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Militares da reserva querem tirar do ar novela do SBT sobre ditadura

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Um abaixo-assinado criado por militares da reserva da Aeronáutica, disponível no site militares.com.br , pede a retirada do ar de "Amor e revolução", novela escrita por Tiago Santiago e exibida no SBT. O autor da mobilização, José Luiz Dalla Vecchia, que mora em Belo Horizonte, alega que o folhetim pode colocar a população contra as Forças Armadas. A trama gira em torno da ditadura militar (1964-1985) no país e retrata a perseguição política contra os militantes de esquerda da época.


Até o início da manhã de ontem, a ação tinha sido assinada por aproximadamente 400 pessoas. No texto de abertura do abaixo-assinado, os reservistas insinuam que a novela parece ser um acordo firmado entre o proprietário da emissora, Silvio Santos, e o governo federal por meio da Comissão de Verdade para quitar as dívidas do Banco Panamericano que pertencia ao apresentador e foi recentemente negociado por R$ 450 milhões.

Foto: SBT/Divulgação

'Amor e Revolução', do SBT, retrata a ditadura militar


Dalla Vecchia, que é o 1º secretário da Associação Beneficente dos Militares Inativos Graduados da Aeronáutica (ABMIGAer), alega que as Forças Armadas não devem permitir, dentro da legalidade, que a novela seja exibida. Ele ressalta que os militares já se manifestaram negativamente sobre a trama.


- Qual a finalidade da novela? Será que veio para reviver essa questão? - questiona. - Todos os que participaram dessa época já estão mortos. Nós, os militares atuais, não temos nada a ver com isso. Não é justo que esse assunto venha à tona e prejudique os que estão na ativa - disse ao site do GLOBO.


Procurado, o SBT não quis falar sobre o documento assinado pelos oficiais.


O abaixo-assinado já causou polêmica na web e, em contrapartida, foi criado uma outra ação, no site Petição Pública , que defende a transmissão da novela. A presidente do grupo "Tortura nunca mais" , Cecília Coimbra, acredita que "Amor e revolução" conta com depoimentos verídicos sobre a época e que o abaixo-assinado é um absurdo.


- Seria cômico se a história não fosse trágica. As pessoas se esqueceram que estamos em 2011 e que a censura ficou para trás - conclui.


Autor da novela diz que a acusação é 'esdruxúla'

O novelista Tiago Santiago afirma que a trama foi aprovada pelo SBT quatro meses antes da crise e venda do Panamericado.


- Censura é inconstitucional. Esta movimento contra "Amor e revolução" só interessa a quem cometeu crimes e não quer que eles sejam mostrados - diz o escritor.


A jornalista Denise Fon, integrante da Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT), lamentou a criação do abaixo-assinado.


- Se algum lado se sente prejudicado com a novela, deveria pedir o direito de dar sua opinião, em vez de tentar impedir a exibição da novela - acredita Denise, que assim como mais de 70 militantes de esquerda, deu seu depoimento à produção da novela para exibição ao final de cada capítulo.


Segundo Santiago, a produção esforça-se desde janeiro para gravar depoimentos de militares e apoiadores do golpe. No entanto, a maioria tem recusado. O autor conta que chegou a oferecer ao coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra (ex-comandante do DOI-Codi, acusado de tortura e assassinatos) a possibilidade de ver seu depoimento editado antes da exibição. Ainda assim, Ustra preferiu não falar. Até agora, foram gravados e exbidos os depoimentos de Jarbas Passarinho, que foi ministro durante a ditadura, e do oficial de reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, conhecido como Major Curió, um dos responsáveis pela repressão à Guerrilha do Araguaia.


Crítica de TV e professora da Universidade de São Paulo, Esther Hamburger reconhece que é um desafio tratar da história recente do Brasil em uma telenovela, mas diz que a narrativa não foi capaz de sensibiliza-la.


- Apesar da iniciativa ousada, o começo de "Amor e revolução" é fraco dramatúrgica e historicamente. A repercussão na internet com os abaixo-assinados pode melhorar a audiência. No entanto, para a novela dar certo é preciso que a narrativa seja capaz de gerar empatia. O que vi até agora foi uma sucessão de cenas de tortura, quase um inventário de formas de tortura em diferentes cenários, e de amor. Faltou mostrar a militância em ação _ analisa a especialista.



Fonte: O Globo

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