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Carlinhos de Jesus volta ao palco após morte do filho

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Carlinhos de Jesus voltou aos palcos, cinco meses após a morte do filho, Dudu, com o espetáculo "Isto É Brasil", onde se apresentou em parceria com Ana Botafogo e dançarinos de sua companhia, nesta terça-feira (10) no Theatro Net Rio (antigo Tereza Rachel), em Copacabana, Zona Sul do Rio. Mas o retorno não foi nada fácil para o dançarino. Ele se emocionou ao falar sobre sua perda e contou como foi a estreia.

Carlinhos de Jesus (Foto: Marcos Serra Lima / EGO)

"Chorei muito. A recepção da plateia, no início do espetáculo, foi maravilhosa e eu estava tranquilo. Mexido, mas tudo bem. Depois da segunda coreografia é que comecei a entrar numa onda de emoção e me perdi. Errei marcações, o meu solo, que faço há anos... Tava demais! Ainda tentei respirar e me reerguer, mas não consegui. Foi muito forte. A gente se acha cascudo e forte, mas o palco deixa a gente mais sensível e vulnerável. Eu me dispo quando subo no palco", afirma o dançarino.

Como homenagem ao filho, Carlinhos queria incorporar um novo número, um pax de deux com Ana, no espetáculo, mas decidiu não levar a ideia adiante. No lugar dele, entrou uma dança alegre onde a bailarina se veste de "nega manhosa" - com direito a enchimento no bumbum e nos seios, além de uma grande peruca - e é disputada por quatro homens.

"A proposta do número novo era fazer uma homenagem ao meu filho. Seria uma canção lenta, profunda e bem emocionante. E se chamaria 'Pedaço de mim'. Mas resolvemos não fazer agora. Minha mulher e minha filha me convenceram a esperar um pouco mais. 
Resolvi aceitar a opinião delas porque não sabia como poderia reagir. Quero estar bem seguro quando levá-lo aos palcos. A nega manhosa, de alguma forma, também é uma homenagem a ele", explica.

Apesar da dor do luto, Carlinhos garante que não se incomoda em falar do filho. Ao lado de Ana, ele faz questão de mostrar fotos de Dudu na infância e na adolescência.

"Sinto saudade dele toda hora [Carlinhos fica com os olhos cheios d'água' e mostra foto do filho pendurada na parede de sua sala]. Toca uma música, e eu me lembro dele. Quando estou ensaiando algumas coreografias do 'Isto É Brasil', que eram de um musical em que ele e a irmã participaram, me emociono. Tudo me faz lembrar dele! Éramos muito grudados, e isso é difícil de apagar. O que sinto agora não é dor, é uma saudade imensa. Um vazio, um aperto no peito. Eu o visito sempre. Me dizem para não ir, mas me faz tão bem... Vou lá e rezo muito, converso com ele. Acredito muito em Deus, e isso me move. Um homem sem fé está incompleto. A religião mantém a razão", acredita Carlinhos, que está focado na filha, Taína, que casa em breve, e no neto.

O espetáculo
"Isto É Brasil" está em cartaz desde 2004, quando estreou no Teatro Rival, no Centro do Rio. A princípio, o espetáculo foi feito para ser apresentado apenas por um fim de semana, mas o sucesso foi tanto que os poucos dias viraram uma temporada. A situação se repetiu, aliás, em todos os locais por onde eles passaram.

"O espetáculo é a dança popular no palco. Não é autobiográfico, mas tem um pouco de mim ali. O Brasil é o país das possibilidades, é multifacetado. Você canta tudo, dança de tudo. Por que não misturar o clássico e o popular? Quis juntá-los para mostrar que é possível ultrapassar barreiras e para dar um tapa de luva de pelica em algumas pessoas.

Sofri muito preconceito no início da carreira! Fui discriminado sexualmente - diziam que eu era veado porque dançava - e socialmente - já fui convidado a me retirar de alguns salões de dança mais chiques do Rio de Janeiro", revela Carlinhos.

De volta ao cenário teatral após dois ou três anos parados, o dançarino e Ana comemoram a oportunidade, apesar da correria intensa. No momento, a bailarina está retomando seus ensaios no Theatro Municipal e está trabalhando no projeto de um espetáculo em São Paulo.

"Estou exausta, enlouquecida com a minha agenda, mas adorei voltar a trabalhar com Carlinhos. Quando recebi o convite na primeira vez, fiquei ansiosa, não sabia como ia ser. Mas sempre quis fazer o espetáculo. Antes eu era mais tensa, porque não sabia nada da dança de salão. Hoje em dia, sou muito mais relaxada e até improvisamos uns passinhos. Mas não muito!", diverte-se Ana Botafogo.

Por conta da parceria, os dois viraram grandes amigos. Durante a entrevista, o carinho entre eles era visível.

"Ana vai do clássico ao popular com a mesma leveza e maestria. Ela é a grande responsável por popularizar o balé. Vai para a avenida [Marquês de Sapucaí], para uma praça, se mistura com um bailarino popular... Isso é muito importante. Ela é muito especial", bajula Carlinhos, recebendo o sorriso da bailarina. "A gente não se conhecia muito antes do espetáculo, mas ficamos muuuito amigos. Toda minha família o ama. Foi um encontro."

Fonte: EGO
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