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Irã avança cerco e prende repórteres de jornal da oposição

As autoridades iranianas ampliaram nesta quarta-feira a campanha contra a divulgação na imprensa dos protestos da oposição sobre fraude no pleito de 12 de junho que reelegeu o ultraconservador presidente, Mahmoud Ahmadinejad. A polícia iraniana prendeu cerca de 20 pessoas na sede do jornal "Kalameh", favorável ao candidato reformista derrotado e líder da oposição Mir Hossein Mousavi, informaram fontes ligadas ao opositor.

"No momento em que a polícia invadiu o jornal havia aproximadamente 20 pessoas. Cinco eram do setor administrativo e o restante jornalistas", afirmou a fonte, que preferiu não se identificar. O Irã proibiu jornalistas e agências de notícias estrangeiras de permanecer no país e cobrir o que chama de distúrbios, os protestos em massa da oposição que ocupam as ruas de Teerã desde o anúncio do resultado oficial das eleições.

Segundo a mesma fonte, a redação do jornal, localizada em um edifício no centro de Teerã, já não estava em funcionamento, mas ainda era utilizada como centro de reunião.

A polícia iraniana anunciou que tinha desmantelado o quartel-general dos "sabotadores", "utilizado como base de campanha por um dos candidatos presidenciais" derrotados no dia 12 de junho.

"Após revistar o edifício, que era utilizado pela campanha de um dos candidatos, foi descoberto que aconteciam reuniões ilegais que promoviam os distúrbios e trabalhavam contra a segurança do país", disse a polícia em comunicado divulgado pela agência oficial de notícias Irna.

O comunicado não esclarecia de qual candidato se tratava, mas a emissora pública em inglês PressTV assegurou que o prédio acolhia vários escritórios de Mousavi.

Vinte e cinco jornalistas e funcionários do jornal iraniano Kalemeh Sabz, do candidato derrotado na eleição presidencial Mir Hossein Moussavi, foram presos no início da semana.

"Há cinco ou seis funcionários administrativos e os demais são jornalistas. Foram detidos na segunda-feira [22]", afirmou Alireza Beheshti, que trabalha na redação do jornal, citada pela agência France Presse. "Os agentes que vieram ao jornal não apresentaram nenhuma ordem", completou.

Beheshti informou ainda que entre os detentos estavam cinco mulheres, que foram colocadas em liberdade na terça-feira (23) à noite.

Protesto

O jornal, que foi autorizado a funcionar pouco antes da eleição presidencial de 12 de junho, foi proibido de circular um dia depois da votação.

Mousavi denuncia irregularidades e fraude nos resultados da eleição presidencial que, segundo o Ministério do Interior, resultou na reeleição de Ahmadinejad com cerca de 63% dos votos contra 34% do reformista.

Depois do anúncio dos resultados em 13 de junho, milhares de partidários de Moussavi saíram às ruas para protestar. Segundo números oficiais, ao menos 20 morreram em confrontos entre manifestantes e as forças de segurança iranianas.

Estrangeiros

A PressTV afirmou que no local foram encontrados indícios que provam o envolvimento de "elementos estrangeiros no planejamento dos distúrbios" --um discurso adotado historicamente pelas autoridades iranianas e que rendeu tensão diplomática com o Reino Unido, incluindo a expulsão, por parte dos dois lados, de diplomatas.

Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, 36 jornalistas foram presos. Destes, 26 são iranianos. Outras dezenas estão desaparecidos.

Críticas

O anúncio da prisão dos jornalistas da oposição chega um dia depois do Irã receber duras críticas dos Estados Unidos.

Em entrevista coletiva em Washington, o presidente Barack Obama condenou a repressão violenta do governo iraniano aos manifestantes que contestam o resultado das últimas eleições, ao mesmo tempo em que negou as acusações de interferência feitas por Teerã, afirmando que respeita a soberania do país.

"Os Estados Unidos e a comunidade internacional ficaram horrorizados e chocados pelas ameaças, pela violência e as prisões em curso nos últimos dias [no Irã]".

Obama disse ainda que existem dúvidas sobre a legitimidade das eleições no Irã. Ele destacou que não havia observadores internacionais acompanhando de perto o pleito.

Obama homenageou a "coragem" dos manifestantes, trazendo à lembrança "a imagem surpreendente de uma mulher sangrando até a morte nas ruas" --referência a Neda Agha-Soltan, morta durante os protestos.

"Não podemos dizer exatamente o que aconteceu nas seções de votação através do país. O que sabemos é que existe uma considerável porcentagem da sociedade iraniana que considera esta eleição ilegítima", declarou.

"Condeno energicamente estes atos injustos, e me uno ao povo americano que lamenta cada uma das vítimas inocentes", indicou Obama, em seu discurso mais firme desde as eleições iranianas, no dia 12 de junho.

"Deixo claro que os EUA respeitam a soberania da República Islâmica do Irã, e não vão intervir nos assuntos do Irã", afirmou.

O presidente americano pediu a Teerã que "governe por consenso, não pela força", referindo-se à violenta repressão que marcou os protestos no Irã.

Até então, Obama vinha mantendo uma postura mais prudente ao falar da crise iraniana, demonstrando uma leve simpatia pelos manifestantes e deixando claro seu desejo de não intervir em assuntos internos iranianos.

A condenação da repressão por parte de Obama coincide com as do alto representante para a política externa da União Europeia, Javier Solana, e de representantes de Israel e da Itália, que criticaram duramente o regime iraniano.
 
Fonte: Folha Online
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