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Leia na íntegra os documentos enviados por Niède Guidon

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Veja a nota ao público
 
Senhores,
 
Li as declarações do Prof. Celito Kestering sobre o desejo de alguns professores da UNIVASF de levar o curso de arqueologia para Petrolina.
 
Suas declarações são falsas, ou porque ele não entendeu a questão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia ou por pura má fé. Eu fui duas vezes à UNIVASF, uma primeira vez, no inicio do mês, quando expliquei aos professores o que significa esse Instituto e, novamente, quando da reunião com o Deputado Paes Landim. O Prof. Celito Kestering, juntamente com o Prof. Mauro Alexandre Farias Fontes vieram me procurar e declararam (como o fizeram aliás na reunião com o Deputado Paes Landim) que somente fizeram esse baixo assinado para chamar a atenção da Reitoria da UNIVASF para as dificuldades pelas quais passa o campus de São Raimundo, pelas dificuldades de viajar para Petrolina, em razão da péssima situação da estrada.
 
Para iniciar esclareço o que é o Instituto. Trata-se de um projeto do CNPq, anunciado por um edital daquele organismo. Qualquer pesquisador brasileiro poderia apresentar um projeto, solicitando o auxilio do CNPq. Mas para isso precisaria ter um projeto de pesquisa de alto nivel, com uma equipe de pesquisadores doutores, com excelente curriculo.
 
A Profa. Dra. Anne-Marie Pessis, professora da UFPe, pesquisadora da FUMDHAM desde 1979 e orientadora do Dr.Celito Kestering, fez um projeto reunindo a pesquisa ambiental, arqueológica e paleontológica no semi-árido nordestino. A séde desse projeto é a FUMDHAM, dele participam pesquisadores da UFPe, FIOCRUZ do Rio de Janeiro e a Universidade do Cariri.Esse projeto INCT, como todos os financiamentos do CNPq tem começo e fim. A UNIVASF não fez parte do grupo inicial de pesquisadores porque somente dois de seus professores estão, atualmente, desenvolvendo projeto de pesquisa nesta região. E os projetos deles estão sendo financiados pela FUMDHAM e continuarão a ser financiados pelo projeto INCT, coordenado pela Profa. Pessis. Eu estou pesquisando dentro desse projeto pois o projeto que eu coordenava, também do CNPq, que se chamava Institutos do Milênio, expirou em março deste ano. Qualquer professor da UNIVASF que tiver um projeto de pesquisa de alto nivel, versando sobre arqueologia, meio ambiente, paleontologia, pode ser financiado pelo atual INCT.
 
Mas, na realidade, o que acontece é que esses professores que desejam ir para Petrolina, não têm nenhum projeto, não se interessam pela pesquisa. Eu, que lutei para que a UNIVASF criasse o curso de arqueologia nesta cidade, pensei que, ao se instalar aqui, eles viriam me procurar, mostrando seus projetos, pedindo nosso auxiílio para poder executa-los.
 
Na realidade, vários deles vieram me procurar, foram financiados pela FUMDHAM, mas somente para fazer a pesquisa para seus mestrados e doutorados. Assim que conseguiram o título deixaram de fazer pesquisas.A declaração do Dr. Celito Kestering "Fica bonito, vir uma equipe fazer pesquisa aqui nas nossas barbas...."já mostra o nível da sua argumentação. A Serra da Capivara é um Patrimonio Cultural da Humanidade, reconhecido pela UNESCO.
 
Todos os anos temos equipes de diversos paises e universidades, pesquisando aqui. E a FUMDHAM sempre achou isso excelente, todos os pesquisadores que aqui trabalham descobrem sempre dados novos. E, dessa interação, surgem novas hipóteses, novos dados, o que serve como um incentivo para novos projetos, novas descobertas em diversos campos da ciência. E é assim que a Serra da Capivara se tornou conhecida em todo o mundo. O Dr. Kestering diz que não são respeitados como cientistas. Mas são eles cientistas? O que já publicaram além dos trabalhos que fizeram aqui na FUMDHAM? Em que projeto de pesquisa está hoje trabalhando o Dr. Kestering? Qual a contribuição dele para o avanço da arqueologia?
 
E porque o Dr. Kestering, que quer criar "um outro instituto" para que a UNIVASF "possa desenvolver suas pesquisas", não o cria aqui? Porque Petrolina? Em Petrolina existem sítios arqueológicos, paleontológicos? Existem sítios com arte rupestre? Ou imensas plantações de frutas? E um aeroporto com 3 voos diários para Recife!
 
O Ministério da Educação gastou o dinheiro público, fruto dos impostos que o povo brasileiro paga, construindo edificios para abrigar o curso de arqueologia aqui na cidade! Por causa do egoismo, do interêsse pessoal desses professores, esses prédios serão abandonados? Vão gastar agora para construir laboratórios e salas em Petrolina? Haja imposto!
 
Prof. Dr. Niède Guidon
École des Hautes Études en Sciences Sociales - Paris
Fundação Museu do Homem Americano
Centro Cultural Sérgio Motta
64770-000 -São Raimundo Nonato - Pi
Brasil
 
 
 
Veja o ofício enviado ao reitor da Univasf
 
São Raimundo Nonato, 18 de setembro de 2009
Dr. José Weber Freire Macedo
Magnífico Reitor da UNIVASF
Magnífico Reitor.
 
Analisei detalhadamente o Memorando 151/2009 que lhe foi endereçado por um grupo de professores do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da UNIVASF, campus Serra da Capivara. Desejo levar a seu conhecimento o resultado dessa análise, bem como as conclusões às quais cheguei.
 
Inicialmente acho inconcebível e absolutamente contrário aos procedimentos democráticos que devem reger a vida acadêmica, que os termos desse memorando não tenham sido discutidos em uma reunião com todos os professores e que os mesmos não tenham sido submetidos à votação. Alguns redigiram, outros assinaram e, finalmente, outros, desconheciam seus termos.
 
O primeiro parágrafo falta com a verdade quando fala das dificuldades para esses professores permanecerem em São Raimundo Nonato. Alguns são proprietários de suas casas, outros as alugaram. A FUMDHAM possui uma pousada e teria cedido um apartamento para aqueles que tivessem problemas em encontrar um alojamento. Nunca ninguém solicitou a cessão de um local. Todos se inscreveram em um concurso para professores do campus de São Raimundo Nonato e conheciam a cidade ou deveriam conhecê-la. Porque se inscreveram? Possivelmente com segundas intenções, certos de que poderiam alegar problemas variados e, com um cargo federal, conseguir ir para onde queriam ir e não podiam conseguir pelas vias corretas e éticas.
 
O segundo parágrafo trata da dificuldade de contratar professores. No Brasil, foram criados vários cursos de licenciatura em arqueologia, mas, nenhum dos cursos existentes no país tem laboratórios, acervo e equipamentos como os que existem na FUMDHAM, colocados à disposição da UNIVASF. A FUMDHAM lutou e conseguiu que o governo federal, juntamente com o governo do Piauí, construísse o aeroporto internacional nesta cidade. Na semana passada os recursos para a construção do terminal aéreo foram liberados e a inauguração se dará em 2010.
 
A cidade de São Raimundo Nonato tem futuro e passou a ser área prioritária do Governo para a interiorização e o desenvolvimento do turismo científico e ambiental.
 
Sobre o número exagerado de cursos e a pouca demanda dos alunos, insisto: nenhuma dessas universidades tem laboratórios, biblioteca e equipamentos como o curso da UNIVASF, que poderia ser o melhor do Brasil, desde que seus professores tivessem escolhido a vida profissional, integrada no ensino e na pesquisa. Essas questões deveriam ser dirigidas ao Ministro da Educação e não simplesmente alegar que não há alunos que queiram se formar aqui. Aliás, acho ótimo que para cá venham somente aqueles dispostos a enfrentar as dificuldades do sertão, aqueles que querem mesmo ser arqueólogos, que querem pesquisar. Qual dessas outras universidades tem, ao lado, um Patrimônio Cultural da Humanidade, tombado pela UNESCO?
 
Os alunos do campus local podem conviver com os alunos de todos os cursos que existem na UESPI local, se conviver com alunos de outros cursos seja realmente uma questão essencial para seu desenvolvimento. E, poderão, desde que bem formados, ir a congressos e a encontros acadêmicos. Mas eu aconselharia que esses alunos, passassem suas horas trabalhando nos laboratórios, aprendendo em suas horas de lazer, pois isso é o que todos os grandes arqueólogos que conheço fizeram. Todos os alunos da UNIVASF têm a possibilidade de conviver e aprender com os grandes pesquisadores, nacionais e estrangeiros, que vêm trabalhar nos laboratórios da FUMDHAM e no Parque Nacional. E verão que, em todas as grandes universidades do mundo, os pesquisadores vão a campo durante suas férias, pois durante o resto do ano estão dando aulas e pesquisando em seus laboratórios. E se o problema é que o curso de Ciências da Natureza funciona em período noturno, basta passar o de Arqueologia para a noite também. Assim os alunos e professores poderão trabalhar e estudar durante o dia nos laboratórios da FUMDHAM.
 
Um esclarecimento se faz necessário: os alunos foram consultados sobre a transferência do curso de arqueologia? Fizeram uma votação? Os alunos querem ir para Petrolina ou Juazeiro? Quantos professores da UNIVASF basearam seus trabalhos de mestrado ou doutorado, no acervo e documentação da FUMDHAM? Quantos alunos usaram esse mesmo material para seus trabalhos de término de curso? A FUMDHAM somente manterá o convênio de parceria se o campus permanecer aqui; se houver mudança para Petrolina ou Juazeiro, o convênio não terá prosseguimento e a FUMDHAM não cederá mais material, nem dará nenhuma facilidade aos professores da UNIVASF. Nenhum aluno, ou professor da UNIVASF terá acesso aos nossos laboratórios.
 
O projeto de uma fusão entre os cursos de arqueologia da UNIVASF e da UFPE nunca existiu, trata-se de uma fantasia inventada pelos professores autores do memorando.
 
Ao invés de salientar as dificuldades de comunicação do campus Serra da Capivara com os de Juazeiro e Petrolina, seria melhor que, os professores que assinam o memorando, lutassem, como nós da FUMDHAM o temos feito. Que solicitassem ao governo federal, ao governo da Bahia e do Piauí, que fossem realizados trabalhos, imediatamente, para recuperar as estradas.
 
A questão do Instituto Nacional levantada no memorando e que foi objeto de explicações detalhadas que, pessoalmente, dei aos professores da UNIVASF, foi mal entendida. Trata-se de um projeto de pesquisa do CNPq, que recebeu essa denominação. Já tivemos o PRONEX, depois o Institutos do Milênio, agora o Instituto Nacional, coordenado pela Profa. Anne-Marie Pessis, com sede na FUMDHAM. Desse projeto participam universidades e o Instituto Osvaldo Cruz, do Rio de Janeiro, porque, pesquisadores dessas instituições, têm projetos de pesquisa integrados no Instituto, sendo realizados no Nordeste. A UNIVASF não fez parte do pedido apresentado ao CNPq porque nenhum dos professores do curso de arqueologia tem um projeto de pesquisa integrado no programa do Instituto Nacional, além de que eles não tem, ainda, a devida formação acadêmica para estar integrados num Programa de Excelência como são os Institutos Nacionais.
 
Como salientam os professores, nas proximidades de Petrolina e Juazeiro haverá um grande centro do Projeto de Integração e do Rio São Francisco e, portanto, eles terão laboratórios e não precisarão mais da FUMDHAM. Justamente, quando estamos vendo com o Ministro Sérgio Rezende, como agir para federalizar nosso Museu, laboratórios e reservas técnicas, fazendo com que tudo o que aqui foi criado sirva para todas as gerações futuras. A administração do campus FUMDHAM será, então, feita por organismos federais, designados pelo Ministro de Ciências e Tecnologia. Será algo como o Museu Goeldi ou como o Instituto Oswaldo Cruz.
 
A leitura desse memorando me faz pensar que os professores que o assinam não estão interessados em desenvolver pesquisas e serem bons docentes, não pensam nas dificuldades dos alunos para uma transferência desse tipo. Eles estão pensando apenas nos seus próprios e egoístas interesses.
 
Magnífico Reitor, levarei a questão ao senhor Ministro da Educação, finalmente lutei pela criação do Curso de Arqueologia, aqui na Serra da Capivara, porque sei que, se tivesse bons professores, iriam se formar bons arqueólogos, dedicados à pesquisa. Mas penso que não se tem o direito de fazer valer as vantagens pessoais, desprezando o futuro dos estudantes.
Atenciosamente,
Niéde Guidon
 
 
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