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Ator vive escondido de amigo que crê querer matá-lo

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John Lurie, 58, sumiu. O ator e músico, que nos anos 1980 virou ícone "cool" ao fazer alguns dos filmes mais incensados da década, fugiu de Nova York há dois anos.


Nascido em Worcester, Massachusetts, ele morava em Manhattan desde 1978. Foi vivendo ali que virou amigo do diretor Jim Jarmusch e de Tom Waits ("Daunbailó"), fez sucesso com o grupo The Lounge Lizards e usou cocaína com outras personalidades "cool".


Um amigo que conheceu nos anos 1990 foi o motivo da fuga da cidade à qual ficaria para sempre associado.


O pintor John Perry, 13 anos mais novo, havia se tornado uma das pessoas mais próximas de Lurie, mesmo após 2002, quando o ator foi dominado pelos sintomas de uma doença misteriosa.


Enquanto era diagnosticado com inúmeros distúrbios, de esclerose múltipla a epilepsia, Lurie, sem poder tocar nem filmar, fechou-se em seu apartamento, no Soho.


"Depois que fiquei doente, meus amigos artistas, à exceção de Flea [do Red Hot Chili Peppers] e Steve Buscemi, me largaram", Lurie disse à revista "New Yorker", que, na edição de agosto, dedicou dez páginas ao ator.


Perry ficou ao seu lado. Até que, em 2008, pediu-lhe um favor. O pintor queria que Lurie posasse para ele na gravação do piloto de um programa sobre desenho, na esperança de ser contratado por um canal de TV.

O músico Tom Waits (à esq.), e os atores John Lurie (centro) e Roberto Benigni, em cena do filme "Daunbailó", de Jim Jarmusch

VIDA EM FUGA


A revista conta que, em uma noite de novembro de 2008, Lurie se sentiu mal algumas horas depois do início das filmagens, que teve um investimento de US$ 6 mil (cerca de R$ 10 mil).


Quando começou a ter a sensação de que abelhas o estavam picando, avisou de sua "agonia". Pediu desculpas e cortou a gravação. Precisou de ajuda para pegar um táxi para casa.


Ao observá-lo indo embora, Perry "tinha o semblante intenso, perdido, infantil. Mais tarde, pensei, aquele foi o momento em que decidiu me matar", afirma Lurie.
Inconformado com a inconclusão do vídeo, Perry passou a acreditar que Lurie saíra para assistir a uma luta de boxe pela TV. Ligava e escrevia pedindo explicações.


Quando Lurie tentou cortar relações, passou a ser perseguido e concluiu que o amigo queria matá-lo.


Em entrevista à Folha, o ator, que viaja de um lado a outro e evita contar onde está, atribui a fuga ao fato de ter "um amigo que ficou louco e quer me machucar a qualquer custo".


À "New Yorker" Perry reconheceu que "nunca havia ficado tão bravo", mas disse que jamais teve a intenção de fazer mais do que "bater nele" --queria apenas aterrorizá-lo até ser compreendido.


Leia a seguir trechos da entrevista que o ator concedeu à Folha:



Como vê hoje a sua carreira como ator? Algum orgulho ou arrependimento?
Eu não sei, nunca senti realmente que tivesse uma carreira como ator. Nunca fiz o bastante para saber o que estava fazendo. Não, não me arrependo de nada.


Quando começou a pintar profissionalmente?
Comecei quando criança e nunca parei. Quando fiquei doente e preso em casa, concentrei-me mais nisso.


As pessoas falam muito de sua amizade com Jean-Michel Basquiat [1960-1988], mas me parece que o acha superestimado. Por quê?
Eu não acho que ele seja superestimado. Quero dizer, ele fez algumas pinturas que não eram tão boas, mas também algumas ótimas. É estranho como as pessoas falam sobre a nossa amizade. Ele era um garoto que me seguia. Dormia no meu chão. E, de repente, ele era esse sucesso gigantesco como pintor --e então ficou desagradável e confuso.


O que o fez deixar Nova York?
Tenho um amigo que ficou louco e quer me machucar a qualquer custo.


Pode me contar onde está morando agora? Vive sozinho? Sente-se isolado?
Eu não me sinto isolado, eu estou isolado.


Algo mudou por causa da reportagem da "New Yorker"? John Perry ainda o persegue?
A reportagem era realmente ruim. Nada mudou, exceto pelo fato de que as pessoas supõem que o problema está resolvido porque apareceu em uma revista --mas nada poderia estar mais distante da verdade.


As pessoas dizem que você é um "ícone 'cool' de NY". O que acha disso?
Eu ignoro. O que isso quer dizer? Não gosto da ideia de "cool" ["frio", na tradução literal]. Preferiria ser "warm" ["quente", "afetuoso"].


Quais são seus planos para o futuro?
Não tenho a menor ideia.

 

Fonte: Folha Online

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