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Defesa de Massa estende prazo para resposta da F-1 sobre título de 2008

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A defesa de Felipe Massa aceitou nesta sexta-feira um novo pedido da Fórmula 1 e da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para que os advogados do brasileiro ampliassem o prazo para a resposta das entidades sobre a busca do brasileiro pelo reconhecimento do título do Mundial de Pilotos de 2008.

O prazo venceu no dia 12, quinta-feira, e era tido como referência para que a defesa iniciasse formalmente uma ação na Justiça.

O novo prazo é 15 de novembro. Por enquanto, as conversas entre as partes acontecem em nível extrajudicial. Os advogados de Massa esperam pelo retorno da FIA e da Formula One Management (FOM), empresa que gere a F-1, para decidir quais serão os próximos passos.

"Concordamos com este período final pois se a nova administração estiver de fato examinando o assunto de boa-fé, certamente chegará à mesma conclusão a que chegamos juntamente com muitas pessoas ao redor do mundo", disse o advogado Bernardo Viana ao Estadão.

De acordo com a defesa, a FIA e F-1 estariam realizando uma investigação interna para decidir sobre a demanda do piloto brasileiro, que alega ter sido prejudicado na disputa pelo título da temporada 2008, quando defendia a Ferrari.

"A FIA e a FOM estão concluindo uma investigação interna e solicitaram uma última prorrogação para o prazo que haviam pedido, de 12 de outubro para 15 de novembro. Gostaríamos de saber qual é a posição da nova liderança da Fórmula 1 em relação ao escândalo recentemente revelado e à injustiça enfrentada por Felipe Massa", disse Viana.

Ele se refere a mudanças que aconteceram na gestão das duas entidades nos últimos anos. Atualmente, a F-1 pertence ao grupo americano Liberty Media, que passo a gerir a categoria em 2017. Já a FIA passou a ser administrada no ano passado por Mohammed Ben Sulayem, que foi candidato de oposição nas últimas eleições, em 2021.

É a segunda vez que a defesa de Massa, que conta com um grupo multinacional e experiente de advogados, aceita uma demanda por novo prazo da FIA e da F-1. O primeiro foi dado em agosto e venceu no dia 29 do mesmo mês. Eles aceitaram, então, a prorrogação até o dia 12 de outubro.

Com a decisão, as duas entidades ganham tempo para avaliarem a demanda de Massa, que já indicou que poderia aceitar a divisão do título de 2008 com o inglês Lewis Hamilton. Além disso, o brasileiro deve pedir indenização no valor de US$ 150 milhões, algo próximo aos R$ 500 milhões, pelo câmbio atual.

ENTENDA O CASO

A disputa entre Massa e F-1 e FIA remete ao GP de Cingapura de 2008, um dos mais polêmicos da história da F-1. Na ocasião, Massa e Hamilton brigavam ponto a ponto pelo título.

O brasileiro entrou naquela etapa apenas um ponto atrás do inglês, na época defendendo a McLaren. E tudo se encaminhava para uma vitória na corrida e uma virada de Massa no campeonato.

No auge de sua trajetória na F-1, o brasileiro, então na Ferrari, havia conquistado a pole position, no sábado. 

No domingo, liderava a prova até a 14ª de 61 voltas daquele GP. Foi quando Nelsinho Piquet bateu intencionalmente sua Renault, por ordem do polêmico Flavio Briatore, chefe da equipe, para beneficiar Fernando Alonso, seu companheiro de time.

O espanhol havia feito pit stop duas voltas antes e estava com o tanque cheio - na época, havia reabastecimento dos carros durante as corridas.

A batida provocou a entrada do safety car na pista, o que mudou totalmente a história da corrida. Alonso, que largara em 15º, herdou e manteve a primeira posição até a bandeirada final. Foi o maior beneficiado pela batida. Massa foi o maior prejudicado porque ainda viu a Ferrari cometer alguns erros nos boxes.

Mesmo após cair para o último lugar da prova, o brasileiro terminou a prova em 13º, sem somar pontos. Hamilton, seu grande rival no campeonato, foi o terceiro. O inglês viu sua vantagem crescer de um para sete pontos na tabela. O campeonato acabou com ele somando apenas um ponto a mais que o brasileiro na classificação geral.

CONFISSÃO DE NELSINHO

No ano seguinte, Nelsinho Piquet entrou em contato com a FIA para admitir que bateu de propósito em Cingapura para beneficiar Alonso. O filho do tricampeão Nelson havia acabado de deixar a Renault, no meio da temporada 2009. E tinha o apoio do pai para fazer a denúncia, que veio a público em agosto daquele ano.

O Conselho Mundial de Automobilismo acolheu a denúncia, julgou o caso e distribuiu punições. Desclassificou a Renault no campeonato e suspendeu os dirigentes envolvidos na polêmica decisão: Flavio Briatore, chefe da equipe, e Pat Symonds, diretor de engenharia. Alonso e Nelsinho foram poupados.

Apenas um ano depois, tanto Briatore quanto Symonds fizeram acordos com a FIA para serem liberados para atuar na F-1. O primeiro vem sendo figura constante nos GPs da atual temporada, até mesmo tirando fotos com a cúpula atual da categoria, enquanto Symonds é o principal responsável pela área técnica da própria F-1.

RETOMADA DA POLÊMICA

O caso voltou aos jornais em março deste ano. Bernie Ecclestone, chefão da F-1 por quase 40 anos, fez revelações bombásticas sobre o caso em entrevista ao site F1-Insider. Questionado sobre os títulos de Hamilton, o inglês afirmara que considerava Michael Schumacher o único heptacampeão da história da F-1 porque Hamilton não seria o campeão moral de 2008, na sua avaliação.

Ecclestone disse que considerava Massa o campeão daquele ano em razão do que acontecera no conturbado GP de Cingapura. O inglês, no entanto, foi além e revelou que ficou sabendo sobre a batida intencional de Nelsinho ainda durante 2008.

Essa informação é o grande fundamento das ações judiciais de Massa. O motivo é que, pelas regras da FIA, um campeonato não pode ter seus resultados alterados após finalizado. Assim, a confissão de Nelsinho, feita somente em 2009, não seria o suficiente para mudar o resultado daquela corrida.

Neste contexto, as declarações de Ecclestone promoviam uma grande reviravolta na discussão. 

"Max Mosley (então presidente da FIA) e eu fomos informados durante a temporada sobre o que havia acontecido na corrida de Cingapura. Nelsinho Piquet havia confessado ao pai, Nelson, sobre a ordem da equipe de acionar o safety car para ajudar Alonso a vencer. Implorei ao Nelson para manter a história em segredo", afirmou Ecclestone, que é próximo do pai de Nelsinho - o inglês foi chefe de Piquet em sua época de piloto.

"Decidimos não fazer nada na época. Quisemos proteger a Fórmula 1 e salvá-la de um grande escândalo", declarou Ecclestone, ao tentar justificar a decisão de não tomar nenhuma decisão sobre o caso ainda em 2008. "Tínhamos informação suficiente na época para investigar o caso. 

De acordo com o regulamento, teríamos que cancelar a corrida de Cingapura naquelas circunstâncias. Isso significa que aquela etapa não estaria contando para o campeonato. E aí Felipe Massa seria o campeão mundial, e não Lewis Hamilton."

O conhecimento dos principais dirigentes da F-1 e da FIA sobre o caso ainda em 2008 também foi atestado pelo documentário "Mosley: É complicado", lançado em 2021.

O site Motorsport teve acesso a uma conversa em que Mosley admite estar ciente sobre a batida proposital, em trecho que acabou não entrando na versão final do documentário.

Fonte: Estadão Conteúdo

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