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Realengo: escola do massacre vira modelo

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"Não culpo ninguém, mas precisou acontecer uma tragédia daquelas para eles olharem para nossa escola." A constatação é de Maria José Martins, mãe da estudante Laryssa Silva Martins, uma das 11 vítimas do massacre da escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, em abril de 2011 - quando o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira abriu fogo em uma sala de aula antes de ser atingido por um policial e se suicidar. Na manhã desta segunda-feira, o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes inaugurou a reforma da escola na abertura do ano letivo. Com investimento de R$ 9 milhões e a construção de um novo prédio, a Tasso da Silveira vira exemplo após uma tragédia.


"Claro que essa escola se tornou especial. Fizemos algo acima do padrão das demais escolas do município devido a todas as características que envolveram a reforma", afirmou o prefeito. "A Tasso da Silveira precisa ser diferente mesmo. A gente tem orgulho de toda a nossa rede, mas o que a gente queria com essa reforma é incentivar os alunos que sofreram o trauma daquele fato a vir estudar. Para isso construímos uma escola diferenciada."

Maria José e os familiares das vítimas do massacre jamais vão conseguir superar totalmente o trauma. Mas a reabertura da escola após sete meses de reforma foi em tom de otimismo para os alunos que se salvaram e os novos que ingressaram na escola. Enquanto a Tasso da Silveira perdeu 40 alunos do ano passado para 2012, ganhou mais de 100 que deixaram a lembrança da tragédia de lado e compreenderam que as obras colocaram em Realengo uma escola-modelo para a rede municipal.


"Por um lado, é ruim que tenha acontecido tudo isso só depois de uma tragédia. Mas por outro é uma maneira de incentivar mesmo os alunos", disse Sandra Marinho, mãe de Jucilene Brum, 15 anos, aluna do nono ano. "A minha filha, depois do massacre, não queria mais estudar. Tive que conversar muito com ela, mostrar que ela precisava dar força às amigas. Ela acompanhou a construção e ficou encantada. Acho que já apagou 50% do trauma psicológico de ter vivido tudo aquilo e vai apagar mais ainda."


A sala onde o massacre começou ficou só na memória. A reforma destruiu suas paredes e ela virou uma passagem para o prédio anexo recém-construído. A escola Tasso da Silveira ganhou laboratórios, novas sala de aula e até um belo auditório para começar um novo ciclo. "A gente tem que levar a vida adiante. Ano passado voltamos unidos depois da tragédia e vamos permanecer assim. Houve aulas durante a reforma, com todo aquele barulho e transtorno, mas não reclamamos. Agora estamos dispostos a estudar", garantiu Lucas Matheus, aluno da nova Tasso da Silveira.

Prefeito nega reforço na segurança

O prefeito Eduardo Paes não pretende colocar guardas armados nas escolas municipais depois do massacre da escola Tasso Silveira. Paes disse que contratou porteiros para a maioria e colocou câmeras de segurança, mas não vai fazer nada além disso. "Não podemos tratar uma fatalidade daquelas como algo normal, que acontece todo dia. Não vou colocar seguranças armados dentro de uma escola. Não esperem da prefeitura transformar as escolas em fortalezas. As escolas precisam ter um ambiente bom e serem integradas à comunidade", afirmou.

Tragédia em Realengo

Um homem matou pelo menos 12 estudantes a tiros ao invadir a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã do dia 7 de abril de 2011. Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, era ex-aluno da instituição de ensino e se suicidou logo após o atentado. Segundo a polícia, o atirador portava duas armas e utilizava dispositivos para recarregar os revólveres rapidamente. As vítimas tinham entre 12 e 14 anos. Outras 18 ficaram feridas.


Wellington entrou no local alegando ser palestrante. Ele se dirigiu até uma sala de aula e passou a atirar na cabeça de alunos. A ação só foi interrompida com a chegada de um sargento da Polícia Militar, que estava a duas quadras da escola. Ele conseguiu acertar o atirador, que se matou em seguida. Em uma carta encontrada com ele, Wellington pediu perdão a Deus e deixou instruções para o próprio enterro - entre elas que nenhuma pessoa "impura" tocasse seu corpo.

Dias depois, a polícia divulgou fotos e vídeos em que o atirador aparece se preparando para o ataque durante meses. Em um deles, Wellington justificou o massacre por ter sido vítima de "bullying" praticado por "cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem". Na casa dele, foram encontradas diversas anotações que mostraram uma fixação pelos ataques de 11 de setembro de 2001. O atirador acabou enterrado como indigente 15 dias após o massacre, já que nenhum familiar foi ao Instituto Médico Legal (IML) liberar o corpo.

Fonte: Terra
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