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Delegado investiga prefeitos por uso de notas frias e diz sofrer ameaças

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Após a Polícia Federal deflagrar a Operação Geleira, que prendeu oito prefeitos e outros ex-gestores no Piauí, o trabalho da Delegacia de Combate aos Crimes de Ordem Tributária, Econômica e Relações de Consumo - Deccoterc - passou a merecer mais atenção. A divisão da Polícia Civil que apura fraudes para desvio de verba pública acumula inquéritos de prefeituras piauienses. Cerca de 90% dos que tratam do uso de notas fiscais frias confirmam o ato ilícito.

Fotos: Yala Sena/Cidadeverde.com

A estimativa é do delegado Roberto Carlos Sales Silva, que instaurou 18 inquéritos nos últimos dois anos. As investigações dizem respeito a fraudes no de fundos da Educação (Fundeb e Fundef) e Saúde (SUS). Em entrevista no Jornal Cidade Verde desta segunda-feira (31), ele confirmou ser quase impossível precisar o valor do dinheiro desviado, e revelou já ter sofrido ameaças de morte em função do seu trabalho. 

"A gente convive com isso, mas é normal, é natural", disse o delegado, sobre as intimidações. "As coisas estão mudando. Estamos trabalhando dioturnamente: a Deccoterc, a Secretaria de Fazenda, a Polícia Federal. Nós vamos coibir esse tipo de corrupção no Brasil", acrescentou Roberto Carlos, que pede mais investigações por parte da Receita Federal. 


Uma das notas supostamente frias foi exibida em reportagem da TV Cidade Verde. A empresa de engenharia cobrou R$ 223.260 como terceira parcela para obras de recuperação de uma estrada vicinal. Os valores fazem o delegado perder a noção de quanto pode ter sido desviado no Piauí. Segundo ele, poucos documentos investigados são legais. 

"É incomensurável você calcular o tanto de dinheiro que sai pelo ralo através de notas fiscais frias. Eu te digo que, pelos inquéritos que instaurei, em 90% temos a conclusão de que há desvio. O prefeito pega o dinheiro público e usa como se fosse seu. (A Operação Geleira) é a ponta do iceberg", afirmou Roberto Carlos.


Os esquemas investigados pela Deccoterc envolvem, em média, oito pessoas por nota fria, entre atravessador, fornecedor da nota e o prefeito. E o delegado alerta: "Quando você se depara com um prefeito, um juiz, um delegado rico só com o seu salário, existe corrupção".

Fábio Lima
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