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Alunos de Cocal dos Alves são destaques no Jornal da Ciência

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Os alunos de Cocal dos Alves (a 262 km de Teresina) foram destaque no Jornal da Ciência, um órgão da Sociedade Brasileira para o progresso da Ciência. Eles perguntam qual o que explica o fenômeno na pequena cidade do interior do Piauí. Confira a matéria na íntegra:

O que explica o fenômeno de Cocal dos Alves na Obmep?
 
Alunos de Cocal dos Alves (PI) lideram o ranking de medalhas de ouro da Obmep proporcionalmente em número de habitantes. A tendência é seguida por estudantes de Viçosa (MG), Quixaba (PE) e, lentamente, por alunos de escolas rurais.

Força de vontade, dedicação de professores e comprometimento de alunos com os estudos. Eis alguns dos motivos que explicam o fenômeno em Cocal dos Alves, uma cidadezinha piauiense com 5,2 mil habitantes, a maioria da zona rural, e que possui alunos recordistas de medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).


"Não existe milagre. Talvez o resultado seja explicado pela cobrança e dedicação de professores, combinadas com o interesse dos alunos pelos estudos", responde o professor Antonio Cardoso do Amaral, 32 anos, ao explicar a receita do conhecimento matemático dos alunos cocalalvenses que acumulam 10 medalhas de ouro desde o início da Obmep, em 2005.

Amaral é considerado o mentor de alunos campeões que saem das escolas Teotônio Ferreira (municipal), e Augustinho Brandão, única escola estadual de ensino médio da cidade, das quais ele é professor. Situada a 262 quilômetros da capital Teresina, a cidade tem a agricultura como principal atividade econômica e nem sequer possui campus universitário. O município possui 20 escolas públicas, incluindo a estadual, número, porém, considerado proporcional ao número de habitantes.

Segundo Amaral, os estudantes cocalalvenses depositam na Educação a expectativa de mudar de patamar financeiro, na tentativa de conquistar um emprego com remuneração razoável. "Aqui a Educação é uma das alternativas para crescer", destaca Amaral, citando seu próprio exemplo.

Historicamente, Piauí é um dos estados brasileiros mais pobres do País, com o segundo maior índice de analfabetismo (23,4%), atrás apenas de Alagoas (24,6%).

Mesmo com os contrastes socioeconômicos, os alunos daquela cidade conseguem concorrer em pé de igualdade com estudantes que moram nos grandes centros urbanos, onde geralmente existe mais facilidade no acesso ao conhecimento e à cultura de uma forma geral.

Histórico das premiações - Desde a primeira edição da Obmep, em 2005, até o ano passado, foram distribuídas 128 premiações aos alunos cocalalvenses. Dessa totalidade, 10 são medalhas de ouro; o restante se divide entre prata, bronze e menções honrosas, segundo levantamento do Jornal da Ciência com base em dados da Obmep.

Somente no ano passado, de um total de 25 premiações, esses alunos receberam três prêmios na categoria ouro, um a menos em relação a 2010 (4). O resultado supera alunos de várias capitais brasileiras, dentre as quais, Macapá (AP), Boa Vista  (RR) e Rio Branco (AC). É o mesmo número de medalhas de ouro conquistadas por alunos de cidades como Joinville (SC).

Modéstia à parte, Amaral afirma nunca ter sido "um bom" aluno de matemática. Ciências e português, até então, eram suas áreas prediletas do conhecimento. "Fui um aluno de capacidade mediana em matemática, nunca fui atraído por essa disciplina, nela minhas notas nunca ficaram acima de oito", recorda Amaral, que concluiu o ensino fundamental em escola filantrópica, o médio em escola pública e graduou-se em matemática em 2002 - com intuito de passar em concurso público - na Universidade Estadual de Parnaíba, a mais próxima de Cocal dos Alves. Amaral se especializou em matemática, na mesma instituição, e este ano ingressou no mestrado pelo programa Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat), na Universidade Federal do Piauí (UFPI).

"Talvez a minha dificuldade [de entender matemática] tenha me estimulado a correr atrás do conhecimento. Na faculdade me empolguei pela disciplina e depois procurei contribuir de alguma forma com o que aprendi", sentencia o professor.

Infraestrutura - Apesar de problemas socioeconômicos de Cocal dos Alves, Amaral disse que houve uma melhora significativa na região nos últimos sete anos, por exemplo, nas áreas de transporte público e de energia elétrica, ingredientes indispensáveis para acessar o conhecimento. Essas iniciativas coincidem com o aumento do número de estudantes cocalalvenses nas premiações da Obmep. Em 2005, por exemplo, no total foram 17 alunos premiados, mas nenhuma medalha de ouro.

Pelo fato de grande parte dos alunos das duas escolas de Cocal dos Alves ser da zona rural, de povoados e distritos, Amaral informa que os alunos tinham muita dificuldade para chegar às escolas, principalmente nos fins de semana, quando são realizadas aulas de reforço de matemática (de abril a outubro) para as olimpíadas de matemática.

Avaliação de especialistas 

Claudio Landim, diretor-adjunto do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), destaca que o desempenho de Cocal dos Alves é reflexo de iniciativas locais de professores e diretores "que fazem com que o desempenho dos alunos seja igual ao de alunos que frequentam as melhores" escolas do País. "Os dados da Obmep mostram ser possível ter escolas públicas de qualidade no Brasil. E a premiação de uns estimula outros estudantes", observa Landim, também coordenador-geral da Obmep.

Tendência nacional 

Outras escolas de cidades do interior do País esboçam destaque na premiação ouro nas tabelas da Obmep, como Viçosa (MG) e Sertãozinho (SP). Situada em Minas Gerais, Viçosa, com 72 mil moradores, tem forte tradição educacional e acumula 36 medalhas de ouro de 2005 a 2011 de uma totalidade de 302 premiações (incluindo menções honrosas).

No ano passado, alunos de Viçosa receberam 39 prêmios, sendo quatro na categoria ouro, e cinco em 2010. Os anos áureos dos alunos do município mineiro ocorreram principalmente em 2009, quando eles receberam nove medalhas de ouro. Outro exemplo é Sertãozinho, com 110 mil habitantes, em São Paulo, o estado mais rico do País, onde os estudantes reúnem sete medalhas de ouro de 2005 a 2011.


Fonte: Jornal da Ciência
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