Por Yala Sena

Rostos de mulheres negras retratadas em lenços esvoaçantes com olhares que provoca, desnuda quem olha é o mais recente trabalho do artista visual de Teresina, Gabriel Archanjo Espirito Santo Neto, 60 anos. Um dos artistas plásticos mais respeitado do estado, em qualquer exibição pública,  Gabriel Archanjo expõem questões sociais, entre elas, o repúdio ao racismo, além da ancestralidade, persistência da memória, sociedade de consumo, assombros e o imaginário mitológico. 

A exposição Ícono, que fica até dezembro no Espaço Cultural do Teresina Shopping, a obra de Gabriel é um diálogo com o filme de Douglas Machado “A Carta de Esperança Garcia”, que tem a participação da atriz Zezé Motta. O documentário é sobre Esperança Garcia, a primeira negra advogada do Piauí escravizada que denunciou os maus-tratos que tanto ela quanto suas companheiras e seus filhos sofriam durante a escravidão.     

No trabalho atual, ele pinta mais de 200 rostos, alguns aparecem no filme. Esperança Garcia, símbolo de luta por direitos e da resistência negra, não existe um único registro de seu rosto, sabe-se dela é a carta que foi encontrada em 1979, no Arquivo Público do Piauí, pelo historiador Luiz Mott. A fotografia é de Irineu Santiago.

Em um bate-papo com o público, Gabriel, disse que a ideia dos rostos nasceu para resgatar sua ancestralidade. Segundo ele, é um incômodo as pessoas esquecerem seus avôs, bisavós, tataravós. “Há um apagamento de memória. Pensei no lenço como aceno e os rostos reafirmando: ‘eu existo, estou aqui’. Todos somos descartáveis para o sistema, mas o ser humano não é descartável”, disse Gabriel que revelou que os rostos são de mulheres do bairro Mafuá, região onde mora e tem seu ateliê. 

O artista também trabalhou na produção visual do filme que será exibido hoje (20), às 19h, no Memorial Esperança Garcia, na avenida Miguel Rosa em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Nos dias 25 e 26 há também exibição especial do filme no Sesc Cajuína. (veja programação em baixo)

Preto e o branco

O preto e o branco predominam na obra de Gabriel. Segundo ele, “fazer trabalho colorido é doloroso. A minha alma não é colorida. O mundo não é colorido”.

Sobre as comemorações do Dia da Consciência Negra, Gabriel disse que é avesso ao tom de festividade da data, já que a luta precisa ser diária e o ano todo. “Comemoram o dia 20 e depois?”

Gabriel sempre defendeu que o artista precisa se posicionar e usa sua genialidade para provocar, para refletir seu tempo, mostrar o assombro, defender a arte como transformação de vida. 

No Espaço Cultural, também há telas que faz uma ponte sobre o descaso com a Casa da Cultura, antigo prédio onde abrigou a instituição e importante acerco sobre nossa história. 

Douglas Machado que é o curador da exposição diz que é impossível sair incólumes do trabalho artístico de Gabriel Archanjo.

“Observamos em todas as telas, esculturas e nos objetos criados por ele a relação das coisas e nós mesmos, todo o tempo”.

Leia à integra o texto: 

Recebe prêmio na terça-feira na Terrasse

Gabriel Archanjo é um dos artistas selecionado pela exposição da Terrasse com o Salão de Arte Contemporânea do Piauí que será aberto na terça-feira (21), às 19h. A curadoria foi feita por galeristas de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e São Luís. Foram  22 trabalhos de vários artistas.

Dia 6 de dezembro, será lançado o livro que mostra as obras de Gabriel escrito por ele e Douglas Machado.  

Sobre o artista

Gabriel Archanjo Espirito Santo Neto nasceu em maio de 1963 em Teresina (PI). Autodidata, no final dos anos 80 iniciou sua carreira como artista visual fazendo sua primeira exposição individual no início dos anos 90. Antes já tinha participado de exposição Rede Nacional de Ates Visuais – FUNART, Rio de Janeiro (2008) e de  exposição coletiva no Arte Piauí Hoje no Rio de Janeiro 2010. Ele realizou a exposição visual Percepções pelo Sesc –Piauí em 2016, foi Curador da Exposição Etnia e Resistência Contemporânea, em 2017 pela Secretaria de Cultura do Estado do Piauí. 
Foi Coordenador de Artes Visuais da Fundação Cultural Monsenhor Chaves e trabalhou na coordenação de Arte e literatura na Fundação Cultural Monsenhor Chaves, em Teresina. 
Atualmente está com exposição no Sesc Belenzinho em São Paulo e no Espaço Cultural do Teresina Shopping, na capital piauiense. 

Exibições celebrando o mês da Consciência Negra:

A CARTA DE ESPERANÇA GARCIA

Memorial Esperança Garcia:
dia 20/Nov (Segunda)
às 19h

Cine SESC Cajuína:
dia 25/Nov (Sábado)
às 19h
+
dia 26/Nov (Domingo)
às 15h (com acessibilidade)
e às 19h
(nas duas exibições de Domingo teremos Roda de Conversa sobre as NOVAS ESPERANÇAS — com participação de Tina Ribeiro e Catarina Santos).