Nas comemorações dos 187 anos da Batalha do Jenipapo, os historiadores Fonseca Neto, Alex Mendes e o diretor presidente da TV Cidade Verde, Jesus Tajra Filho, participaram de um bate-papo na tarde desta sexta-feira (12) no auditório do Sebrae com estudantes e professores. A sangrenta luta pela Independência do Piauí, travada em Campo Maior, 80 quilômetros ao norte de Teresina, é uma batalha esquecida ao longo da história e que movimentos vêm resgatando para os livros didáticos e para a historiografia nacional.

Fotos: Yala Sena/Cidadeverde.com

Fonseca Neto fez revelações e provocações aos estudantes presentes, e disse que a história brasileira não tinha interesse em trabalhar uma batalha travada por heróis pobres. O historiador citou o livro "Sertão", de Carlota Carvalho, que desmascara tais visões elitistas sobre os heróis anônimos que assustam a elite brasileira. 

Ele disse ainda que é preciso recuperar o que ele considera como "texto silenciado", porque patriotas se transformaram em criminosos. Como exemplo, citou um dos defensores da independência Leonardo das Dores Castelo Branco, que foi preso quando eclodiu a batalha, em uma emboscada feita e foi preso por Manoel de Sousa Martins, que também era considerado herói e por quem foi traído. 

Fonseca Neto traçou o contexto da época da batalha. Lembrou que 36% da população piauiense era formada por escravos, e a maioria era pobre, representada por vaqueiros. Ele afirmou ser preciso lembrar dos homens mortos na batalha, para decifrar o que estava na cabeça e na alma deles. "Os sonhos de muitos deles não eram os mesmos", ressaltou.

Jesus Tajra Filho exibiu trechos de "A história da Independência do Piauí", documentário por ele dirigido para o especial "Viva Piauí: 250 anos de história", exibido na TV Cidade Verde em 2008. Ele mostrou aos estudantes o início do filme, com a presença de um vaqueiro para destacar a linguagem e as vestes de um elemento forte da cultura piauiense.

O empresário frisou que a TV Cidade Verde se preocupa em divulgar bem as coisas do Piauí e revelar a história da nossa terra. Ele lembrou que João José da Cunha Fidié, um anti-herói na Batalha do Jenipapo, ainda é a pessoa mais conhecida nessa história, e é preciso lembrar dos verdadeiros heróis da independência do Piauí. Para tanto, o filme foi feito em uma linguagem voltada pra os jovens estudantes.

Além de citar os populares, Jesus Tajra Filho apontou Leonardo das Dores Castelo Branco, Simplício Dias, e Loreno Barbosa, como pessoas importantes na luta contra as tropas de Fidié. O empresário declarou ainda que o 13 de março está interligado com o 19 de outubro, quando Parnaíba declarou independência, o 22 de janeiro, das primeiras lutas contra Fidié na Lagoa do Jacaré, em Piracuruca, e o 24 de janeiro, em Oeiras, onde houve a adesão do Piauí à independência do Brasil.

Outro ponto interessante destacado durante a apresentação de techos do filme foi a comunicação da época, feita por um grupo chamado "positivo", com pessoas em cavalos. Elas levavam mensagens, funcionando como uma espécie de espião. Fonseca Neto acrescentou que os homens de maior confiança seguiam a pé para tais missões. 

Alex Mendes afirmou que a luta para que a Batalha do Jenipapo seja reconhecida não é imposição dos piauienses, mas sim da própria história. "O fato já está nos escritos portugueses", destacou. Ele lembrou dos primeiros conflitos em Piracuruca, aparentemente tímidos, onde Fidié encontrou resistência antes de chegar a Campo Maior. 

Os dois professores elogiaram o documentário. Alex Mendes disse que o filme incentivou e aguçou a curiosidade dos estudantes, e que até a questão do calor, não citada na historiografia, também foi lembrada nas gravações. No auditório do Sebrae, também foram distribuidos exemplares do livro "Jenipapo: riacho irrigado com o sangue da esperança", escrito por Fonseca Neto.