Por que isso não foi oferecido antes? Disseram até que tinha vaga hoje se eu quisesse. Olha que rápidos! Quando tentei marcar da última vez, queriam que eu aguardasse quase um mês para conseguir falar com a psicóloga. Eu tive dificuldade até de conseguir atendimento médico para o meu filho", conta a fiscal de caixa, que está de licença maternidade.

A mulher deu entrada no hospital em 9 de outubro para dar à luz seu terceiro filho, de parto normal. Após apresentar complicações devido a uma hemorragia, ela precisou ser transferida para a unidade hospitalar de São Gonçalo, na região metropolitana. Além do quadro hemorrágico, o acesso no braço esquerdo, feito no Hospital da Mulher de Jacarepaguá, preocupava Gleice e a família, devido ao inchaço e coloração arroxeada em sua mão.

Só depois que sua mão e seu antebraço estavam roxos, foi que os funcionários decidiram pegar um acesso no outro braço e em seguida, um acesso profundo no pescoço da paciente. Mas já era tarde. Gleice foi transferida na madrugada do dia 12 e quatro dias depois, veio a informação que ela teria que amputar a mão e o pulso. A vítima e a família, desde então, questionam o que aconteceu, mas as respostas só estão chegando três meses depois:

ENTENDA O CASO 

O bebê de Gleice nasceu no dia 10, de 39 semanas e parto normal, no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá. Após dar à luz, a equipe médica identificou uma hemorragia grave na paciente, que precisava ser tratada com urgência.

Gleice chegou a desmaiar devido a grande quantidade de sangue perdido e quando retornou ao quarto, sob efeito de medicamentos, começou a sentir muito incômodo no braço esquerdo, devido ao acesso na veia para passar os medicamentos.

Dolorido, o braço começou a apresentar inchaço e mudança de coloração, que do vermelho, ficou roxo.

A mulher estava acompanhada do marido e de sua mãe, que ouviram que o acesso ficou muito tempo no mesmo braço e por isso estava inchando. O problema só foi resolvido após 12 horas, quando os dedos de Gleice já estavam completamente roxos.

A paciente foi transferida para o hospital de São Gonçalo por volta de meia-noite do dia 12. A unidade perguntou para família o que estava acontecendo com a mão da paciente, já que o hospital que realizou a transferência não deu detalhes sobre o quadro de saúde.

Quatro dias após a transferência médica, o marido de Gleice recebeu uma ligação do hospital dizendo que ela precisaria amputar a mão e o punho. Se isso não fosse feito, ela poderia perder o braço todo ou até mesmo perder a vida.

Gleice e a família questionam que em momento algum, ninguém explicou o que levou a amputação.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga o caso e disse em nota que a 41ª DP, Tanque, fez o registro como lesão corporal culposa. "Testemunhas estão sendo ouvidas e os documentos médicos foram requisitados para ajudar a esclarecer o caso", disse a instituição.

 

Fonte: Folhapress (Daniele Dutra) 

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