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Entenda o que são juros futuros e por que eles estão caindo neste ano

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Fonte: Freepik

Os juros futuros de curto prazos tiveram queda significativa nesta quinta-feira (3), após o Copom (Comitê de Política Monetária) ter realizado o primeiro corte da Selic (taxa básica de juros do Brasil) em três anos.

Antes do anúncio desta semana, porém, as curvas de juros futuras já refletiam a expectativa do mercado sobre os cortes da Selic e deram força à Bolsa brasileira no último mês, apoiando projeções de alta do Ibovespa.

O que são juros futuros

Os juros futuros representam a expectativa de como estarão as taxas de juros brasileiras nos próximos anos e servem como referência para captação de crédito em todo o país..

Na tomada de um financiamento de longo prazo, por exemplo, para ser pago em cinco anos, a taxa de juros utilizada é a da curva para daqui a cinco anos, e não o nível de juros do momento da assinatura, como explica o economista Beto Saadia, sócio da Nomos.

"A Selic é a taxa de hoje, do momento atual, mas se ela for utilizada como referência para um empréstimo a ser pago nos próximos cinco anos, estaríamos considerando que ela não vai mudar ao longo do tempo. Por isso, é utilizada a expectativa de quanto ela estará no momento da quitação do financiamento", diz Saadia.

Assim, os juros futuros funcionam como uma previsão sobre como estarão as taxas e a política monetária brasileira nos próximos anos, dando mais segurança a quem realiza esse tipo de operação.

Com os juros futuros são formados

Os contratos de juros futuros são negociados na Bolsa de Valores brasileira, como compromisso de compra ou de venda de um ativo financeiro num prazo definido previamente, seja para um, cinco ou dez anos.

Essas operações são feitas com referência da taxa de empréstimo com vencimento em um dia que os bancos realizam entre si, através da emissão de CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários). Por isso, juros dos contratos futuros também são chamados no mercado de "taxa DI".

Ao negociar os juros futuros, o mercado consegue uma estimativa de qual será a taxa de juros em um determinado período, levando em conta, também, a percepção sobre o risco de não se receber a quantia emprestada ao longo do tempo. Com isso, investidores ganham segurança em operações de investimento de longo prazo.

Por isso, as curvas de juros futuras costumam antecipar as decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre a Selic. Se as projeções do mercado apontam para uma queda de juros até o fim do ano, por exemplo, os contratos com vencimento em janeiro de 2024 tendem a refletir essa previsão de maneira mais profunda.

"Se sabemos que a inflação está chegando na meta, a taxa de juros futura vai cair muito antes de o Banco Central se reunir e anunciar uma queda da Selic", diz Saadia.

As curvas de juros com vencimento em 2024, por exemplo, vinham registrando queda significativa desde junho deste ano, justamente antecipando um corte da Selic nesta semana. Como a redução foi acima do esperado pelo mercado, as curvas curtas caíram ainda mais após a decisão do Copom.

Porque os juros futuros estão caindo neste ano

Os juros futuros começaram um ciclo de queda especialmente a partir de abril, quando a inflação começou a dar sinais de desaceleração. Com a redução da alta de preços, investidores já começaram a apostar numa queda da Selic neste ano, e as curvas de juros futuros refletiram essas projeções.

Em maio, os dados de inflação também vieram melhores que o esperado e deram tração à queda, mas foi após a reunião do Copom de junho que as curvas atingiram seus menores níveis do ano. Na ocasião, o comitê sinalizou um corte de juros em agosto, fazendo os contratos futuros caírem significativamente ao anteciparem a redução da Selic desta semana.

A aprovação de projetos como a reforma tributária e o arcabouço fiscal também contribuíram para a queda dos juros, já que reduziram a percepção de risco de investidores e do próprio Banco

Central sobre a condução da política fiscal do país.

Após o corte maior que o esperado desta quarta, as curvas de juros mais curtas, de 2024 a 2026, tiveram uma nova redução significativa, com investidores apostando em cortes da mesma magnitude até o fim do ano.

Se confirmadas, as projeções podem dar fôlego a uma queda ainda maior das curvas futuras, na esteira das projeções otimistas para a economia brasileira em 2023.

Como os juros futuros afetam a bolsa

A expectativa de queda de juros beneficia as empresas brasileiras pois diminuem os custos de financiamento, facilitando o acesso a recursos para investimentos.

Ao tomarem empréstimos de longo prazo, por exemplo, empresas brasileiras já estão pagando as taxas embutidas nas curvas de juros futuras. Assim, uma redução nas curvas significam um custo de capital menor para as operações da companhia, com menos despesas para o pagamento de juros e, consequentemente, projeções maiores de lucro.

Além disso, quedas nos juros tiram a atratividade da renda fixa brasileira, e investidores tendem a alocar seus recursos em outras aplicações, inclusive a renda variável. Por isso, ciclos de redução de juros tendem a beneficiar a Bolsa.

Em meados de maio, por exemplo, a XP aumentou de 128 mil para 130 mil pontos sua projeção para o Ibovespa em dezembro, citando justamente a queda dos juros futuros.

Como os juros futuros afetam o câmbio

O real tende a se beneficiar de juros mais altos, já que taxas elevadas aumentam os retornos da renda fixa brasileira e atraem recursos estrangeiros para o país. Com isso, projeções de quedas nos juros jogam contra a moeda brasileira.

Logo após a reunião do Copom, por exemplo, o dólar disparou quase 2% e voltou ao patamar dos R$ 4,89 justamente pela expectativa de redução do diferencial de juros entre o Brasil e outras economias, o que faz com que investidores realoquem seus recursos para mercados mais rentáveis.

Os juros altos não são, no entanto, o único pilar de valorização do real, e economistas apontam que o Brasil pode continuar atraindo recursos estrangeiros pela atratividade da renda variável, que deve ser beneficiada pela queda nos juros.

Além disso, mesmo com o corte de 0,50 ponto, o Brasil continua com uma das maiores taxas de juros reais (que descontam a inflação) do mundo, o que mantém o país atrativo.

Como os juros futuros afetam seu bolso

A redução nas taxas de juros futuros também diminui o custo de todas as operações de crédito e empréstimo do país, inclusive o financiamento de veículos e parcelamento de eletrodomésticos.
Saadia, da Nomos, destaca que os juros futuros com vencimento em janeiro de 2024 embutem as expectativas para daqui a apenas quatro meses, e afetam inclusive compras parceladas em quatro vezes, por exemplo.

Além disso, o economista aponta que juros altos também aumentam a desigualdade, já que elevam os rendimentos de investidores que vivem de renda.

"Em países com juros altos, pessoas mais ricas conseguem ter uma renda estável apenas com o retorno de ativos, sem contribuir efetivamente para a economia. Ter um país com taxas de juros baixas é fundamental para reduzir a desigualdade social", diz o economista.

 

 

Fonte: Folhapress/Marcelo Azevedo

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