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Veto de Lula à memória de 1964 mantém tutela militar sobre a República, diz historiadora

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Foto: Ricardo Stuckert

A decisão do presidente Lula (PT) de impedir que os ministérios promovam atos para marcar a efeméride dos 60 anos do golpe militar é um "desastre", diz Heloisa Starling, historiadora e professora titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Como revelou a Folha de S.Paulo, o Ministério de Direitos Humanos planejava apresentar pedidos públicos de desculpas a vítimas da ditadura e realizar outras ações para lembrar a data. Os atos, porém, foram vetados por Lula para evitar atritos com os militares em meio ao avanço das investigações sobre os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

"O presidente tem que entender que essa decisão sugere um tipo de tutela dos militares. Ele diz aos militares: ?Não façam a ordem do dia e nós não denunciaremos vocês?. Ora, isso mantém a tutela militar sobre a República", afirma.

Starling está lançando neste mês, de forma online, os primeiros dois capítulos do livro "A Máquina do Golpe - 1964: Como Foi Desmontada a Democracia no Brasil". A segunda parte sai em abril e, na sequência, a terceira e última. Ainda neste semestre, segundo a editora Companhia das Letras, o livro físico chega às lojas.

A obra detalha as principais etapas do golpe, percorrendo o período que vai de 31 de março, quando as tropas do general Olympio Mourão Filho deixaram Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro, a 11 de abril, data em que outro general, Castello Branco, foi eleito pelo Congresso para assumir a Presidência da República ?Castello era o único candidato.

"Existem uma historiografia e uma ciência política vastas sobre a ditadura, mas poucos estudiosos se detiveram sobre o que estou chamando de ?máquina do golpe?", diz Starling.

O livro é dedicado ao cientista político René Dreifuss, autor de "1964: A Conquista do Estado", primeira publicação a mostrar com fôlego a participação dos empresários na conspiração que resultou no golpe. Ele foi o orientador de Starling na dissertação de mestrado na UFMG nos anos 1980.

Na entrevista, ela comenta as ações e omissões de João Goulart, o Jango, presidente deposto; fala sobre as origens do "imaginário anticomunista"; e compara o golpe de 1964 com a tentativa de ruptura em 2023.

 

Fonte: Folhapress
 

 

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Tags: LulaMilitar