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"Gosto de puxar meu próprio tapete", diz cantora Céu em Teresina

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No hall do hotel, os jornalistas. Os câmeras ajustam a luz e preparam o local da entrevista, tudo sob o olhar atento da assessora-produtora. Eis que um pouco antes das 19h o elevador se abre e surge Maria do Céu Whitaker Poças, a Céu, uma das grandes revelações da música brasileira dos últimos anos, indicada ao Grammy, elogiada pela crítica brasileira e internacional, agenda com turnê nos EUA para abril e maio, grande atração desta quarta-feira (6) no Festival Artes de Março. Mas ela vem em direção ao nosso grupo tranqüila, com uma timidez muito simpática, cumprimenta a todos e se acomoda para a bateria de perguntas.

Céu já tinha vindo ao Piauí para participar do Circuito Banco do Brasil acompanhando o cantor Marcos Valle em 2006, mas esta é a primeira vez que ela vem para apresentar um show inteiramente seu às 20h no Teresina Shopping. A cantora conversou com o CidadeVerde.com e falou não só de música, mas da família, de outros talentos e diz que faz questão de puxar o seu próprio tapete. Tudo isso com sorriso no rosto e um grain de beauté na ponta do nariz.



A Música Brasileira sempre foi cheia de grandes intérpretes mulheres. Atualmente, a gente vê um movimento grande de meninas compondo também. Como você vê esse cenário?
Fico feliz. É um momento bonito que a música brasileira está vivendo. O Brasil tem a tradição de mulheres na música; antes só cantoras, hoje compositoras. Isso condiz com a nossa cultura, a diversidade.


Como você sente a boa recepção do seu trabalho tanto dos fãs como da crítica até de fora do Brasil?
Fui fazendo da maneira que pensei que era eu, realmente sentindo que era verdadeiro pra mim. Foi um alcance bacana, eu não imaginava, não esquematizei ou tive estratégia pra isso. Foi uma junção de estar na hora certa com as pessoas certas e das pessoas quererem ouvir o que eu estava querendo cantar e tocar.

Fotos: Carlos Lustosa Filho/CidadeVerde.com

Céu foi indicada a um Grammy e a dois Grammys Latinos.



Você tem uma marca peculiar e muito pessoal de cantar não só as suas músicas, mas também as de outros artistas. Você se sente melhor cantando suas composições ou interpretando?
É uma pergunta difícil. Acho que meio a meio. Eu gosto de contar minhas coisas e interpretar também.


Seu pai, Edgard Poças trabalhou com o Balão Mágico. No seu disco mais recente, o Vagarosa, você regravou uma música para a sua filha (“Rosa, menina Rosa” de Jorge Ben Jor para a filha Rosa). Você já pensou em fazer algum trabalho voltado exclusivo para crianças?
Tive uma experiência recente no projeto Guri que ajuda uma criançada carente através da música, fez uma música especial pro disco e eu amei. Gosto muito de criança acho muito capaz de eu fazer um trabalho voltado para crianças, para mim é bem familiar essa história.


Cantora mescla música brasileira com ritmos
jamaicanos e africanos numa sonoridade pessoal.


 


O seu último CD ("Vagarosa") foi lançado em 2009. Quando você deve lançar um novo disco?
Tô começando a pensar, tô animada. Tenho as minhas idéias, mas ainda é cedo pra dizer como será. Não consigo ver a cara que vai ter o CD. Creio que para o início do ano que vem já deva lançar.


O conceito do "Vagarosa" é muito forte. Fala de lentidão, de não ter pressa na vida. Você acha que algumas pessoas entenderam mal e fizeram comentários um tanto sem sentido?
É um conceito muito subjetivo e que pode ser manobrado para diversas visões. Eu sabia desse risco. Eu dou essa sugestão no nome do álbum. É um disco que eu peço para as pessas sentirem, pararem para ouvir. Eu sabia que era uma coisa complicada.

 
Você fez ilustrações para algumas músicas do seu pai e no topo do seu site há uma que você fez da sua mãe. Para você, o desenho também é uma forma de se expressar?
Desenho é diversão. Sempre gostei de ler quadrinho. Turma da Mônica quando eu era criança e depois fui descobrindo coisas mais sofisticada, Moebius (quadrinista francês), cheguei a pensar em ser desenhista quando era adolescente, mas a música foi categórica. Mas adoro desenho, gosto muito.


Ilustração feita por Céu para a música "Ripa na Chulipa", do pai
Edgard Poças. Mais detalhes no site www.edgardpocas.com.br





Você já tem uma carreira sólida, mas faz inúmeras participações e trabalhos com outros artistas. Queria que você comentasse sobre estes projetos. 
Eu gosto de estar com as pessoas. Acho muito mais divertido e enriquecedor até para o meu trabalho pessoal. Quando eu posso, quero ter essa oportunidade de dividir, com outra cantora, outro cantor. Acho que quando a gente fica na nossa zona de conforto e estaciona num lugar que você sabe que está dando certo, tem muitas armadilhas que podem acontecer aí. Essas armadilhas não me interessam. Eu gosto de puxar o meu próprio tapete. (risos.) Eu sei que isso soa estranho, mas pra mim faz bem. No sentido de me desafiar, de me ceder para o ponto de vista do outro. O Três na Massa do Rica (Amabis), do Dengue e do Pupillo,é um projeto onde as cantoras realmente estão ali para virar a personagem que eles criaram na música. O último Três na Massa que eu gravei e ainda não foi lançado, é muito confessional. Eu tô cantando muito baixinho de um jeito que eu nunca gravei. É um desafio pra mim... um falsete muito baixinho... pra mim é enriquecedor. Eu adoro fazer isso.


Os seus discos têm músicas com uma sonoridade cheia de efeitos, ruídos, barulhos... É muito difícil adaptar o repertório para o palco?
O primeiro disco foi mais difícil. Eu tinha o desafio de transpor todos os barulhos, ruídos e vocais. Eu não tenho backing vocals, o DJ vem servindo muito para isso. Ele dispara samplers dos backings  e não tem gente que faz muito isso no Brasil. Ele acabou se tornando uma coisa muito grande no meu show. Virou um músico-chave. Mas já no “Vagarosa” que é um disco mais orgânico, ficou mais fácil. Mas sempre temos que apertar uns parafusos porque tem muita coisa mesmo. Mas é divertido eu adoro fazer isso.


Céu deve lançar disco novo no início de 2012.



Você gravou uma participação no disco do seu irmão, Diogo Poças (2009). Vocês já compuseram algo juntos?
Nunca. Mas a gente é muito ligado, a gente se vê direto. Pelo menos duas vezes por semana. A gente troca muita idéia. Mas ele vem de uma formação diferente da minha. Não no sentido de casa, que é a mesma, mas ele estudou, toca piano superbem, ele tem uma coisa mais teórica elaborada do que eu. Eu sou mais da rua, usei mais a rua como escola. Mas nada impede de um dia a gente poder conversar.


Suas músicas foram trilha de novela, mas você é muito discreta, low profile. Você chega a temer que suas canções sejam muito massificadas?
É um talento, ou melhor, uma habilidade isso fazer uma música que vai bombar. É um estilo próprio de cada artista. Não sei se as minhas músicas têm esse perfil. Eu toquei bastante no primeiro disco, algumas tocaram até mesmo em duas novelas de dois canais diferente (risos). Pra mim é muito bom, não tem problema não. O problema maior seria, sei lá, do nada virar uma pessoa extremamente conhecida.

 
Alguns artistas estão deixando as redes sociais ou sequer entraram nelas e fazem questão de alertar os fãs sobre isso, prevenindo fakes. Como você lida com isso? 
Tenho facebook e tudo, oficial que não é alimentado por mim. Eu comecei com myspace, mas quando começou a bombar demais eu deixei de atualizar, porque começa a ficar desinteressante. As pessoas só começam a mandar coisa e não tem mais aquela troca do início. Sou desse início de redes sociais e de mudança na indústria da música e utilizo como ferramenta é uma ferramenta incrível para quem ta começando. Veja que incrível uma distribuidora você pode gravar um som na sua casa, colocar no facebook e não sei quantas pessoas escutando.


Mas antes do lançamento, o "Vagarosa" vazou na internet. Isso te chateou?
O EP também vazou. Eu sou a favor. Tem um lado transgressor meu que acho ótimo. (risos.) Eu acho que é mais uma chance de as pessoas acontecerem. Mas temos que ter uma forma também de capitalizar isso para o artista. Tenho o selo independente, a Urban Jungle e quem distribui é a universal. Acho interessante essa cooperativa. O pequeno selo se unindo às grandes gravadoras como distribuidoras, apenas. Acaba sendo um trabalho artesanal e distribuído pela máquina da grande mídia.


Nas horas vagas, o que você gosta de fazer?
Cuidar da filha (Rosa, de dois anos).  


Carlos Lustosa Filho
[email protected]

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